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(Millôr Fernandes)

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Cuidado com as pesquisas

Segunda, 19 de abril de 2010
Por Ivan de Carvalho
Quando foram divulgados os resultados da última pesquisa Sensus para presidente da República, apontando empate entre José Serra (32,7 por cento) e Dilma Rousseff (32,4 por cento) – algo sem precedentes na história das pesquisas eleitorais de institutos conhecidos para o pleito de outubro deste ano, abstive-me de comentá-los.
     Eu os considerei suspeitos. Nada ocorrera no intervalo de tal pesquisa e outras anteriores, recentes, de diversos institutos, que pudesse explicar o surpreendente empate. Nelas, Serra, do PSDB, aparecia sempre com uma considerável vantagem sobre a candidata do PT, embora esta se apresentasse numa contínua, mas não abrupta escalada. Um empate poderá, evidentemente, acontecer, ou até uma ultrapassagem, mas essas são possibilidades para o futuro, próximo ou distante. Ou para nunca, o que também não pode ser descartado.
    A pesquisa Sensus foi criticada, por exemplo, pelo jornal Folha de S. Paulo, certamente com a assessoria do Instituto Datafolha, há muito o de maior credibilidade entre os políticos e que integra o mesmo grupo empresarial do jornal citado. A Folha observou que o Sensus praticou uma inversão nas perguntas. Ao invés de iniciá-la indagando ao eleitor entrevistado em quem votaria para presidente, perguntou primeiro sobre a avaliação que fazia do governo Lula.
Quando perguntado sobre o voto para presidente, observou a Folha, o eleitor poderia se sentir constrangido a dizer que votaria na candidata governista, uma vez que é muito alta a aprovação de Lula. E também – acrescento – para não parecer incoerente perante o entrevistador. Houve ainda outras críticas, a exemplo do currículo político de Serra, no qual constava apenas “governador de São Paulo”, quando se sabe que é muito mais vasto.
    Mas o que mais me fez considerar suspeitos os resultados do Sensus foi o fato de a pesquisa ter sido encomendada pelo Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Pesada no Estado de São Paulo (Sintrapav), uma instituição sem a menor tradição de encomendar pesquisas eleitorais, pelo menos de âmbito nacional. Em outros âmbitos, não sei nem vi nunca notícia de nenhuma. O que teria levado esse sindicato a navegar por mares nunca dantes por ele navegados? Sinceramente, rejeitei os resultados e a pesquisa como imprestáveis.
    E se abordo hoje essa pesquisa do Sensus é somente porque no fim de semana foram divulgados os resultados de uma nova pesquisa do Datafolha, realizada entre os dias 15 e 16 deste mês, que desmoraliza o “empate” apontado pelo Sensus sob encomenda do Sintrapav. O Datafolha atribui a Serra, na modalidade de intenções de voto estimuladas (mesma pela qual o Sensus obteve o tal empate), o percentual de 38 por cento, reservando a Dilma Rousseff 28 por cento. A diferença é de dez pontos percentuais e em nada se assemelha a um empate.
    Está assim reforçada o que já é mais do que uma simples hipótese, mas uma suspeita antiga que vem se adensando a cada eleição – a manipulação de resultados de muitas das pesquisas eleitorais lançadas no mercado eleitoral.

Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta segunda.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.