Sábado, 18 de dezembro de 2021
– Notas sobre relatório publicado pela Escola de Guerra Económica, de Paris
Daniel Vaz de Carvalho*
1 - O desígnio imperial dos EUA
Em outubro de 2021, a Ecole de Guerre Economique, uma escola superior de referência em França que tem recebido sucessivos prémios pelo seu programa MBA Strategie et Inteligence Economique, publicou um relatório intitulado "Comment les Etats-Unis contribuent-ils à affaiblir l’économie française"?, no qual participaram 25 académicos, sob a coordenação do diretor da EGE, Christian Harbulot.
John Perkins no seu Confessions of an Economic Hitman descreveu as estratégias militares e políticas, em sentido estrito, do imperialismo norte-americano. Neste texto, "Comment les États-Unis contribuent-ils à affaiblir l’économie française?" a análise incide sobre os planos económicos, sociais e, de uma forma abrangente, também políticos. O seu interesse reside em que tudo o que o se nele se expressa, embora visando situações e casos ocorridos em França, tem aplicação global. Trata-se de uma aprofundada análise sobre as estratégias dos EUA, para garantirem o domínio sobre as outras nações.
A Europa é um dos pilares vitais de uma grande estrutura colocada sob a égide dos EUA e que pretende abranger toda a Eurásia. Os americanos não veem as nações europeias como parceiras, mas como "vassalos", para usar palavras de Brzezinski. (8) Um exemplo das escolhas estratégicas dos EUA foi o cancelamento do contrato de submarinos franceses para a Austrália, revertido para os EUA, fazendo com que a França perdesse o maior contrato de armas de sua história, impondo estas questões no debate público" (8)
Cada sociedade é construída sobre mitos compartilhados. No caso dos Estados Unidos, as narrativas que lhes conferem um papel histórico no mundo, são um elemento-chave do seu imaginário coletivo e estruturante. As ações dos EUA são apresentadas como parte de uma “luta pelo bem" tendo o objetivo de cumprir uma missão histórica (divina) pela humanidade, perspetiva que justifica o uso todos os meios. Esta visão coloca-os como uma nação à qual outros são chamados a se alinhar. Com o fim da União Soviética, anunciou-se o fim da história e a americanização completa do mundo em que qualquer refratário é neutralizado militarmente ou por meio de leis extraterritoriais. (10)
2 - Estruturação da ordem mundial
Os EUA estruturaram a ordem mundial de acordo com a uma ideologia estabelecida ao serviço dos seus interesses. O texto salienta como um dos principais "slogans" da mobilização americana o Make the World Safe for Democracy. Além disto, o seu domínio no campo económico serviu-se da livre circulação de bens e da redução dos limites ao comércio, nomeadamente alfandegários." (13)