Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Segurança, Serra e Dilma

Quinta, 29 de abril de 2010 
Por Ivan de Carvalho
Na última vez que esteve na Bahia para uma visita a Feira de Santana, o principal candidato de oposição à presidência da República, José Serra (da coligação que reúne, por enquanto, PSDB-DEM-PPS), comprometeu-se publicamente a criar o Ministério da Segurança Pública, caso, evidentemente, seja eleito. A escolha da Bahia para esse anúncio foi emblemática. Aqui houve nos últimos anos um aumento extremamente veloz da criminalidade e da violência. É verdade que enquanto Serra fazia o anúncio, na presença do ex-governador Paulo Souto, candidato do DEM, PSDB e outros partidos a governador, do ex-prefeito de Feira de Santana, José Ronaldo, candidato das mesmas forças a senador, e de outros políticos importantes da oposição baiana, o governo expunha na Avenida Luiz Viana Filho (Paralela) mais de três centenas de viaturas policiais a serem distribuídas entre as polícias Militar e Civil. Abro um parêntesis para assinalar que se essas viaturas não estivessem em exposição, como que num stand de propaganda a céu aberto, mas em operação, possívelmente alguns crimes não teriam sido cometidos ou autores de crimes cometidos teriam sido presos. Mas impõe a verdade que se diga que essa prática de exposição de viaturas policiais – também ambulâncias estão sujeitas a este proceder – não é uma exclusividade do governo Wagner. Ela foi utilizada também no governo de Paulo Souto e em outros, anteriores. Neste assunto de perda de tempo com exposição de veículos, ninguém pode jogar a primeira pedra. Nem é isto que eu desejaria, mas sim que haja alguém, afinal, que venha a dizer: “O Estado comprou – ou alugou – umas viaturas (ou ambulâncias) e elas entraram em operação imediatamente, por isto vocês não podem vê-las expostas na Paralela, onde estariam inúteis para cumprir sua função”. Mas, voltando ao compromisso de Serra de criar um Ministério da Segurança Pública, dona Dilma Benguell, desculpem esse descuido recorrente, Rousseff, que não teve a idéia primeiro porque segurança nunca foi prioridade nem verdadeira preocupação do governo de que ela participou até poucos dias atrás, procurou desdenhar da boa idéia do adversário. Dilma afirmou que “não vê com importância” – sinceramente, está mais míope do que eu – o compromisso de Serra e acrescentou que “o Ministério da Justiça tem um caráter forte de segurança pública”. Claro, está subordinada a ele a Polícia Federal e aquela tal Força Nacional de Segurança, que é uma colcha costurada a cada necessidade com retalhos de polícias militares estaduais. Ora, a PF e a FNS iriam, claro, para o Ministério de Segurança Pública, enquanto o Ministério da Justiça continuaria cuidando de suas outras funções, inclusive a administração do sistema prisional federal. Nos Estados, há sempre uma Secretaria da Segurança Pública e uma Secretaria da Justiça. Um sinal, aliás, invocado por Serra para mostrar a lógica da criação do Ministério da Segurança Pública, desimportante para Dilma Rousseff.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta quinta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.