Domingo, 22 de maio de 2016
Da Tribuna da Internet
Carlos Newton
Charge do Ivan Cabral, reprodução de Charge Online

Charge do Ivan Cabral, reprodução de Charge Online
Com todo respeito ao comentarista Antonio Santos Aquino, que tanto tem defendido aqui na Tribuna da Internet o verdadeiro trabalhismo de Alberto Pasqualini, Getúlio Vargas, João Goulart e Leonel Brizola, é preciso dizer que na vida tudo precisa ter limites. O fato indiscutível é que a atuação do atual presidente do PDT, Carlos Lupi, está demonstrando ser altamente negativa. Antes, ainda havia dúvidas, mas agora se constata o tenebroso resultado da gestão de Lupi à frente do que ainda resta do lendário trabalhismo brasileiro, que é uma vertente do modelo do capitalismo social (ou socialismo democrático, tanto faz) hoje praticado nos mais avançados países do mundo – Noruega, Suécia, Finlândia e Dinamarca.
Logo agora, quando o momento político se revela propício ao
crescimento de um partido como o PDT, em função da progressiva derrocada
do PT e das demais legendas de esquerda, parece que Lupi pretende
destruir o partido, ao invés de fortalecê-lo.
Até admite-se que, antes da decisão da Câmara, Lupi tenha ficado fiel
à aliança com o PT, apesar dos escândalos de corrupção e da comprovada
incompetência administrativa de Dilma Rousseff, que estava levando o
país à bancarrota. Mas depois do vendaval, quando Dilma e Lula já estão
desmoralizados, por que o presidente do PDT insiste em querer mergulhar o
trabalhismo na mesma fossa onde está sendo sepultada a Era do PT? Não
dá para entender.
ARGUMENTOS PATÉTICOS
Antes da votação do impeachment na Câmara, os argumentos de Lupi para
fechar questão a favor da presidente Dilma Rousseff foram frágeis e
contraditórios. Um deles era de que Brizola, se fosse vivo, seria contra
o impeachment. Mas por quê? Ora, segundo Lupi, Brizola afirmaria que
impeachment é golpe, embora esteja previsto na Constituição brasileira e
dos demais países presidencialistas. Como Brizola não pôde ser
consultado a respeito, alguns parlamentares petistas acreditaram na
ensandecida tese e citaram Brizola na hora de votar, vejam como essas
coisas acontecem.
Outro argumento de Lupi era a necessidade de mostrar aos políticos em
geral, e aos aliados do PDT em particular, que o partido é leal aos que
o tratam bem, com a presidente afastada Dilma Rousseff.
Na reta de chegada da votação na Câmara, Lupi se desesperou e propôs o
seguinte absurdo: o PDT votaria em peso contra o impeachment, mas
sairia do governo no dia seguinte, fosse qual fosse o resultado da
votação na Câmara. Mas sairia por quê e para quê? Ora, para o PDT provar
que não depende de cargos, não se apega a eles. E também porque o PDT
já tem candidato a presidente da República em 2018, o ex-governador do
Ceará Ciro Gomes, e não se aliará ao PT (a não ser que o PT apoie Ciro,
claro…).
ABRINDO PROCESSOS…
Apesar de o partido ter fechado questão contra o impeachment, só 12
dos 19 deputados do PDT votaram com o governo, e Pompeu de Mattos (RS)
se absteve, o que significou 13 votos favoráveis a Dilma.
Um dia após a Câmara aprovar o impeachment, a Executiva Nacional do
PDT, instigada por Lupi, autorizou a abertura de processo de expulsão
dos seis deputados do partido que votaram a favor do impeachment
– Flávia Morais (GO), Giovani Cherini (RS), Hissa Abrahão (AM), Mário
Heringer (MG), Sérgio Vidigal (ES) e Subtenente Gonzaga (MG).
Há duas semanas, o PDT anunciou que também expulsará os senadores que
votarem a favor do impeachment: Acir Gurgacz (RO) e Lasier Martins
(RS). O único a votar contra foi Telmário Mota (RR).
DEBANDADA
No início de 2016, o PDT tinha seis senadores titulares. Além dos
três que ainda estão na legenda, eram filiados ao partido Cristovam
Buarque (DF), Antonio Reguffe (DF) e Zezé Perrella (MG). Em fevereiro,
Buarque e Reguffe anunciaram a saída. O primeiro filiou-se ao PPS,
enquanto o segundo continua sem sigla. Em abril, Perrella deixou o PDT e
foi para o PTB.
“Aqui no Senado, discute-se o mérito do imepachment. E quando falamos
do mérito, isso depende do julgamento de cada um”, disse Telmário Mota
(RR), em entrevista ao site do UOL. “Perder um senador já faz toda a
diferença. Imagina perder mais dois. Ou perder cinco, no total desde o
começo do ano”, acrescentou o senador, defendendo que o PDT não expulse
os congressistas pró-impeachment.
CRISE FOI AUMENTANDO
A matéria do UOL assinala que o senador gaúcho Lasier, o mais crítico
em relação ao apoio do partido ao governo, vê com pessimismo o futuro
da legenda: “O PDT tem três pessoas de muita força: Carlos Lupi,
Miguelina Vecchio e Manoel Dias. Sem voto, eles praticamente dominam o
Conselho de Ética e a Executiva”, disse o senador. Lupi é o presidente;
Miguelina, a segunda vice-presidente; e Manoel Dias foi ministro do
Trabalho e agora é secretário-geral.
Em 2015, a bancada do Senado repetidas vezes tentou convencer Lupi a
sair do governo. Mas ele se recusava, dizendo que Dilma ia se
“reequilibrar”. E a crise do PDT piorou em outubro de 2015, quando Pedro
Taques, governador do Mato Grosso, durante um jantar com Reguffe e
Lasier, anunciou que iria sair do partido.
EXTERMINADOR DO PDT
“Eu estou chamando o Lupi de exterminador do PDT”, disse Lasier ao
UOL. “Se eu for me defender (o senador pode enviar a defesa por
escrito), vou levar um maço de manifestações de prefeitos, Câmara de
Vereadores e diretórios municipais ‘carrados’ de apoio à minha posição”.
Lasier acentuou que, caso seja expulso, um “terremoto político” pode
acontecer no Rio Grande do Sul, porque tem o apoio de muitos prefeitos
no Estado. Dos 497 municípios do Estado, 70 têm prefeituras pedetistas.
Porto Alegre e Caxias do Sul, as duas maiores cidades gaúchas, são
governadas pelo PDT.
“Se me expulsarem, vou ficar um tempo sem partido e pensar para onde
vou. Não tenho preferência nenhuma e nem vou pensar por enquanto”, disse
Lasier.
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PS – A decisão ocorrerá no próximo dia 30, em
reunião da Comissão Executiva Nacional. Se o presidente Carlos Lupi
ainda tiver um mínimo de juízo, desistirá da expulsão dos oito
parlamentares. Caso contrário, o partido pode entrar em processo de
extinção. De todo modo, o trabalhismo há de ressurgir em outra legenda. O
importante são as ideias, não os homens. O trabalhismo não pode
depender de falsos líderes. (C.N.)