Quarta, 11 de maio de 2016
"Em suma, se os horizontes parecem cada vez mais nebulosos,
continuamos à espera de milagres, inexistentes em meio à desesperança.
Entre Dilma e Temer, damos um pela outra e não queremos volta."
==================
Da Tribuna da Internet
Carlos Chagas
A gente sabe como começa, mas não sabe como acaba. A votação dos
senadores sobre a admissibilidade do impeachment da presidente Dilma tem
seu início marcado para a manhã de hoje, mas vai durar até de noite,
ignorando-se se entrará pela madrugada de amanhã. Pelo menos 60 oradores
estão inscritos, a maioria favorável ao início do processo. Uma vez
colhidos os votos, tudo indica que Madame estará afastada do exercício
de suas funções por 180 dias, quando se dará o julgamento das acusações
que pesam sobre ela.
Condenada, estará fora do jogo político, sendo que Michel Temer,
ocupando interinamente as funções presidenciais a partir de amanhã,
assumirá em definitivo até o final do mandato, a 31 de dezembro de 2018.
Caso, é óbvio, não sobrevenham surpresas, dessas a que quase nos
acostumamos.
Devemos estar preparados para conturbações e inusitados que, aliás,
já entraram ontem em sua fase mais aguda, como manifestações de toda
ordem, em diversos Estados. Rodovias têm sido interrompidas, ruas e
praças ocupadas, entreveros variados entre partidários da presidente
Dilma e seus adversários.
DAQUI PARA FRENTE
Vexame igual raríssimas vezes tem ocorrido na República, fazendo
prenunciar que nada se normalizará daqui para frente. O Brasil está
dividido, ao contrário do Congresso, onde prevalece a tendência
antigoverno. O ideal seria que a população ficasse à margem, mas as
emoções espontâneas ou fabricadas fazem prever o contrário. O resultado é
que o Brasil vive um de seus piores momentos, destacando-se a crise
econômica acima e além da crise política.
A hesitação do ainda vice-presidente Michel Temer em compor seu
ministério e, especialmente, em definir seu programa de governo, só faz
aumentar as agruras nacionais. Não dá para calcular quanto andamos para
trás em termos de crescimento, esperança e previsões. Muito menos de
miséria e desilusão.
VIRADA DO JOGO
Continuamos aguardando a virada do jogo, mas a conclusão é de que
isso só ocorrerá com mudanças profundas nas estruturas institucionais e
políticas. A corrupção, apesar de combatida, dá a impressão de ter
aumentado. Há quem suponha que apenas com imediatas eleições gerais será
possível reverter o quadro, mas o perigo será trocarmos seis por meia
dúzia, como já vai acontecer na Esplanada dos Ministérios.
Pelo menos a reforma econômica faz-se imprescindível, porém do que
mais se fala é da troca das garantias trabalhistas pela “livre”
negociação entre patrões e empregados, da desvinculação do salário
mínimo da justiça social, do aumento de impostos e do aumento do
desemprego. Não há possibilidade de união nacional, já que nenhuma
categoria admite abrir mão de seus privilégios e regalias.
HORIZONTES NEBULOSOS
A classe política, em vez de encontrar e buscar soluções, mais se
aferra às suas vantagens. A classe trabalhadora não encontra forças para
sustentar antigas conquistas e as elites parecem prestes a ampliar suas
benesses.
Em suma, se os horizontes parecem cada vez mais nebulosos,
continuamos à espera de milagres, inexistentes em meio à desesperança.
Entre Dilma e Temer, damos um pela outra e não queremos volta.