Sábado,25 de junho de 2016
Akemi Nitahara - Repórter da Agência Brasil
A ativista de defesa da sustentabilidade ambiental
e justiça social indiana Vandana Shiva acredita que um dos grandes
problemas da indústria alimentícia é a biopirataria praticada por
grandes corporações.
A física indiana, conhecida como “salvadora
de sementes”, conta que uma companhia do Texas [EUA] disse que inventou o
arroz basmati, que é típico de sua região. “Fizemos uma campanha em que
as pessoas mandavam cartões-postais para o departamento de patente dos
Estados Unidos falando que eles tinham que ser chamados de departamento
de pirataria".
Vandana citou também a patente de uma espécie de
trigo que não causa reação em quem tem alergia ao glúten, "fruto de
evolução genética e seleção natural combinadas e praticadas desde as
nossas avós” e a patente sobre a semente de soja transgênica, muito
utilizada no Brasil.
A ativista veio ao Brasil participar do
Primeiro Festival Internacional da Utopia, organizado pela prefeitura da
Maricá, na Região dos Lagos do Rio de Janeiro, em parceria com
movimentos sociais. O evento começou na quarta-feira, com a participação
de ativistas, intelectuais, políticos e artistas para debater os
desafios do planeta e termina amanhã (26).
Abraço em árvores
Na
década de 70, Vandana participou do movimento Mulheres de Chipko
(abraço), no Himalaia, quando mulheres se abraçavam às árvores para
evitar a derrubada das florestas. “Nós fomos mostrar que as árvores não
são só metros cúbicos de madeira. Depois que teve uma grande enchente,
as autoridades viram que as mulheres tinham razão”.
Segundo
Vandana, "a natureza não é só a nossa casa, mas a nossa família", e
precisa ser preservada. "Nasci no Himalaia, assim como as florestas
daqui foram cortadas e levadas para a Europa, as de lá foram levadas
para a Inglaterra”, disse, explicando a importância das árvores para a
preservação do solo, das águas e para a limpeza do ar.
Agroecologia
Vandana
também destacou a importância da agroecologia para a saúde das pessoas e
do planeta. "Não precisa de veneno, propina nem grandes corporações. Só
precisa do nosso conhecimento e da terra. 75% da destruição da água e
da ecologia é por causa da agricultura comercial e 75% das doenças de
hoje estão relacionadas à comida doente”.
A ativista diz que
treinou mais de 1 milhão de agricultores para a prática e que "comida de
verdade só vem da terra e do carinho dos agricultores". “Hoje almocei
maravilhosamente bem na feira de agroecologia do MST [Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra]. Isso é comida de verdade. Através da
comida de verdade vamos resgatar a veia da vida, recuperar nossa
democracia."
Desenvolvimento Agrário
O
ex-ministro do Desenvolvimento Agrário Miguel Rosseto, que exerceu o
cargo entre 2003 e 2006 e depois em 2014, acompanhou a palestra e
destacou que as políticas públicas para a agricultura familiar foi
fundamental para incluir os pequenos produtores rurais, do campo e da
floresta, como parte do sistema produtivo do país
"A partir desse
diálogo forte desde 2003, um conjunto importante de políticas públicas
foi sendo criado. O Pronaf [Programa Nacional de Agricultura Familiar] é
o mais conhecido, que é o crédito. Hoje são R$ 30 bilhões. As políticas
de seguro agrícola, de preço mínimo, programas de compra governamentais
para escolas, por exemplo, que foram estimulando essa produção,
melhorando a renda desses agricultores, estimulando através da
assistência técnica, especialmente a partir da agroecologia, um processo
de melhoria na qualidade da produção", disse.
Rosseto lamentou o
fim do ministério pelo governo interino e destacou o reconhecimento
internacional das políticas públicas na área desenvolvidas pelo Brasil,
como pela Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação
(FAO). “Mais do que acabar com um ministério, é acabar com um projeto
de nação integrada, interior e cidades, centros e periferia, rural e
urbano”.
O presidente interino Michel Temer vinculou as ações ligadas à agricultura familiar à Casa Civil
depois da extinção do Ministério de Desenvolvimento Agrário.
Representantes da Frente Nacional de Luta no Campo e Cidades reuniram-se
com Temer no início deste mês e pediram, entre outras reivindicações, a recriação do ministério.