Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

terça-feira, 20 de abril de 2010

Turbulência no PT

Terça, 20 de abril de 2010
 Por Ivan de Carvalho
Pode o governador Wagner resolver logo ou ser obrigado a demorar-se nas quase intermináveis discussões que costumam assaltar seu partido, o PT, mas a verdade é que ele tem problemas sérios a superar para fechar sua chapa às eleições majoritárias.
A desistência do senador César Borges de aliar-se a Wagner – ante as dificuldades que lhe estavam sendo oferecidas por setores petistas – continuam provocando seqüelas. O senador aliou-se ao PMDB e deixou na chapa majoritária do governismo estadual um buraco que precisa ser tapado.
    O risco é que tentem tapá-lo aos tapas. Claro que aqui se usa força de expressão, mas parece que se está armando uma batalha, o que não impede que ela venha a assemelhar-se à “batalha de Itararé”, aquela que não houve. O futuro dirá.
    Na chapa, inamovíveis, só estão mesmo o governador Jaques Wagner, em busca da reeleição, e a deputada e ex-prefeita Lídice da Mata, do PSB, que disputará uma das duas cadeiras em jogo no Senado. O ex-governador Otto Alencar tem passado por variações. Primeiro, ficou acertado, entre ele, seu partido, o PP e o governador.
    Em seguida, Otto Alencar foi surpreendido por problemas de saúde e a então forte possibilidade do senador e ex-governador César Borges ingressar, com o PR, na aliança governista. As duas coisas levaram a um deslocamento de Alencar para candidato a vice-governador. Quando César Borges e o PR saltaram para o barco peemedebista de Geddel Vieira Lima, uma vaga para a disputa de uma das cadeiras de senador pela chapa governista ficou aberta. Novamente pensou-se em deslocar Otto Alencar para a disputa pelo Senado. Ele não se entusiasmou, mas não repeliu a hipótese, que seria completada com o ingresso do PDT na chapa majoritária, representado pelo presidente da Assembléia, Marcelo Nilo.
    Mas ontem a configuração já era outra. O líder do PP na Assembléia, Roberto Muniz, disse a este repórter que “a tendência é Otto permanecer mesmo como candidato a vice”, enquanto o presidente estadual e líder deste partido na Câmara federal, Mário Negromonte, deu a este jornal declarações nas quais considera o deputado petista Walter Pinheiro a pessoa mais indicada para formar com Lídice a chapa para o Senado. O governador, comenta-se, tem a mesma opinião, nas atuais circunstâncias.
    Aí há problemas, pois ontem mesmo o deputado Nelson Pelegrino, que sempre disputa ou tenta (como em 2008) disputar a prefeitura da capital, colocou seu nome “à disposição” para ser candidato a senador. Um raciocínio para explicar isto seria a presunção de que, caso Pinheiro se eleja senador, ficaria em posição privilegiada para disputar o cargo de prefeito em 2012, atrapalhando – mais do que atrapalhados já possam estar – os planos de Pelegrino. Já se admite até mesmo que essa situação possa levar a eleições prévias no PT para escolha do candidato a senador que falta.
    Mas a desagradável perspectiva de prévia (em 2008, Pinheiro, graças ao apoio que teve do governador, venceu a prévia para candidato petista a prefeito contra Pelegrino) pode servir também como elemento de pressão para Pelegrino obter de Pinheiro e do PT a garantia de que, se este for candidato ao Senado, desde já renuncia a qualquer plano de disputar a prefeitura em 2012. Há, não se pode esquecer, um grupo petista, ainda que minoritário, insistindo em que Waldir Pires deve ser candidato a senador.

Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta terça.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.