Quinta, 26 de abril de 2018
Por
Siro Darlan de Oliveira, desembargador do Tribunal de Justiça e membro da Associação Juízes para a Democracia.

As missas ficavam lotadas, tanto que a tradicional Igrejinha do Leblon foi ampliada para o grande templo que atualmente ocupa a esquina da Ataulfo de Paiva com José Linhares e as missas de hora em hora, ficavam lotadas com muita gente em pé. O Evangelho fala sobre o Bom Pastor que conduz as suas ovelhas. É possível que essa fosse a melhor analogia para se falar da necessidade de seguirmos o ensinamento de Jesus, mas nos tempos modernos tudo que não se deseja é ser rebanho dócil e obediente. A juventude de hoje deseja ser protagonista de sua história e esse protagonismo será muito iluminado pelas mensagens cristãs e fraternas tão carentes na sociedade do ódio e da indiferença.
Essa pode ser uma das muitas respostas a esse êxodo nos templos católicos. Outras razões podem ser enumeradas. Enquanto as portas dos templos são cercadas de grades para evitar a proximidade dos mendigos, enquanto a eucaristia é negada aos divorciados, aos gays e as prostitutas, Jesus abraçava e integrava analfabetos, cobradores de impostos, prostitutas a seu apostolado. A Igreja é Universal e não deve discriminar ninguém, onde estão as mulheres católicas senão nos mosteiros orando e fabricando hóstias e não contribuindo na administração da messe? Onde está o povo negro que não ocupa lugares de destaque na hierarquia da Igreja Católica?
Diante desse iminente ocaso, providências devem ser tomadas para abrir o Livro do Evangelho a todas as criaturas, sem reservas ou preconceitos. Os excelentes colégios católicos precisam ser democratizados e acolher negros e habitantes da periferia para que todos tenham acesso à essa excelente educação de qualidade. Eu mesmo sou um dos raros beneficiados por essa benesse, pois tive o privilégio de estudar de graça no Colégio Santo Agostinho. Daí porque meu coração vive inquieto como inquieto era o coração de Santo Agostinho, cuja conversão festejamos no dia 23 de abril.
Minha gratidão é imensurável, mas meu dever de colaborar para manter viva essa chama acesa pelo ideal cristão é muito maior. Temos um Papa que vive intensamente essa máxima de “Amar o próximo como a si mesmo”, mas nem todo Pastor tem a mesma liderança. O silêncio de Dom Orani Tempesta diante do assassinato da líder comunitária e ativista dos direitos humanos Marielle Franco não passou despercebido. A ausência de Sua Eminência nos funerais, nas manifestações de pesar ou um simples manifesto de dor aos familiares deixou a orfandade mais dolorida.
A ausência de uma missão apostólica mais incisiva nas comunidades empobrecidas, nos presídios e nos hospitais, e até mesmo nos cemitérios. Hoje achar um sacerdote para encomendar uma alma é quase uma loteria, ou tem que ser muito amigo do padre para obter essa graça. As Igrejas não podem ficar cercadas de grades para impedir a aproximação dos pedintes. Assim agiram os apóstolos que foram admoestados ao impedir que as crianças se aproximassem de Jesus. As Igrejas devem ser a referência para os pobres e desamparados. Porque há crianças nas ruas se ás obras de misericórdia são: Dar de comer a quem tem fome; Dar de beber a quem tem sede; Vestir os nus; Dar pousada aos peregrinos; Assistir aos enfermos; Visitar os presos e Enterrar os mortos? Porque as Igrejas não lideram campanhas para socorrer os necessitados? Porque não abriga os sem teto e sem-terra?
É Frei Jesus, sua reflexão me fez viajar longe. Mas é minha contribuição para atrair para Cristo os que estão debandando. A volta há de ser trilhar o caminho difícil, mas feliz da fraternidade e solidariedade.
Fonte: Blog do Sira Darlan