Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)
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domingo, 20 de outubro de 2019

De Jó a Henrique Vieira

Domingo, 20 de outubro de 2019
Por
Siro Darlan, desembargador do Tribunal de Justiça e membro da Associação Juízes para a democracia.

Após assistir o filme Coringa, sai do cinema pensando que o mundo estava no fundo do poço. A insensibilidade que discrimina, encarcera e mata as pessoas e que cria Coringas, me lembrou o Livro de Jó, quando tudo dava errado apesar do personagem bíblico continuar justo e clamando aos céus por justiça. Um amigo ao ver o filme, lembrou-se de um artigo que escrevi há quase vinte anos com o título: Como fabricar um bandido?

sábado, 12 de outubro de 2019

Recordando manifestações de solidariedade quando jogavam pedras.

Sábado, 12 de outubro de 2019
O Estatuto da Criança e do Adolescente completava 10 anos de vigência e a oposição à cidadania de crianças e adolescentes era violenta e preconceituosa. Fui ameaçado de ser compulsoriamente removido para outro Juízo quando recebi essa manifestação assinada por 109 servidores do Juizado:
“Desde 1991, quando assumiu o cargo de Juiz da 2ª Vara da Infância e da Juventude, Dr. Siro Darlan de Oliveira tem trabalhado incansavelmente para adequar a Justiça da Infância e Juventude aos preceitos do Estatuto da Criança e do Adolescente, lei com a qual se identificou desde a primeira hora e da qual é hoje uma espécie de símbolo em nossa Cidade e em todo o País.
Realizava toda semana audiência nas instituições de cumprimento de medida, constatando as terríveis condições que o Estado oferecia aos adolescentes infratores, dava-lhes voz, interessando-se não apenas pelos seus atos, mas por suas vidas e pelos motivos que os levava às portas da justiça. Trabalhou incessantemente pela implantação de práticas dignificantes, pelo acesso dos jovens autores de atos infracionais à educação, à saúde, ao trabalho e a todos os meios de ressocialização. Agindo provocativamente, porém em perfeita consonância com a nova lei, colheu de surpresa uma sociedade apática e indiferente, que naturaliza a criminalidade, compra a ideia da congruência entre pobreza e delinquência, nega o papel das injustiças sociais no engendramento das carreiras dos jovens infratores.

quarta-feira, 9 de outubro de 2019

OS FILHOS DO BRASIL

Quarta, 9 de outubro de 2019
Do Blog do Siro Darlan
Por Siro Darlan, desembargador do Tribunal de Justiça e membro da Associação Juízes para a democracia.
Há 29 anos o Congresso Nacional aprovou e entrava em vigor o Estatuto da Criança e do Adolescente. A Lei 8069/90 entrou em vigor no dia da criança, 12 de outubro, também o dia da Padroeira do Brasil Nossa senhora Aparecida. O Brasil entrava então no rol dos países civilizados que se adaptava à Convenção das Nações Unidas sobre os direitos da criança, definida como todo ser humano até os 18 anos. A expectativa era grande porque uma Nação que respeita suas crianças investe no futuro.

sábado, 28 de setembro de 2019

Siro Darlan: Agradecendo a solidariedade!

Sábado, 28 de setembro de 2019
Agradeço à multidão de pessoas e instituições que manifestaram solidariedade e estão me apoiando com mensagens de carinho e força. É por vocês, pelos direitos humanos e pela constituição que eu estou de pé e sigo lutando. Não vamos deixar a democracia acabar.

Agradecendo a solidariedade!


A Constituição garante a todos os brasileiros a inviolabilidade do lar. Mas, como alertou Rubens Casara, estarmos vivendo num estado pós-democrático, sem a vigência dos direitos de cidadania, suspensos desde o golpe de 2016.
Magistrados são perseguidos e processados por seus próprios tribunais diante de decisões ou opiniões. O judiciário perdeu, por atos persecutórios, a Desembargadora Kenarik Boujukian e a Juíza Raquel Braga e muitos não viram a gravidade da situação. Outros companheiros da Associação Juízes para a Democracia são perseguidos em vários Tribunais por serem garantistas.
Sempre me indignei com as invasões das casas nas favelas, a golpes de botinas, quando ninguém se incomodava. E agora foi a minha vez de sentir isso na pele: tive meu lar invadido por oito policiais federais e um procurador da justiça federal (o que ele fazia lá?) e sem a presença de um representante do Tribunal de Justiça, às 6 horas da manhã, com uma dúzia de canhões midiáticos, em frente ao prédio, voltados para minha casa! Nesse momento, tive certeza de que a democracia acabou. Essa é a violência contra a qual sempre me rebelei, mesmo antes de me atingir pessoalmente. 
O que queriam esses senhores? Não me foi dito. Apenas exibiram o mandado de busca e apreensão, assinado por um ministro do STJ, sem qualquer acusação formal. A violência era para me expor, humilhar e, principalmente, me calar. Muito simbólico que tenham recolhido computador e celular, me isolando de qualquer tipo de comunicação via internet e telefone. Cassaram minha palavra!
O que fiz de tão grave? Eu sei o que não fiz. Não fraudei licitação para construir prédios públicos ou concursos públicos para beneficiar amigos ou parentes; não adquiri imóveis em leilão de processos judiciais valendo-me de informações privilegiadas; não tenho nenhum familiar pendurado em cargos do Tribunal de Justiça nem me vali da corrupção dos governos anteriores para escalar degraus na carreira judicial.
O que fiz foi aplicar a lei em decisões judiciais fundamentadas durante o exercício de minha função em plantões, para os quais fui escalado pelo Tribunal de Justiça. E não cabiam recursos dessas decisões fundamentadas? Sim. Por que não entraram? Porque o Tribunal Midiático é mais rápido em atentar contra reputações.
Agora vamos aos fatos…
– Primeiro: Em meu plantão, recebi o caso de um suspeito de fraudar uma licitação em Resende. A lei determina que, antes de prender, o magistrado deve analisar se cabem medidas cautelares. Neste caso, cabiam e eu as apliquei. O réu, ao ser beneficiado com o alvará de soltura, foi filmado apanhando seus documentos no sindicato. Alegando que o réu estava destruindo provas, o Ministério Público pediu e o Juiz decretou nova prisão. Nova prisão, novo relator, novo habeas corpus. O segundo relator também soltou o réu.
– Segundo: Em outro plantão, um advogado com processo físico (não digital), pediu prisão domiciliar para seu cliente, por conta de uma doença grave, comprovada por dois atestados médicos. Novamente, apliquei a lei que afirma que a prisão é a última instância e concedi. O paciente foi transferido para uma clínica para tratamento. Na ocasião, os desembargadores de plantão não tinham acesso a serviço informatizado. Portanto, só após a decisão, descobri que meu filho, o advogado Renato Darlan, até três meses antes havia defendido o réu, que já tinha constituído outro advogado. Até o Presidente do Tribunal atestou em documento que eu não tinha como ter acesso a essa informação com os instrumentos do plantão.
O que fez o Desembargador relator? Anulou a minha decisão e mandou prender novamente o acusado. Ele foi encontrado e preso na clínica que estava recebendo tratamento. Aqui também cabia recurso, mas não houve. O que fez o Procurador geral de justiça? Representou contra mim, afirmando que eu havia soltado, no plantão, um miliciano que estava sendo assistido por meu filho. Duas inverdades: não soltei e não era cliente de meu filho, conforme atestado em vários documentos.
Esses são os fatos mas eles não foram interessantes para a mídia. O que valeu foi uma “colaboração premiada”, lá de Resende, onde o bandido colaborador, para se livrar da prisão, disse que “ouvira dizer que uma pessoa, em nome do Desembargador Siro Darlan, recebera a quantia de $50 mil reais para soltar Ricardo Abud”. Notícia requentada para emoldurar outra decisão minha, novamente em plantão, como descrevi acima.
Quem quiser, pode comparar: as minhas decisões são sempre no mesmo sentido, no plantão ou não. Meu pensamento jurídico é sempre em consonância com as leis e a Constituição. Mas, recentemente, tive a ousadia de revogar a prisão de dois pacientes por fato atemporal, fora do contexto. Foi a gota d`água para decretarem o meu silêncio, com o rótulo de “vendedor de sentenças”.
Além de ter minha casa violada, meu gabinete de trabalho – dentro do Tribunal de Justiça – foi violentado na presença do Presidente do Tribunal. Minhas decisões, sujeitas apenas ao escrutínio dos tribunais superiores, foram levadas para exame por policiais e promotores. Espero que tenham lido, na minha privacidade roubada, o que represento, o que escrevo e o que sou capaz de fazer e renunciar para estar e permanecer do lado que estou.
Como um “pau de arara” fui jogado do caminhão, mas, fazendo jus ao meu DNA de nordestino porreta, já subi de volta ao cavalo. Sei que outros tiros covardes virão, mas não me calarão.
Sinto muito pelos que estão sofrendo por essas injúrias, minha família e meus queridos amigos e amigas que acreditam em mim e seguem ao meu lado. A esses, reforço o compromisso de não me deixar abater. Ninguém vai manchar minha honra, conquistada em anos de trabalho duro e muitos sacrifícios. Em tempos de desrespeito aos direitos humanos, ninguém pode dizer-se verdadeiramente cristão sem ser subversivo.
Agradeço à multidão de pessoas e instituições que manifestaram solidariedade e estão me apoiando com mensagens de carinho e força. É por vocês, pelos direitos humanos e pela constituição que eu estou de pé e sigo lutando. Não vamos deixar a democracia acabar.
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Fonte: Blog do Siro Darlan

sábado, 14 de setembro de 2019

A pornografia nossa de cada dia

Sábado, 14 de setembro de 2019
Por Siro Darlan, desembargador do Tribunal de Justiça e membro da Associação Juízes para a democracia.

A pornografia nossa de cada dia
 O Estatuto da Criança e do Adolescente vai completar 30 anos de vigência e nunca foi tão citado como atualmente como ferramenta de proteção à infância. Crianças continuam sem direitos, sem famílias, sem respeito, sendo exploradas no trabalho infantil, em suas piores formas, prostituição infantil e trabalho no tráfico de drogas, sem acesso a uma educação de qualidade, nem alimentação. Mas, na linguagem bíblica, hipócritas e fariseus, ousam dizer que estão protegendo-as quando proíbem de ter acesso a leituras sem censuras.
A história se repete. Assim como naquele tempo crianças que queriam se aproximar de Jesus foram dele apartadas por apóstolos que ao invés de proteger as crianças, pessoas em desenvolvimento, queriam proteger Jesus que reclamava sua aproximação com a frase “Deixai vir a mim as criancinhas”, hoje aqueles que negam o respeito a seus direitos fundamentais afirmam que as estão protegendo mandando recolher livros. A história confirma que aqueles que queimam livros, também queimam pessoas. Foi assim com a Inquisição, foi assim com Stalin, foi assim com Hitler. É assim com os modernos Herodes.

quinta-feira, 5 de setembro de 2019

Habeas Corpus de Rosinha e Anthony Garotinho: Decisão proferida no Plantão do dia 3 de setembro de 2019

Quinta, 5 de setembro de 2019
Do Blog do Siro Darlan
por Siro Darlan


DECISÃO PROFERIDA NO PLANTÃO DO DIA 3 DE SETEMBRO DE 2019

PROCESSO Nº 0219083-49.2019.8.19.0001
PLANTÃO JUDICIÁRIO – 03 DE SETEMBRO DE 2019
DES. SIRO DARLAN DE OLIVEIRA
HABEAS CORPUS
IMPETRANTE :  DR.  VANILDO JOSÉ DA COSTA JÚNIOR OABRJ 106.780 RAIZA MOREIRA DELATE OABRJ 215.758 E TIAGO SOARES DE GODOY OABRJ 151618
PACIENTES:  ANTHONY WIILIAM GAROTINHO MATHEUS DE OLIVEIRA E ROSANGELA BARROS ASSED MATHEUS DE OLIVEIRA.
PROCESSO NO 0022583-68.2019.8.19.0014 JUÍZO DE DIREITO DA COMARCA DE CAMPOS DOS GOYTACAZES 2ª VARA CRIMINAL

                                                           DECISÃO  

                        Trata-se de ação constitucional de Habeas Corpus impetrada pelo Advogado DR. VANILDO JOSÉ DA COSTA JÚNIOR OABRJ 106.780, além de outros causídicos em favor de  Anthony Wiiliam Garotinho Matheus de Oliveira e Rosangela Barros Assed Matheus de Oliveira.
                        O Impetrante  trás a exame deste Tribunal diversas teses para apontar a ilegalidade da prisão dos pacientes, as quais deverão ser analisadas de forma mais detalhada pelo Desembargador  Relator  do presente “Writ” após a devida redistribuição pela e. 2ª Vice-Presidência encerrado o plantão judiciário.
                        Registre-se, que não cabe em sede de plantão judiciário discutir e se aprofundar teses doutrinárias e correntes jurisprudenciais, principalmente, no que tange ao mérito da conduta atribuída aos ora pacientes.
                        A questão imediata que merece ser enfrentada tange ao binômio necessidade/legalidade da prisão dos ora pacientes, e neste fundamento se foca a presente decisão.
                        Ab initio, enfrento a possibilidade de apreciação da presente liminar em sede de plantão judicial, sendo certo que a secretaria da Plantão Judiciário do TJRJ exarou nos autos que não existe como certificar a existência de impedimento ou suspeição deste Desembargador, e no caso em concreto s.m.j. inexiste nos autos qualquer óbice para exercer a jurisdição.
                        Os impetrantes trazem aos autos documentos relatando a dificuldade em ter acesso aos autos, alegando que se fez necessária a intervenção da Exma. Juíza Daniella Assunção da CGJ para que fosse garantido o acesso razão pela qual trouxeram a inicial e os documentos aqui acostados já no adiantar da hora e fora do expediente forense. 
                       A competência na apreciação do presente writ me parece incontroversa porquanto se trata de decisão de Juiz de Primeiro Grau que recebeu denúncia em face dos pacientes e outros corréus decretando sua prisão preventiva além de busca e apreensão quebra de sigilo de vasto material coligido durante a fase pré-processual.

quarta-feira, 7 de agosto de 2019

Nepotismo vinculante

Quarta, 7 de agosto de 2019
Por
Siro Darlan, desembargador do TJRJ e membro da Associação Juízes para a democracia.            
O professor Conrado Hübner Mendes, em brilhante artigo publicado na Revista Época chamou a atenção par a existência da figura do Juiz-Empresário onde aborda a proibição expressa na Constituição da Republica de magistrados exercerem outros cargos, além da única exceção prevista de uma matrícula no magistério. No entanto o noticiário tem sido farto vinculando magistrados e procuradores na venda de sua imagem de magistrado para ganhar muito dinheiro extra com palestras e conferências em detrimento de sua exclusividade judicante. Muitos sequer cumprem a obrigação funcional de comunicar o número dessas palestras aos órgãos fiscalizadores.
                                       
Essa prática além de antiética é inconstitucional e compromete a independência e a isenção dos julgadores. O Corregedor Geral de Justiça do Rio de Janeiro Desembargador Bernardo Garcez deu um passo à frente e determinou que um grupo de magistrados, licenciados de suas funções e devidamente remunerados para fazer cursos de aperfeiçoamento comprovassem que efetivamente cursaram os mestrados e doutorados no exterior e justifiquem porque ainda não defenderam suas teses, sob pena de fazer retornar aos cofres públicos as remunerações que lhes foram pagas.

quarta-feira, 10 de julho de 2019

O negro é lindo

Quarta, 10 de julho de 2019
Por
Siro Darlan, desembargador do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro e membro da Associação Juízes para a democracia.
É sempre muito bom um banho de cultura para oxigenar o pensamento e acreditar cada vez mais que é possível uma transformação pela educação. A França, berço da democracia moderna e que traz em sua história a mácula do escravagismo promove em um de seus principais museus, o Museu D`Orsay, uma exposição de modelos negros e resgata alguns personagens que fizeram parte do desenvolvimento cultural do povo francês ao apresentar e identificar personagens presentes nos quadros de pintores como Géricault, Manet e Matisse.
Logo na entrada do Museu vê-se, com destaque os nomes em neon desses principais personagens Madeleine, Joseph, Laure são alguns que até então anônimos, ganham destaque na exposição através dos pincéis de famosos pintores. Fiquei emocionado e, particularmente orgulhos ao saber que os produtores fizeram pesquisas históricas para identificar modelos negros como José, originário de Santo Domingo e que na França trabalhava como acrobata, ficou imortalizado na obra de Théodore Gèricault que se encontra no Museu do Louvre com o nome de “A balsa da Medusa”.
Já Manet, logo após a abolição na França, em 1848, pintou o célebre quadro Olympia, exibindo uma jovem branca nua, onde aparece com destaque uma empregada negra ao lado da cama, cuja identidade era até então ignorada, mas que os produtores da exposição a identificam como “Laure, uma mulher negra muito bela” como o próprio Manet havia escrito numa caderneta de anotações. Em uma nova versão do quadro o artista americano Larry Rivers, em 1970, inverteu as posições pintando uma empregada branca e a outra personagem em destaque negra.

Outra peça em destaque é o quadro rebatizado como “Retrato de Madeleine”, que antes era chamado de “Retrato de uma mulher negra”, exposto no Louvre e de autoria de Marie Guilhemine Benoist. A exposição é uma viagem na presença negra na França e em suas colônias, mas traduz a importância de se debater a igualdade entre todos os seres do planeta independente que qualquer tipo de diferença, sobretudo em tempos de imigração, misturas e miscigenação.
Quando concluía essa reflexão, recebo a visita saudosa de uma antiga amiga, dos tempos das atividades intensas para salvar vidas abandonadas e maltratadas. Uyara, uma linda mulher negra que vivia nos anos 90 nas ruas do Rio de Janeiro espalhando sua arte, poesia e teatro entre os meninos e meninas de rua. Uyara encenou uma peça chamada “Meninos da Candelária” de autoria Aurea Charpinel onde contava os dramas do abandono desses infantes pelas ruas e logradouros públicos, vítimas do abandono familiar e da ausência total de políticas públicas inclusivas.
Uyara sumiu todos esses anos porque sua inteligência, cultura e força de trabalho não cabia numa única Cidade. Casou-se com um suíço e foi viver na Europa com sua família. O Rio de Janeiro ficou mais pobre sem Uyara. Mas, eis que ela volta nesse momento de tantas perdas de direitos e volta a iluminar as causas sociais. Benvinda Uyara, nós precisamos de você.
Fonte: Blog do Siro Darlan

terça-feira, 4 de junho de 2019

O Moises do CRAD de Del Castilho.

Terça, 4 de maio de 2019
Do Blog do Siro Darlan

Por Siro Darlandesembargador do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro e Membro da Associação juízes para a democracia.
Não é de hoje que crianças são abandonadas, encontradas, abrigadas, adotadas, desamadas e amadas. Os irracionais não abandonam suas crias, humano sim. Muitos são os que mesmo acolhidos em suas famílias passam a vida inteira abandonados e nunca são adotados pelos pais biológicos. A história conta diversos casos de crianças perseguidas e abandonadas. A mais famosa é a de Moises, cuja mãe biológica vendo ameaçada a vida do bebê, coloca-o numa cestinha no Rio Nilo e sendo encontrado pela esposa do Faraó que o acolhe, ama e adota como herdeiro.
Essa criança muda a história da humanidade e conduz o seu povo à Terra Santa, salvando-o do cativeiro. Conheci a obra do CRIAD de Del Castilho. Sendo cristão não professo a mesma confissão desses personagens. Mas isso não muda em nada a qualidade dessa obra de caridade. Os pastores Celio e Michelle, dedicam-se ao apostolado com vítimas do abandono social das pessoas que se tornaram dependentes do crack. Tive a oportunidade de conhecer esse trabalho visitando com eles cracolândias onde as vítimas são convidadas a serem acolhidas na casa de seus bem feitores.

domingo, 17 de março de 2019

Uma lágrima nordestina pelo Rio

Domingo, 17 de março de 2019


Do Blog do Siro Darlan
Por Rafael Holanda

 Uma lágrima nordestina pelo Rio.

Silenciaram a voz negra que se tornava branca e cristalina no seu grito de paz. Silenciaram a esperança dos oprimidos que se tornavam forte por sua força.

Silenciaram o grito de guerra dos que em vida vivem uma vida sem sonhos, jogados nos mocambos da periferia, onde a melodia maior é o choro da fome.

Silenciaram a luta contra a descriminação, a luta contra as injustiças, a lágrima de cada dia que desce do morro perdido, sem mãos de apoio.

Silenciaram na forma mais vil do calar que é matando as sementes que germinavam por palavras as esperanças dos perdidos.

Silenciaram a alegria das favelas, dos menores abandonados, dos que vivem a pressão do viver nas mãos dos que viciam e matam.

Silenciaram o sossego com tristeza, ausência com lágrimas, porque mais que tudo isso haverá sempre uma bala perdida, e ninguém para responder. Rafael Holanda

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

Pedro, o sobrevivente

Sexta, 8 de fevereiro de 2019
Pedro, o sobrevivente.
Por
Siro Darlan, desembargador do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro e membro da Associação Juízes para a Democracia
No dia 7 de setembro de 1996, foi apresentado no Juizado da Infância e da Juventude uma criança recém-nascida encontrada na lata de lixo do Hospital Souza Aguiar, com setenta por cento do corpo tomado por queimaduras, eis que retirado do local em chamas. Ao receber a notícia, com a criança ainda hospitalizada, como era costume atribui a ela o nome de Pedro Souza Aguiar, por que estávamos em plena Semana da Pátria e em homenagem ao Imperador Pedro I, o proclamador da independência do Brasil, e sobrenome para reconhecer o local de origem onde foi encontrado.
Embora houvesse uma fila para adoção, difícil achar quem o quisesse nessas condições precárias de saúde. Mas milagres sempre acontecem até para quem é descrente. Uma médica cirurgiã plástica apresenta o pedido de adoção com seu marido. Pedro foi adotado, tinha uma família, e mais importante, muito amor e dedicação. Como na mitologia grega, essa mãe dedicada, “Tétis”, cuidou de “Hefesto” e, após 18 cirurgias plásticas reconstruiu seu filho, dando-lhe forma e dignidade.

segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

Carta da criança Thiago, hoje deve ter uns 28 anos . . .

Segunda, 31 de dezembro de 2018
Por Siro Darlandesembargador do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro e Membro da Associação Juízes para a democracia.

Hoje encontrei essa cartinha que recebi de uma criança e transcrevo como recebi:
Rio 12 de novembro de 1996.
Prezado Dr. Sirio Darlam
Boa tarde. Estou escrevendo esta simpre cartinha para um desabafo meu paizão Dr. Sirio. Até hoje o senhor foi o meu paizão i toda as crianças. Obrigado por tudo que o senhor faz pelas crianças brasileira que foram abandonadas pelos pais. Nós não nascemos para sofrer no orfanato pelos pais sem juízo que bota os filhos no mundo i não tem juízo. Obrigado pelas pessoas que cuidarão do meu processo i que mim ajudaram muito para eu levar o nome dos meus pais adotivos. Agradeço muito a eles que adotaram. Eu esperava muito por esse dia orava todos os dias para Deus mim da esta bênça. Quando a minha mãe recebeu o telegrama era 10 minutos para as 16:00 horas, e eu falei para minha mãe que este telegrama era problema do meu registro que tinha saído. Eu quero tudo de bom para o senhor e sua família, e todos do juizado da infância, juventude do Rio de Janeiro. Agradeço por todos aqueles que mim ajudaram. Vai ficar guardado dentro do meu coração. Um dia eu vou chegar aí formado e falar para todos vocês principalmente para o senhor ficar orgulhoso confio em Deus. A professora já até falou para meu pai que eu já passei de ano a 2ª série. A minha professora é muito carinhosa comigo que eu não pareço criança de orfanato in relação as outras crianças. A dona Nária e a professora dona Elaine é a diretora e Dona Katia a vice diretora. O senhor mi desculpa pelo desabafo e que eu pedi a minha mãe para eu escrever esta cartinha para o senhor i o senhor guarde como lembrança com muito carinho no seu gabinete e do seu filho que o senhor tinha? Mim fararam quando estive na sala do senhor, filho de consideração das crianças um abraço Dr, Sirio.

Thiago
Onde quer que você esteja querido Thiago, guardei não apenas sua cartinha tão carinhosa, mas você e tantas outras crianças cujas vidas ajudei a mudar para melhor em meu coração. Se você tiver lendo querido Thiago, me procure. Quero muito saber de sua vida. Feliz 2019.

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Fonte: Blog do Sira Darlan

sexta-feira, 31 de agosto de 2018

Igualdade para as mulheres

Sexta, 31 de agosto de 2018
Por
Siro Darlan, desembargador do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro e membro da Associação Juízes para a democracia

Igualdade para as mulheres

Inspirado pela grandiosidade dos arranha céus de Chicago, sonhei , não sei porque, com os direitos das mulheres, talvez por ser aqui a terra de Barac Obama. Há dias, a Igreja Católica celebrou Santa Mônica, uma mulher especial que no século IV através de sua tenacidade e dedicação de mãe e mulher forjou o mais Santo dos Sábios e o mais Sábio dos Santos, Santo Agostinho. Mônica se impôs numa época em que as mulheres ainda eram invisíveis, e venceu pelo cuidado, pela dedicação de mãe e fortaleza de mulher.

Pensei nas milhares de mônicas que vivem pelas ruas das grandes cidades do Brasil cuidando de seus filhos, muitas delas, já os tendo perdidos, procuram desesperadamente resgatá-los. Muitas dessas crianças pelas suas condições sociais, raciais, condenadas desde que nascem ao preconceito e criminalização. Lembrei das mônicas que tiveram seus filhos assassinados nessa guerra da elite contra os pobres, presos como as māes ativistas do Projeto Moleque. Lembrei da māe de Marielle Franco condenada a viver sem sua filha, essa mulher do povo destinada a lutar pelos direitos de seu povo.

quinta-feira, 7 de junho de 2018

O buraco é mais embaixo

Quinta, 7 de junho de 2018

Por

Siro Darlan — desembargador do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro e membro da Associação Juízes para a democracia.


Enquanto a “intervenção militar” faz turismo no Rio de Janeiro confundindo Havaí com Haiti, a criminalidade aumenta e o tráfico de drogas bate recorde em arrecadação com o preço da droga crescendo no mercado dessa guerra sem fim com mortes de civis e policiais inocentes úteis para uma guerra inútil. O Tribunal de Justiça do Rio anuncia que concluiu o cadastro dos detentos do Sistema Penitenciário do Estado. Não eram 52 mil como anunciava o SEAP e sim 56 mil presos, uma insignificante diferença de 4 mil pessoas (?) que não faz qualquer diferença nesse inferno de indiferença. O STF já declarou que se trata de um “estado permanente de inconstitucionalidade. Mas isso também não quer dizer nada num país em que houve um golpe para derrubar uma Presidente eleita e nenhuma instituição republicana reagiu para garantir o estado democrático de direito.
Os dados são preocupantes, talvez mais do que os da Síria que está em guerra. O ano ainda não chegou à metade e já se contabilizam 54 policiais mortos, sem falar no sofrimento dessas famílias. Quantos civis inocentes, ninguém conta, sobretudo pela origem desses cadáveres, tratados como coisas descartáveis, muitos de inocentes crianças voltando de suas atividades escolares, e até mesmo dentro das escolas. Mas a contabilidade do Tribunal revela dados ainda mais preocupantes. São 54,1 mil homens presos, e 2,2 mulheres. Enquanto a média nacional é de 42% de presos provisórios, o Rio de Janeiro contou 52% de presos provisórios, presos sem sentença, mas presos provisoriamente e desnecessariamente. Sabe por que? Porque 65% receberão penas para cumprimento em liberdade ou serão absolvidos. Mas estão presos…

domingo, 27 de maio de 2018

A Saúde da Justiça

Domingo, 27 de maio de 2018
Por Siro Darlan, desembargador do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro e membro da Associação Juízes para a Democracia.
Nos tempos atuais nenhuma outra instituição está mais precisando de tratamento do que a justiça do Brasil. Os índices de desaprovação e desconfiança nesse poder da república estão mostrando a necessidade de tratamentos com fortes doses de respeito à Constituição e às leis que juramos cumprir e fazer cumprir. Na busca desse tratamento a Escola da Magistratura do Rio de Janeiro firmou convênio com a Fundação Osvaldo Cruz, centenária instituição de pesquisa e de ensino que tem como objetivos a promoção da saúde e o desenvolvimento social, gerar e difundir o conhecimento, de formação e qualificação de recursos humanos, com 118 anos de serviços prestados à sociedade brasileira e reconhecida internacionalmente por seu trabalho de excelência.
Estávamos no caminho certo. Contudo, repentinamente e imotivadamente, sem qualquer respaldo acadêmico ou corporativo, um ser desperta das trevas e denuncia o Convênio para o qual havia reiteradamente convidado os magistrados para que fizessem o Mestrado em Saúde e Direitos Humanos, e em razão de sua insistente divulgação obteve 70 inscrições gerais. Realizadas a seleção daqueles que preenchiam os requisitos do Edital público, sobraram 24 que se submeteriam às provas de conhecimento e entrevistas. O Diretor atual, autoritária e arbitrariamente, sem ouvir o Conselho Consultivo da EMERJ, essa igualmente respeitável escola de formação dos magistrados, rompe na véspera das provas o Convênio deixando todos os inscritos e pré-aprovados magistrados indignados e sem rumo.
Felizmente, a FIOCRUZ resolveu manter a palavra empenhada por se tratar de entidade pública da maior seriedade e manteve o Mestrado que está sendo realizado, apesar das forças ocultas que não desejam a independência dos magistrados pelo conhecimento, mas seu agrilhoamento pela troca de favores para promoções e designações dos “eleitos”, usando como moeda de troca a coisa pública que administram sem prestar contas.
Essa doença institucional precisa ser combatida para evitar a desconfiança nos agentes de um poder que sempre foi a última esperança do povo para a garantia dos direitos fundamentais, do equilíbrio numa sociedade mais desigual do planeta. Hoje somos responsáveis não pelo respeito às normas constitucionais porque essas foram relativizadas para atingir os “inimigos circunstanciais” eleitos em cada processo. Quando chamado a garantir o respeito às normas constitucionais respondendo indicando a força policial e armada como garantia para o exercício da cidadania. Temos nitidamente um lado, deixando de sermos imparciais e o equilíbrio da balança. Decide-se com medo das reações das maiorias amordaçadas pelos poderosos e pela mídia manipuladora.
Portanto se o conceito de saúde inclui viver numa sociedade justa, é mais que urgente tratar-se da saúde do judiciário para que volte a ocupar seu lugar numa democracia de contra majoritário poder capaz de garantir direitos e esperança de uma sociedade mais justa e igualitária.

Fonte: Blog do Siro Darlan

segunda-feira, 30 de abril de 2018

Uma visita à Rocinha

Segunda, 30 de abril de 2018
Por
Siro Darlan, desembargador do Tribunal de Justiça e Membro da Associação Juízes para a Democracia.
Recebi um convite da Associação de Moradores da Rocinha para debater sobre o “Extermínio de Lideranças Femininas” com a Professora da Universidade do Canadá Susan Boyd e as lideranças femininas da Rocinha. A chegada numa sexta-feira à tarde foi deslumbrante. Subindo de carro pela Rua Ápia já causa um impacto impressionante de como a localidade pulsa. São 200 mil habitantes subindo e descendo o morro o que obriga o carro a seguir atrás das pessoas que andam no meio da rua a pé, de moto, de bicicleta, e as pessoas ditam a velocidade do carro como vi algumas vezes em algumas cidades da Índia. O que parece caótico, funciona maravilhosamente. Pessoas transitam em meio a um mercado surpreendente com quatro agências dos principais bancos do país, supermercados, lojas de eletrodomésticos, escolas públicas e privadas. E no meio do povo soldados fortemente armados fazendo seu trabalho de policiamento.
Ao chegar no topo da rua, desço do carro e tenho que retornar três Travessas, porque o carro não entra nelas, até encontrar a Travessa Palmas, onde fica a sede da Associação dos Moradores. Esta fica num prédio onde só sobe as escadas quem está em bom estado físico, e mesmo assim o local parece um formigueiro de pessoas que entram e saem à procura da solução dos mais variados problemas, desde a busca de documentos, até os conflitos de vizinhos e ajuda para emprego e vagas nas escolas, passando pela busca de melhoria de habitação. Pensei que bom, o poder público está atuando aqui. Engano meu. Tudo é resolvido, ou tenta-se resolver através da solidariedade dos moradores. Para a solução dos conflitos, zero da presença do judiciário, mas conheci duas moradoras treinadas e formadas em mediação de conflitos pela Defensoria Pública e pelo Tribunal de Justiça. Elas atuam, substituindo o poder judiciário, na solução dos conflitos e são respeitadas como eram os Pagés.

quinta-feira, 26 de abril de 2018

O Bom Pastor

Quinta, 26 de abril de 2018
Por
Siro Darlan de Oliveira, desembargador do Tribunal de Justiça e membro da Associação Juízes para a Democracia.

Domingo foi dia do Bom Pastor e o padre Frei Jesus, diretor do Colégio Santo Agostinho começou sua reflexão trazendo um tema muito preocupante. Indagava porque países antes celeiros de vocações religiosas, como Itália, Espanha e Portugal estava reduzindo tão drasticamente o número de fiéis católicos? Esse fenômeno está ocorrendo em todo mundo. Quais seriam as razões? Frequento essa mesma Paróquia há mais de 60 anos, fui aluno bolsista do Colégio Santo Agostinho numa época em que havia mis de duas dezenas de padres espanhóis administrando o colégio e a Igreja. Hoje são pouco mais que meia dúzia.

segunda-feira, 5 de março de 2018

Mensagens de esperança

Segunda, 5 de março de 2018
por
Siro Darlan desembargador do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro e membro da Associação juízes para a democracia.

Gosto muito de cinema, mas quando a mensagem é positiva a diversão fica muito mais prazerosa. Dois filmes me chamaram a atenção pela reflexão que o tema nos induz: Pantera negra, que é uma bela novidade nas telas quando os protagonistas negros são mostrados na sua essência humana, em igualdade de condições, não como escravos, ou serviçais e sim super-heróis capazes de produzir desenvolvimento e progresso para a humanidade.

terça-feira, 28 de novembro de 2017

A Justiça em números

Terça, 28 de novembro de 2017
Siro Darlan, desembargador do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro e membro da Associação Juízes para a democracia.

Próximo de encerrar mais um ano de trabalho o Conjur lança mais uma vez essa importante Revista do Anuário da Justiça do Rio de Janeiro. Talvez devêssemos ficar orgulhosos por mais uma vez o Tribunal do Rio de Janeiro despontar como o mais produtivo, mas a situação do povo do nosso Estado marcado por uma grave crise financeira, moral e institucional não nos permite comemorar nenhum feito. Se é verdade que temos dado maior espaço para os pobres que representam 65% dos demandantes com acesso à justiça gratuita e a assistência da defensoria pública, não temos o que festejar na área criminal diante do quadro de superlotação do sistema carcerário.

segunda-feira, 30 de outubro de 2017

Criminologia dos indesejáveis

Segunda, 30 de outubro de 2017
Siro Darlan, desembargador do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro e Membro da Associação Juízes para a Democracia.

O ódio está no ar. Hoje qualquer reação das minorias diante do poder de coação e criminalização dos hipossuficientes são tidas como absurdo. Foi o que aconteceu quando do anúncio do Congresso de Criminologia, Direito e Processo Penal retratado na arte de Carlos Latuf com o Estado Policial espancando um trabalhador. A reação foi de condenação à interpretação artística dessa violência real e inegável contra o povo pobre da periferia, os negros, gays e lésbicas. Quem matou Patrícia Acioly com 21 tiros? Quem matou Amarildo? A primeira representando o estado comprometido com o direito a exigir o respeito às leis e o segundo representando a opressão que sofre o povo trabalhador.