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(Millôr Fernandes)

terça-feira, 3 de abril de 2018

Ex-embaixador chinês volta ao Rio para gravar programa de TV sobre CIEPs

Terça, 3 de abril de 2018
Da Tribuna da Internet
Sergio Caldieri
Conexão Jornalismo

O ex-embaixador chinês Chen Duqing esteve na semana passada acompanhando uma equipe de seis jornalistas e cinegrafistas gravando um programa para TV no CIEP Agostinho Neto, no bairro do Humaitá. Eles entrevistaram professores e alunos para saber da integração da comunidade com a escola fundada por Darcy Ribeiro e Leonel Brizola,em 1984.
As gravações foram feitas no CIEP do Humaitá

Como dizia Darcy Ribeiro há 32 anos: “Ou construímos escolas ou no futuro teremos um exército de trombadinhas assaltando nas ruas”. Não deu outra. Desde 1984, nos 510 CIEPs teriam estudados cerca de 20 milhões de crianças em turno integral, que era o objetivo. Mas foram destruídos pelo Moreira Franco, Marcello Alencar e o sistema Globo (jornal, rádios e TV), com apoio de alguns petistas que tinham espaços nas mídias para criticarem os CIEPs, tais como Chico Alencar, Milton Temer e a professora Vanilda Paiva.

DER SPIEGEL – Nesta mesma época, a mais importante revista alemã Der Spiegel publicou duas páginas sobre os CIEPs, anunciando que era a maior revolução educacional da América Latina. Se Darcy Ribeiro não fosse derrotado pelo Moreira Franco (PDS, ex-Arena da ditadura), teria construído mais 500 CIEPs, e mais 20 milhões de crianças estudando.

Lembro que em 24 de abril de 2002, o jornalão O Globo publicou que sete mil crianças estavam trabalhando de olheiros do tráfico nas 337 favelas na região metropolitana do Rio de Janeiro. Ganhavam 600 reais por semana. Foi justamente neste dia, durante o programa “Batendo Boca”, na Rádio Nacional, do apresentador José Carlos Cataldi, que perguntei: “Mas estas crianças não deviam estar estudando nos CIEPs?”. E ainda acrescentei: “Cobrem do Moreira Franco, Marcelo Alencar e do sistema Globo”.

NO FACEBOOK – A jornalista Régis Farr fez o seguinte comentário no Facebook:

“Como jornalista de educação, fui “n” vezes a vários CIEPs, uma inclusive com a recomendação expressa da chefia de reportagem para mostrar como o Brizola “já tinha abandonado o projeto inicial e as crianças comiam mal e não tinham atividades depois das aulas”. O que vi rodando pelos CIEPs da cidade, devidamente acompanhada por um fotógrafo, foi exatamente o oposto. O almoço nos deixou com água na boca, havia atividades desportivas e ensino orientado. Mais ainda: em alguns CIEPs havia alunos- residentes (8 meninos dos socialmente mais problemáticos), abrigados em espaço construído como apartamento, com um “pai” bombeiro e sua esposa como “mãe”.

Era um projeto realmente de educação integral, para a cidadania. Foi só o Marcelo Alencar entrar para terminar com o inovador e audacioso sistema educacional e transformar os CIEPs em escolas de terceira categoria, em dois turnos, pois era isso que o pobre merecia, de acordo com o pensamento retrógrado dessa turma.

À guisa de esclarecimento: eu não era brizolista à época. E de curiosidade: escrevi uma matéria sobre o que vi nos CIEPs visitados na ocasião. Logicamente não foi publicada e fiquei por um tempo na geladeira. Eu trabalhava no JB, onde o antibrizolismo era menos acintoso.

Se isto tivesse acontecido no Globo, eu teria sido despedida na hora”.

PERSEGUIÇÕES – De fato, o jornalista Pinheiro Jr., que foi responsável da Editoria de Cidade de O Globo, me contou que todos os dias o chefão Evandro Carlos de Andrade cobrava uma matéria contra o governo do Leonel Brizola. “Se não tinha, era para se virar, pois era ordem do Roberto Marinho”.

Não podemos esquecer que vários professores que tentaram educar o povo brasileiro foram perseguidos pela ditaduras, desde o Estado Novo: Graciliano Ramos, Josué de Castro, Anísio Teixeira, Paulo Freire, Darcy Ribeiro, Décio Freitas, Manoel Maurício de Albuquerque, Milton Santos, Celso Furtado, Florestan Fernandes, Joel Rufino dos Santos, Maria Yedda Linhares, Antônio Cândido, Sergio Buarque de Holanda e tantos outros. Sem esquecer dos cientistas cassados da Fundação Oswaldo Cruz no Rio de Janeiro.