Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

segunda-feira, 2 de abril de 2018

A Páscoa da Intervenção

Segunda, 2 e abril de 2018
Por
Aderson Sussinger*


Então estamos na Páscoa! A Páscoa que no universo da religiosidade e do simbolismo, (segundo a teologia), tem suas raízes no judaísmo, se reportando a liberação do povo hebreu escravizado 400 anos no Egito. Nada de coelhinhos ovos (caros) de chocolate... Enfim, a festa anual e lucrativa do comercio. A Páscoa no Brasil real da intervenção militar no Rio de Janeiro, com mais pobres, negros e negras sendo assassinados, em parte por balas oriundas do próprio Estado, sejam diretamente disparadas por agentes fardados, sejam aquelas explodidas pelo criminoso tráfico, (muitas destas “adquiriras” no próprio paiol da PM... ou do Exército, onde há muito mais...).
Estamos na Páscoa do pai que foi morto pela PM na Rocinha enquanto segurava o filho no colo (a última desculpa da PM é que o menino pode ter sido confundido com um fuzil...). Ilusão de óptica? Estamos na Páscoa da “sensação de paz“ para classe média da zona sul, da Barra da Tijuca, enquanto se pratica no Rio de Janeiro mais um estelionato eleitoral, desta vez sob a cor “verde oliva” do Exército Brasileiro, o mesmo que exterminou canudos, que promoveu o genocídio da guerra do Paraguai, e assassinou jovens guerrilheiros já rendidos, sabidamente, no Araguaia, decepando suas cabeças, jogando os corpos nos rios do alto de helicópteros... (e ainda insiste em tentar ocultar a memória, verdade e justiça). É mais um estelionato político, sob o mote da “Guerra às Drogas”, com vistas ao próximo pleito, a fim de que a “intervenção” seja discurso de campanha e de palanque da velha e da nova direita Fluminense e também de seus líderes nacionais.

Estamos na Páscoa em que desejam nos fazer crer que a “solução militar”, que “novos generais onipotentes”, seriam a saída salvadora para o Rio de Janeiro e para o Brasil, encobrindo-se pelo “esquecimento” da mídia o quanto foi corrupto, assassino e impune o regime militar brasileiro, assim como seus congêneres chilenos, argentino, uruguaio... Com a diferença que a imprensa não podia publicar seus crimes (porque estava amordaçava) e não havia sequer Ministério Público que se possa chamar de independente... Era a ditadura. E também havia páscoas durante o reinado dos generais: e eram páscoas também de assassinatos e de tortura, para o regozijo e proteção dos “cidadãos de bem”. Cidadãos de bens!

A ocupação militar da Maré que, meses antes, já havia gasto cerca de meio bilhão de reais, sem que trouxesse a tal “segurança” e dignidade para aqueles moradores. A intervenção militar que está de costas para a suja Baía de Guanabara, o Porto do Rio, os aeroportos, por onde entram os grandes carregamentos de drogas e armas, enquanto optam em fazer o espetáculo da “Guerra as Drogas”, com o assassinato diário da população, enquanto os capitalistas da droga estão em Miami, comendo chocolates em segurança.

* Aderson Bussinger, advogado, conselheiro da OAB-RJ, integra o MAIS - Movimento Por Uma Alternativa Independente Socialista. Mestre em Ciências Jurídicas e Sociais/UFF, colaborador do site TRIBUNA DA IMPRENSA Sindical, Diretor do Centro de Documentação e Pesquisa da OAB-RJ, membro Efetivo da Comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ. Membro Efetivo do Instituto dos Advogados Brasileiros-IAB.

Fonte: Tribuna da Imprensa Sindical