Quinta, 25 de junho de 2015
'A direção do Partido dos Trabalhadores, pelas opções que fez, pelo caminho que escolheu e pela aliança maldita com os donos do capital, é sim a grande responsável pela difícil conjuntura do país, com grave crise econômica e política e com acelerado agravamento da situação social.'
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'A direção do Partido dos Trabalhadores, pelas opções que fez, pelo caminho que escolheu e pela aliança maldita com os donos do capital, é sim a grande responsável pela difícil conjuntura do país, com grave crise econômica e política e com acelerado agravamento da situação social.'
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Do Correio da Cidadania
Escrito por Hamilton Octavio de
Souza
O povo brasileiro está pagando caro, agora, o preço de uma
aventura política e eleitoral iniciada em 2002 quando a principal liderança do
PT, Luiz Inácio Lula da Silva, conduziu o partido a uma aliança com as forças
tradicionais do empresariado e do conservadorismo nacional. Desde então, o que
se viu foi o ataque paulatino às esquerdas, dentro e fora do PT, a completa
domesticação dos sindicatos e movimentos sociais mais combativos na área de
influência petista, a despolitização da luta de classes e uma escalada ainda incompleta
de concessões ao capital, à direita e aos postulados do neoliberalismo.
Anteriormente, os governos de Collor de Mello e de Fernando
Henrique Cardoso já haviam bombardeado as atribuições do Estado, desmantelado a
Constituição de 1988, retirado direitos dos trabalhadores e escancarado o país
aos interesses mais mesquinhos e predadores dos capitais nacional e
internacional. Vivemos o pior dos horrores de 1990 a 2002, com a liquidação do
patrimônio público nos leilões das privatizações, com a “flexibilização” das
leis trabalhistas e a entrega das atividades essenciais, entre as quais saúde e
educação, ao jogo dos mercados.
Mas, até então, amplos setores populares e a maioria das
organizações sociais e de esquerda formavam as mais diferentes trincheiras da
oposição. Os campos de delimitação entre esquerda e direita, progressistas e
conservadores, defensores da soberania nacional e entreguistas, defensores do
Estado prestador de serviços públicos e privatistas, ambientalistas e
predadores dos recursos naturais, defensores dos direitos humanos e apoiadores
da truculência punitiva contra os mais pobres e excluídos, estavam bem mais
claros e definidos, sem a confusão de uma geleia geral.
No entanto, a guinada iniciada pelo PT em 2002, com vistas
exclusivamente às eleições e ao seu projeto particular de poder, contribuiu
decisivamente para que, nos últimos 13 anos, não só boa parte do PT aderisse ao
ideário do pensamento dominante, como também – ao não fazer o devido combate
político pela esquerda – possibilitou que os setores carcomidos da direita,
cautelosos desde o fim do regime militar, voltassem a ganhar desenvoltura e
nova energia no seio das classes médias e dos assalariados em geral.
Erros e desvios
Qualquer análise honesta da conjuntura atual precisa
obrigatoriamente considerar os graves erros e desvios políticos cometidos pela
cúpula dirigente do PT, que, ao longo de anos, foi responsável pela metamorfose
vivida pelo partido, a começar pelos abraços dados nos antigos inimigos dos
trabalhadores, o abandono das bandeiras e das lutas socializantes, até assumir
sem escrúpulo ou vergonha o papel de gestores da burguesia e operadores do
aparelho de repressão do sistema. Ou alguém ainda tem dúvida de que o PT não
seja um partido da ordem capitalista?
Durante algum tempo – já no controle do governo federal –,
os discursos e as práticas a favor do modelo político-econômico foram dourados
com benesses sociais na direção de atendimento das parcelas mais miseráveis da
população, na recuperação do salário mínimo, na redução da secular e gritante
desigualdade. Tais programas evidentemente foram bem recebidos e conquistaram
levas de agradecidos e apoiadores, enfim, uma base social a reconhecer os
méritos da situação diante do descaso explícito dos governos anteriores.
A economia chinesa ajudou, as relações sul-sul contribuíram
e o consumo mantido artificialmente criou a sensação generalizada de que o
Brasil era uma ilha de prosperidade num mundo destroçado pela crise do próprio
sistema neoliberal. Vivemos entre 2008 e 2013, nos governos do PT, a grande
ilusão do paraíso terrestre em que toda a sociedade e todos os brasileiros
estavam ganhando: os pobres ganharam o Bolsa-Família, o Prouni, o FIES, o novo
cálculo do salário mínimo baseado em PIB crescente; e os ricos ganharam nos
impostos desonerados, nas obras e serviços superfaturados, nos empréstimos com
juros subsidiados, no superávit primário garantido, na especulação imobiliária
e na brutal transferência de renda possibilitada pelo juro elevado e o crédito
incentivado.
No final das contas, a tal política lulista, segundo a qual
todos ganham, na verdade, dava aos pobres menos do que a décima parte do que
era dado aos ricos. Por isso mesmo foram os ricos que quebraram o Estado
brasileiro, que sugaram até o último tostão as reservas do BNDES, os repasses
do Tesouro e os fundos que deveriam ter destinação exclusivamente social –
entre eles o FAT e FGTS -, mas que foram destinados para tentar segurar a
debandada do empresariado no momento em que a sangria dos recursos públicos
chegou ao esgotamento. O colapso já estava evidente no início de 2014, mas em
ano eleitoral o governo e a direção do PT optaram sem pestanejar pelo
estelionato e deixaram a verdade sobre a crise para depois das eleições.
Discurso e prática
Entre o Dilma-1 e o Dilma-2, ficou evidenciado que o
discurso dourado do PT para enganar os trabalhadores e os pobres estava sendo
desmascarado pela prática – mais precisamente, pelas medidas do chamado “Ajuste
Fiscal”, que nada mais fez do que cortar investimentos e programas da área
social e vitaminar o superávit primário, com a elevação dos juros, que é o
mecanismo que permite rápida transferência de renda da maioria da população e
dos recursos públicos para os que especulam com o dinheiro, em especial o setor
financeiro e os rentistas detentores dos títulos do Tesouro Nacional.
Enquanto cortava verbas do FIES, restringia o Prouni com
novas regras para o Enem e reduzia a 1/3 (um terço) os recursos do Pronatec, o
governo anunciava novas linhas de crédito aos empresários pelo BNDES, Banco do
Brasil e Caixa Federal. Enquanto deixava as universidades federais sem recursos
nem mesmo para o pagamento dos serviços de limpeza, o governo anunciava pacote
de privatização de portos, aeroportos, rodovias e ferrovias, com financiamento
público. Enquanto negociava ajuda para os grupos empresariais envolvidos no
esquema de corrupção da Petrobras, o governo editava medidas provisórias para
cortar seguro-desemprego, auxílio-doença e pensão por morte.
Ao mesmo tempo em que trataram de alimentar sua aliança
econômica com os banqueiros e os empresários, com inúmeros danos para os
trabalhadores (perda de direitos trabalhistas, rebaixamento da massa salarial,
informalidade e precarização no trabalho e, agora, aumento do desemprego), os
governos do PT também priorizaram as suas alianças políticas com os partidos
tradicionais, a começar do PMDB, mais PR, PRB, PP, PTB e outras siglas menores.
Por isso mesmo não se pode dizer que tenha ocorrido alguma
contradição entre a vitória de Dilma, em 2014, e o aumento das forças
conservadoras no Congresso Nacional – dominado pelo reacionarismo evangélico,
pelos ruralistas e pelas bancadas da truculência punitiva e policial contra
qualquer avanço no campo dos direitos humanos, da cultura e do comportamento.
A direção do Partido dos Trabalhadores, pelas opções que
fez, pelo caminho que escolheu e pela aliança maldita com os donos do capital,
é sim a grande responsável pela difícil conjuntura do país, com grave crise
econômica e política e com acelerado agravamento da situação social. Só mesmo a
mobilização e a articulação das organizações sociais combativas, dos setores
populares e assalariados, dos sindicatos e partidos de esquerda, possibilitará a
constituição de uma frente capaz de retomar o processo por uma sociedade justa,
igualitária, livre e soberana.
O Brasil precisa de projetos coletivos, inclusivos e
voltados para a maioria do povo. Precisa de reformas estruturais, e não de
meros paliativos que alimentam as ilusões efêmeras.