Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)
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domingo, 9 de agosto de 2020

Participação popular em prol do meio ambiente no DF

Domingo, 9 de agosto de 2020
Por
Salin Siddartha


Não é possível, no século XXI, conceber gestão pública que não priorize o desenvolvimento sustentável e a defesa do meio ambiente. Torna-se fundamental criar as condições para inserir crescentemente a questão ambiental no universo da gestão local, principalmente em relação à dinâmica das políticas sociais, haja vista que a crise ecológica e a crise social são alimentadas por mecanismos idênticos.

O quadro socioambiental que caracteriza o Distrito Federal revela que as ações das pessoas sobre o meio ambiente estão causando impactos cada vez mais complexos, tanto em termos quantitativos quanto qualitativos, entretanto há um fraco nível de adoção de práticas de gestão ambiental no DF. Urgem novas práticas organizacionais e políticas públicas de desenvolvimento sustentável para que se inverta a tendência atual. Diante das transformações havidas na cidade, é importante criar novos sistemas sociais de adaptação transmissíveis às novas gerações. A descontinuidade administrativa impacta profundamente a gestão ambiental, razão por que o envolvimento da população em um processo participativo de discussão e implementação da gestão do meio ambiente, em conjunto com o Ministério Público, deve ser construído como instrumento de planejamento ambiental com a participação da sociedade para que, pela cobrança dos organismos comunitários e das instituições, com base em acertos de participação paritária coletiva, se elimine a descontinuidade.

No Distrito Federal, o meio ambiente tem-se revelado um drama que merece ser discutido coletivamente no nível das comunidades locais. Afinal, não é mais viável que o respeito ao meio ambiente seja controlado por algumas famílias e chefetes políticos, já que o equilíbrio ecológico é bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida.

Para que a gestão ambiental seja bem sucedida, é necessário que ocorram mudanças nas atitudes, nos padrões de comportamento e na própria cultura das comunidades. Para alcançar o compromisso das pessoas com a melhoria da qualidade ambiental, é preciso que elas se percebam como parte integrante desse processo, tendo acesso a conhecimentos básicos sobre meio ambiente que as auxiliem na identificação das principais fontes geradoras de impactos ambientais. Motivar e capacitar a população para a adoção de ações preventivas é um importante instrumento da gestão ambiental que leva os moradores a assumir uma postura proativa em relação ao meio ambiente. É uma questão de educação ambiental que crie uma mentalidade cidadã suficiente para perpetuar-se em moldes de interiorização social e, por que não, psicológica em cada indivíduo.

Existe uma lacuna entre teoria e prática ambiental que deve ser eliminada e substituída por uma luta ética em prol da preservação do meio ambiente, a ser promovida desde a base do poder local. Essa luta ética tem de espelhar-se na participação crítica, na vontade de transformar a realidade opressora dos sujeitos locais em um marco político e legislador. São princípios éticos que alertem para outros direitos da multiplicidade da vida, ampliando a defesa além dos seres humanos.

A política ambiental, à luz da construção de uma nova cidadania, exige que se descentralize a agenda sobre o assunto, com tomadas de decisões pelas esferas do poder local, facilitando e estimulando a participação dos entes comunitários em uma gestão democrática participativa. Desse modo, o que for feito no ambiente local terá reflexo no global, até mesmo porque as questões ambientais são mais bem tratadas na esfera local.

Uma política ambiental na Capital da República pressupõe a integração da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e dos órgãos a ela vinculados com as Administrações Regionais. Essa política integrada e participativa implica a despoluição de dejetos, a reformulação da rede de águas pluviais – que, por sinal, se encontra defasada, pois é a mesma existente desde o início do Distrito Federal ou desde o início de cada cidade-satélite, o que acarreta enchentes e alagamentos cada vez maiores em cada estação das chuvas. Significa um programa de arborização urbana e manutenção de áreas verdes, um programa de conscientização da população e de educação ambiental para a rede pública de ensino. Uma política de gestão dos resíduos sólidos que promova a coleta seletiva em todo o DF, a reciclagem e a respectiva recuperação das áreas degradadas pelo antigo lixão e pelo aterro sanitário, especialmente no tratamento de chorume (no final do ano passado, houve até vazamento de chorume no aterro sanitário, em Samambaia) e na retirada de efluente bruto armazenado no aterro; uma política que proteja as nascentes, com participação da população local e dos agricultores locais.

Cruzeiro-DF, 6 de agosto de 2020

SALIN SIDDARTHA

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Este artigo foi publicado originariamente neste domingo (9/8) no Jornal InfoCruzeiro

sexta-feira, 17 de julho de 2020

O comprometimento das áreas de vegetação nativa do DF

Sexta, 17 de julho de 2020
Por
Salin Siddartha

MÚSICA INCIDENTAL PARA OUVIR, ENQUANTO SE LÊ O TEXTO:
“CHEIRO DE MATO” – FÁTIMA GUEDES https://www.youtube.com/watch?v=lc1CGgeOAJA

Situado na região central do bioma do cerrado, o Distrito Federal tem sofrido constantes impactos em áreas de mananciais, seja pela extinção das matas de galeria ou pela poluição dos recursos hídricos, em especial pela expansão urbana desordenada. (Inclusive, já se precisa ampliar a captação de água, buscando-a em regiões cada vez mais distantes.) 60% da área original ocupada pelas matas de galeria, no DF, já foi substituída por outros usos; as unidades de conservação vêm tornando-se ilhas de vegetação limitadas que se sujeitam à introdução de plantas invasoras e ao aumento da frequência de incêndios.

O atual modelo hegemônico de produção no setor primário e sua forma de ocupação do espaço territorial rural comprometem, cada vez mais, as áreas de vegetação nativa e, consequentemente, toda a biodiversidade do ecossistema. A fronteira agrícola do cerrado teve sua ocupação efetivada dentro dos padrões do complexo agroindustrial, acarretando custos sociais, com poluição ambiental e degradação das áreas rurais.
Uma boa gestão do espaço florestal e agroflorestal pode melhorar a multifuncionalidade da floresta brasiliense, garantindo sua valorização econômica e ambiental, de forma a tornar a floresta mais estável, resiliente aos incêndios e ataques de agentes bióticos nocivos, melhorar o valor ambiental e social dos seus espaços, maximizando suas funções protetoras e de enquadramento paisagístico. A boa gestão do espaço florestal e agroflorestal minimizaria riscos, atenuando os efeitos climáticos e da erosão dos solos, além de aumentar o caráter público das florestas e proteger os recursos hídricos.

O GDF deve cobrar do agronegócio uma gestão de responsabilidade ético-produtiva que utilize as alternativas de rotações de cultivo adequadas a cada terreno, empregue os recursos hídricos de maneira eficiente, racionalize o emprego de agroquímicos, não queime restos florestais e respeite as normas sanitárias.

Cruzeiro-DF, 17 de julho de 2020

SALIN SIDDARTHA


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Este artigo foi publicado originariamente, hoje (17/7), no Jornal InfoCruzeiro.