Quarta, 21 de julho de 2021
Mourão e João Lourenço, presidente de Angola, João Lourenço| Foto: Romério Cunha/ VPR
Beto Almeida*
O General Mourão foi indevidamente encarregado, pelo Presidente Bolsonaro, de fazer gestões junto ao presidente de Angola, João Lourenço, em favor dos interesses da Igreja Universal, empresa que foi expulsa de solo angolano por lavagem de dinheiro. O vice-presidente brasileiro ainda solicitou a mandatário angolano que recebesse uma delegação parlamentar brasileira, chefiada por um parlamentar que é bispo, para, de algum modo, evitar que a punição soberana do estado angolano fosse cumprida.
Além do evidente rebaixamento do cargo de vice-presidente da república às funções de operador em favor dos interesses de uma empresa cuja matéria-prima é a circulação manipulada da fé, mas é possuidora de meios de comunicação (televisoras, rádios, editoras, jornal, gravadora de discos etc), a gestão feita por Mourão constitui-se em lamentável ingerência em assuntos internos de estado soberano, com o qual o Brasil possui larga e expressiva tradição de amizade, e, também, significativas ações de cooperação.
Estatizante X Neoliberal
É possível que o General Mourão, que durante a campanha eleitoral, em programa na Globo News, definiu-se como um “anti-Geisel”, explicando que considerava o ex-Presidente brasileiro “um estatizante”, enquanto ele era neoliberal – não tenha sabido valorizar a importância que o MPLA, partido a que pertence o presidente Lourenço, atribui ao mandatário gaúcho. Foi o governo do Presidente Geisel o primeiro a reconhecer a Independência de Angola e o governo do Presidente Agostinho Neto, em 1975, quando a nação angolana ainda lutava para expulsar o exército da África do Sul, então sob o regime do Apartheid.