Sexta, 8 de julho de 2016
Da Pública
Agência de Reportagem e Jornalismo Investigativo
por Anna Beatriz Anjos / 7 de julho de 2016
Delegado da bancada da bala fez afirmação em discurso na Câmara; não há estudos, contudo, que mostrem essa correspondência
“As drogas são responsáveis por 90% dos crimes violentos no país” –
Delegado Edson Moreira (PR-MG), em discurso na Câmara no dia 28 de
junho
Falso
O deputado federal Delegado Edson Moreira (PR-MG) afirmou na Câmara
que 90% dos crimes violentos no Brasil são causados pelas drogas. A
declaração foi feita no contexto do Dia Internacional de Combate às
Drogas, celebrado em 26 de junho. O Truco no Congresso – projeto de fact-checking da Agência Pública, realizado em parceria com o Congresso em Foco – verificou que a fala do parlamentar é falsa.
Consultamos estudiosos da área de segurança pública para checar se
algum estudo ou levantamento de fato relaciona o uso e tráfico de drogas
à ocorrência de crimes violentos em nível nacional. A resposta foi
“não”, segundo Samira Bueno, diretora-executiva do Fórum Brasileiro de
Segurança Pública, Maria Gorete Marques de Jesus, pesquisadora do Núcleo
de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo (NEV/USP) e Rafael
Alcadipani, professor e pesquisador da Fundação Getulio Vargas.
Portanto, pode-se dizer, no mínimo, que a afirmação de Moreira não tem
base científica.
“Não conhecemos nenhuma pesquisa que faça essa relação de
causalidade. O que a gente percebe é que existe um senso comum nas
instituições policiais e também jurídicas que associam uma coisa à
outra”, explica Jesus. “Pelo que me parece, as tentativas que existiram
de fazer essa relação não identificaram essa conexão direta, então não
dá para afirmar categoricamente, muito menos [cravar] 90%, que é uma
porcentagem bem alta.”
Entramos em contato com a equipe de Moreira para saber a fonte do
dado citado durante o discurso em plenário. Segundo sua assessoria,
“nenhuma fonte específica” foi consultada, e o número utilizado pelo
deputado é fruto das situações vividas ao longo de sua atuação como
delegado de polícia.