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(Millôr Fernandes)

domingo, 12 de maio de 2024

RECONHECIMENTO —Frente Polisário reivindica criação de uma embaixada do Saara Ocidental no Brasil

Domingo, 12 de maio de 2024

Sessão solene na CLDF comemorou os 51 anos da organização política que luta por independência e contra a invisibilidade

Rafaela Ferreira
Brasil de Fato | Brasília (DF) | 10 de maio de 2024

Durante sessão solene, nova diretoria tomou posse da Associação de Solidariedade e pela Autodeterminação do Povo Saaraui - Rafaela Ferreira

A Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) realizou, nesta sexta-feira (10), uma sessão solene em comemoração aos 51 anos da Frente Polisário, que representa a luta pela autodeterminação do povo da República Árabe Saaraui Democrática, conhecida como Saara Ocidental. Na ocasião, representantes da organização e parlamentares reivindicaram a criação de uma embaixada do país no Brasil.

Atualmente, 82 países reconhecem a independência do Saara Ocidental. Na América Latina, o Brasil é um dos poucos a manter uma posição de neutralidade, junto com a Argentina e o Chile. “Não faz sentido sermos um dos poucos países da América Latina a não reconhecer esses povos. Essa decisão vai além de um reconhecimento formal, é para reconhecer a luta desse povo pela sua libertação", disse o deputado distrital Max Maciel (Psol).

De iniciativa do parlamentar, ao Brasil de Fato DF, Maciel também informou que a sessão foi uma forma de chamar atenção para o Distrito Federal para uma situação internacional que acontece. Além de homenagear um movimento político ainda pouco conhecido no Brasil e lançar luz em um problema geopolítico.

“A nossa busca é fazer com que as Casas Legislativas, no Brasil, comecem a sensibilizar o conjunto dos parlamentares que são solidários às lutas internacionais e anticapitalistas para que o Brasil reconheça o povo saaraui e a República Democrática Saraui Ocidental”, disse. “Ter uma representação é um reconhecimento. Uma representação pode ser algo simbólico, do ponto de vista diplomático, mas para o povo, não. Ser reconhecido por um país é entrar na agenda internacional”.

Durante a sessão, também foi entregue ao embaixador Ahamed Mulay Ali Hamadin uma moção em sua homenagem. Em resposta, o representante internacional do Saara Ocidental deu, ao deputado, um diploma de reconhecimento pela sua “valiosa participação e contribuição nas atividades de solidariedade ao povo saraaui”. Além disso, também tomou posse, nesta manhã, a nova diretoria da Associação de Solidariedade e pela Autodeterminação do Povo Saaraui (ASAAURAUI).


Segundo a ex-deputada distrital e federal e presidente da Associação de Solidariedade com o povo do Saara Ocidental, Maria José Conceição, conhecida como Maninha, a luta desta nação entrou em pauta em meados dos anos 1994 no Brasil. “A partir de 2002 e 2003 começamos a receber as representações da Saara e da Frente”, afirmou. Maninha ainda destacou a necessidade de uma rede de solidariedade para reconhecer como legítimo os representantes da nação.

Sessão também prestou homenagem ao embaixador Ahamed Mulay Ali Hamadi com entrega de moção de honra / Foto: Rafaela Ferreira

A última colônia da África

Durante a sessão solene, Ahamed Mulay Ali Hamadi, também contextualizou a questão histórico-política da Saara Ociental. “Há 51 anos atrás, nasceu a Frente Polisário, movimento do povo saaraui que se viu obrigado a pegar as armas para combater, primeiro, o colonialismo espanhol. O nosso povo buscou fazer negociações com o colonialismo pela nossa independência. A resposta espanhola foi o massacre contra a pacífica manifestação de 1970, que deixou dezenas de mortos, centenas de feridos e encarcerados.”


Em 1975, a República Saaraui foi fundada, após conquistar sua independência da Espanha. Depois de expulsar os espanhóis, o povo saaraui passou a lutar contra a invasão do Marrocos, que busca anexar seu território de cerca de 266 mil km², no norte da África, rico em fosfato e com vasta costa marítima voltada para o Atlântico.

Atualmente, cerca de 600 mil pessoas resistem à invasão do Marrocos na Saara Ocidental, sendo 260 mil nos acampamentos de refugiados na Argélia, 200 mil no território liberado e outros 100 mil no exílio.


Para Maninha, o conflito no território ainda é ignorado pela sociedade. “Essa é uma guerra esquecida por todo mundo, se fala da guerra da Ucrânia e da questão na Palestina, mas o Saara Ocidental sempre se manteve esquecido”, disse.

Ao Brasil de Fato DF, o embaixador completou: “Temos falado sobre o trabalho para fazer com que o presidente Lula faça o mesmo para o povo saaraui como fez para o povo da Palestina, porque são as mesmas histórias. São as mesmas lutas. Nós, contra o Marrocos, e nossos irmãos palestinos contra Israel”.


Edição: Márcia Silva