Quinta, 26 de maio de
2016
Trinta homens, por
Luara Colpa
Trinta.
Vinte e nove
Vinte e oito
Vinte e sete
Vinte e seis
Vinte e cinco
Vinte e quatro
Vinte e três
Vinte e dois
Vinte e um
Vinte
Dezenove
Dezoito
Dezessete
Dezesseis
Quinze
Quatorze
Treze
Doze
Onze
Dez
Nove
Oito
Sete
Seis
Cinco
Quatro
Três
Dois
Um
Nenhum.
Eu tiraria todos – um
por um – de cima de você neste momento, irmã.
Eu limparia seu
corpo, tiraria o som dos seus ouvidos, o cheiro deste lugar, as lembranças. Se
o tempo voltasse, eu os impediria de terem saído de casa. Todos eles.
Eu desligaria os
celulares, os computadores, tiraria baterias dos carros, dos ônibus. Eu faria
feitiço, veneno, poção, dor de barriga para todos. Trinta.
Eu te levantaria daí e te levaria pra ver o pôr do Sol no Arpoador, se o mundo girasse ao contrário… Mas o mundo não gira.
Foram Trinta.
Um ex-companheiro e
vinte e nove “amigos”.
Nenhum deles se
compadeceu.
Vinte e nove seres
humanos toparam se unir a um criminoso.
Trinta.
Trinta e um agora
compartilharam. Trinta e dois riram. Trinta e três justificaram. Trinta e
quatro se excitaram, trinta e cinco procuram o vídeo neste momento.
Agora o número se
torna uma projeção geométrica. A misoginia aparenta infinita, o ódio e o
machismo aparentam grandiosos demais. A primeira reação do público masculino em
geral é ver o vídeo.
No entanto, quando
pensei que fôssemos só nós duas, olhei para o lado e vi três, quatro, cinco.
Chegaram seis, sete, oito, trinta.
Em segundos fomos
noventa, cem, mil, somos milhares por você. Aquele som, aquele cheiro… Queremos
que sua memória apague, mana!
E que o mundo nos
ouça: “A CULPA NUNCA É DA VÍTIMA”. Que ecoe.
Que ecoe: Daqui vocês
não passam. Não passarão.
Que cada uma de nós seja porta voz do ocorrido¹. Se a grande mídia não denuncia a violência contra a mulher periférica, que nossas mãos sejam denúncia.
Na violência contra a
mulher todas metemos a colher.
DENUNCIE.
No site do Ministério
Público, Polícia Federal e disque 180. Mexeu com uma, mexeu com todas.
Disque 180.
¹- Em tempo: Acaba de
ser noticiado via redes sociais, que uma garota “Bia” fora estuprada por 30
homens no RJ. O motivo é vingança do ex-namorado, que convidou mais 29 “amigos”
para estuprar a vítima. Nenhum se absteve, nenhum deles parou os amigos, nenhum
saiu do local, Vi no twitter e muitos outros homens compartilharam em suas
redes sociais, fizeram piada e justificaram o crime.
Em segundos, milhares de mulheres se uniram na tarefa da conscientização de umas às outras, da denúncia formal, via PF, MP e Disque 180.
“O correto, nesses casos, não é denunciar o
perfil do divulgador do material pela “timeline” da rede social.
Ajudem a denunciar,
copiando a URL dos twittes e colando nos locais de denúncia dos sites :
– http://denuncia.pf.gov.br/
– http://www.safernet.org.br/site/
– http://www.humanizaredes.gov.br/disque100/
Na ouvidoria no site
do Ministério Público do RJ
(mprj.mp.br/cidadao/ouvidoria)
É importante se identificar.
Ou Ligue 180 também é
um caminho para denunciar.”
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Luara Colpa é brasileira, tem 28 anos. É mulher em um país patriarcal e oligárquico. Feminista e militante por conseguinte. Estuda Direito do Trabalhador e o que sente, escreve
Luara Colpa é brasileira, tem 28 anos. É mulher em um país patriarcal e oligárquico. Feminista e militante por conseguinte. Estuda Direito do Trabalhador e o que sente, escreve