Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

domingo, 31 de agosto de 2025

Respeite a fé —Brasília recebe encontro ‘Caminhos para Exu’ no dia 7 de setembro

Domingo, 31 de agosto de 2025

Encontro pretende celebrar, desmistificar e reafirmar a importância de Exu dentro das tradições de matriz africana

Brasil de Fato — Brasília (DF)
28.ago.2025

As comunidades de terreiro de Brasília já tem evento marcado para o dia 7 de setembro, a partir das 13h na praça dos Avós, localizada na 506 sul no Plano Piloto, região administrativa do Distrito Federal. Semelhante à proposta da Marcha para Exu, realizada tradicionalmente na Avenida Paulista a cada ano, o Caminhos para Exu tem o objetivo de criar pontes entre gerações e saberes, reafirmando a cidade como um polo de encontro e de expansão da cultura afro-brasileira.

A iniciativa é uma proposta de Kika Ribeiro, cantora e coordenadora do Makumbá, projeto que celebra as músicas de terreiro. Segundo ela, a ideia veio numa conversa de bar durante um encontro descontraído com colegas, entre trocas de ideias e afetos. “Nesse encontro descontraído, entre trocas de ideias e afetos, nasceu a inspiração que se desdobrou nesse movimento maior, mostrando que Exu se manifesta justamente nas encruzilhadas, nos encontros e nos diálogos que abrem caminhos”, explica.

Marcas profundas —Emendas parlamentares, Constituição retalhada e semipresidencialismo: as heranças do golpe contra Dilma e o destino de seus protagonistas

Domingo, 31 de agosto de 2025

Nove anos depois, veja consequências da conspiração que derrubou a primeira mulher eleita presidenta do Brasil

Brasil de Fato — São Paulo (SP)
Rodrigo Chagas
31.ago.2025

Neste domingo, 31 de agosto, completam-se nove anos do afastamento de Dilma Rousseff, primeira mulher a ocupar a presidência da República. O processo, conduzido pelo Congresso sob a acusação de “pedaladas fiscais”, foi amplamente denunciado por movimentos populares, juristas e cientistas políticos como um golpe parlamentar, jurídico e midiático.

Quase uma década depois do golpe, as consequências seguem moldando a política brasileira. De um lado, o Congresso passou a abocanhar fatias cada vez maiores do orçamento, condicionando o Executivo o modelo de emendas impositivas e consolidando o chamado orçamento secreto, hoje repaginado em versões como as emendas Pix. Ao mesmo tempo, a Constituição de 1988 foi retalhada: direitos sociais foram fragilizados, o teto de gastos e reformas neoliberais foram implementados, mais empresas públicas foram privatizadas. Cresceu, ainda, a pressão pelo semipresidencialismo. Em resumo, um programa que não havia vencido uma eleição por quase 20 anos, mas que estava represado no Congresso de direita.

Entretanto, ao contrário do que esperavam os principais articuladores do golpe, no campo político, o impeachment abriu espaço para a ascensão da extrema direita, enquanto os partidos tradicionais da Nova República perderam protagonismo. A Lava Jato, motor do lawfare contra o PT, fragmentou-se após o rompimento com Jair Bolsonaro (PL) e escândalos como a Vaza Jato. O campo progressista, por sua vez, resistiu contra todas as retiradas de direitos descritas acima e contra o esvaziamento dos partidos tradicionais. Além disso, venceu as eleições presidenciais em 2022, garantindo a volta de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao Planalto.

sábado, 30 de agosto de 2025

Para levar a Saúde do Trabalhador ao centro do SUS

Sábado, 30 de agosto de 2025

Uberização multiplica danos psíquicos e físicos a quem trabalha. Que fazer? Ampliar investimento na saúde pública, aproximar movimentos sindicais da Renastt e construir soberania digital – enfrentando as plataformas precarizantes

Foto: Jaqueline Deister/Brasil de Fato

OutraSaúde
SUS
Por Guilherme Arruda
Postado originalmente no OutraSaúde em 29/08/2025

Ocorrida de 18 a 21 de agosto em Brasília (DF), a 5ª Conferência Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora (5ª CNSTT) se depara com um mundo do trabalho largamente transformado desde a última edição do evento, há onze anos. Em especial, devido à precarização de condições laborais promovida por processos como a pejotização e a uberização. Até por isso, um dos debates centrais do espaço foi a luta pela “saúde do trabalhador como um direito humano”.

“Nós vivemos transformações que misturam velhos problemas de saúde com novas condições ligadas às formas mais sofisticadas de controle do capital sobre o trabalho, a exemplo da mediação das tecnologias”, explica Diego de Oliveira Souza, enfermeiro, sociólogo, professor da Universidade Federal de Alagoas (UFAL) e participante da 5ª CNSTT. Responsável por uma pesquisa que investiga os efeitos da uberização sobre a saúde de entregadores de aplicativo, ele relata a explosão de acidentes de trabalho, problemas osteomusculares decorrentes do peso das bags e, claro, o boom de transtornos de saúde mental entre esses trabalhadores.

Entrevistado por Outra Saúde na 5ª CNSTT, Souza apontou alguns dos desafios enfrentados pela Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora (Renastt), definida hoje como uma “rede que não enreda”, e pela implementação da Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora (PNSTT). Apesar da importância de instrumentos como os Centros de Referência em Saúde do Trabalhador (Cerest), “com o atual modelo ideológico neoliberal e uma base econômica de austeridade, o Sistema Único de Saúde (SUS) se resume a fazer saúde ocupacional”, identificando alguns riscos de acidente mas sem conseguir transformar os processos de trabalho.

Por que ler Albert Camus hoje?

Sábado, 30 de agosto de 2025

Escritor francês instiga a compreender o absurdo da vida em tempos de guerras, solidão virtual e precarização. Mas sugere que, mesmo assim, é dever se revoltar contra injustiças – e reivindicar humanidade aos humanos e, mais do que nunca, imaginá-los felizes

Por Arthur Grohs Publicado 29/08/2025

Foto: Cecil Beaton/Condè Nast Archive/Corbis

Tornaram-se públicos e notórios diversos fatos sobre a vida de Albert Camus (1913–1960). Que morreu jovem, que adoeceu cedo, que obteve sucesso literário, mesmo que com um número diminuto de obras publicadas em vida, e que, além de talentoso, era adúltero. Sem embargo, ao excetuar a sedução de sua prosa e sua imortalidade — decorrente, sobretudo, da consagração com o Nobel de Literatura de 1957 —, há mais o que falar sobre o contínuo interesse, reaquecido recentemente, sobre sua obra.

Especialmente em 2020, as vendas de A peste dispararam no Brasil. Desde então, a editora Record, a casa editorial que comercializa o espólio de Camus em solo brasileiro, lançou textos inéditos do autor no país, do mesmo modo que reeditou títulos que há muito não circulavam em terras brasileiras — além de elaborar uma nova identidade visual para a coleção. É claro, pode-se associar o súbito interesse coletivo com a experiência da pandemia, vivida especialmente entre 2020 e 2021. Não obstante, entende-se que essa tese é insuficiente para sustentar a atração que seu trabalho manteve desperta após o período assinalado.

Primeiro, faça-se uma ressalva: malgrado A peste tenha sido o maior sucesso editorial em vida desse distinto escritor, seu O estrangeiro é um dos títulos literários mais lidos na história da literatura francófona. Esse último, aliás, encontra-se atrás somente de O pequeno príncipe (de Antoine de Saint-Exupéry) e Vinte mil léguas ssubmarinas (de Jules Verne).

Por dentro do idec. Seu informe sobre cidadania e consumo

Sábado, 30 de agosto de 2025

Do Idec 


Cabeçalho | Por Dentro - Idec
Seu informe sobre cidadania e consumo
29 de agosto de 2025
De olho na luta

TELECOMUNICAÇÕES E DIREITOS DIGITAIS

🙌 Lei que protege crianças na internet aprovada!

Estivemos na luta no Congresso em favor das nossas crianças. Nossa participação ativa foi crucial para que a Câmara e, agora, o Senado Federal votasse a favor da lei que protege crianças na internet, principalmente em redes sociais. Agora, o texto vai à sanção do presidente da República. A lei é um marco na defesa da infância, principalmente em questões que envolvem a adultização, exploração das crianças e adolescentes e publicidade infantil. Matéria Prima

ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL E SUSTENTÁVEL

🛒 Quanto custa a cesta básica em cada Estado?

Agora é possível saber! Estivemos presentes no lançamento da Pesquisa Nacional de Preços da Cesta Básica, que pela primeira vez cobre todos os estados do Brasil. Descobrimos que Aracaju tem a cesta mais barata e São Paulo a mais cara - e esses dados vão ajudar a pressionar por políticas públicas mais justas. Com informação transparente, a gente combate abusos e defende seu direito à comida saudável a preço acessível! Idec

🍔 Ultraprocessado "saudável" é mito!

Não existem ultraprocessados "menos piores", mesmo os com menos açúcar, sal e gordura ainda são ruins para a saúde! A pesquisa comparou dietas equivalentes e mostrou que quem comeu comida de verdade perdeu o dobro de peso e gordura corporal. A gente sempre alertou sobre isso e agora a ciência confirmou. Não caia no conto do "ultraprocessado saudável" da indústria, ela tem várias estratégias para te enganar! O Joio e o Trigo

CONSUMO SUSTENTÁVEL

🤡 O que? Mineradora financiada pelo Fundo Clima?

É isso mesmo. Fizemos um estudo de caso que mostra que uma mineradora que atua no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, recebeu recursos do Fundo Clima do BNDES para explorar lítio na região. O problema é que ela tem várias denúncias da comunidade local de violações de direitos humanos e ambientais. GBR

Quer dar mais força a nossa luta para enfrentar os gigantes que desrespeitam nossos direitos? Junte-se ao Idec!

ENERGIA E SUSTENTABILIDADE

⚡ O que passa com a conta de luz que só aumenta?

Se está achando a conta de luz um absurdo, você não está sozinho! As tarifas subiram porque o governo insiste em usar termelétricas caras e repassar subsídios injustos pra gente. Enquanto isso, famílias pobres chegam a gastar 18% da renda só com energia. Por isso, pressionamos por tarifas inteligentes que cobrem menos fora do horário de pico, combatemos subsídios para grandes empresas e lutamos por transparência total na fatura. Idec

SAÚDE

😮 Plano de saúde coletivo subindo 3x mais

Os planos coletivos estão aumentando até 25% em 2025 - três vezes mais que o limite dos planos individuais! E quem paga a conta somos nós. Mas a gente não fica parado: pressionamos a ANS por regras mais justas e mostramos como lutar contra esses abusos. Se seu plano subiu muito, você pode ter direito a revisão. Não deixe passar! O Globo

🌿 Sua saúde está conectada com a do planeta!

A gente participou da consulta pública do plano "Uma Só Saúde" para garantir que políticas públicas integrem saúde humana, animal e ambiental. Focamos em combater o uso excessivo de antibióticos na pecuária - que gera superbactérias - e defendemos transparência, participação social e respeito aos saberes tradicionais. Queremos um plano com ações concretas, não só no papel! Seguimos pressionando por políticas que priorizem a saúde das pessoas e do planeta, não os lucros de poucos. Linkedin

Idec Orienta
Idec Orienta

Recebeu o boleto do plano de saúde e veio um aumento chocante?

Os reajustes dos contratos de planos coletivos novos não são controlados pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Essa omissão, no entendimento do Idec, não tem respaldo legal.

Inicialmente, leia seu contrato e confira se as cláusulas atinentes ao reajuste anual são expressas e delimitam o índice a ser usado para tanto. Em caso negativo, pode-se entrar em contato com a operadora ou com a ANS.

O Idec esclarece que, enquanto o contrato de plano de saúde estiver em vigor, o consumidor pode questionar a abusividade de uma cláusula de reajuste a qualquer momento.

Utilize nossos modelos de carta para verificar junto à Agência autorização do reajuste, para solicitar explicações das operadoras, denunciar e até mesmo impedir o reajuste.

RECLAME SEUS DIREITOS

Se precisar de orientação especializada para exigir seu direito de alguma empresa, nosso atendimento pode te ajudar. Associe-se!

 
Dicas

📱 Uso de telas na infância: como lidar?

São muitos os muitos problemas que envolvem a relação entre crianças e tecnologia e vários deles existem por falta de uma regulação e fiscalização governamental. Por isso, nós separamos 11 recomendações e dicas sobre o tema - 6 para pais, mães e responsáveis e 5 para governos - que ajudam a melhorar essa situação e garantir um bom desenvolvimento para as crianças e adolescentes. Confira


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sexta-feira, 29 de agosto de 2025

Viva o intelectual orgânico Raduan Nassar

Sexta, 29 de agosto de 2025

Viva o intelectual orgânico Raduan Nassar
 

Roberto Amaral*

“Considero-me de esquerda sim e fico com a bela definição de Pepe Mujica: ‘é uma posição filosófica perante a vida, onde a solidariedade prevalece sobre o egoísmo’”.
— Raduan Nassar

O intelectual orgânico dos trabalhadores, necessariamente de esquerda, denuncia a luta de classes; o intelectual orgânico da classe dominante, necessariamente conservador ou de direita, também procura intervir na realidade, mas para impedir o parto do futuro. Muitas vezes não lhe basta a conservação do statu quo: intervém para reaver o passado. 

Presentemente assistimos ao assalto ideológico da direita.

Embora não possa escolher o seu tempo, aquele no qual terá de realizar sua existência, é imperativo para o escritor, intelectual orgânico, representante sempre de uma visão ideológica do mundo, definir-se diante da luta de classes e, assim, definir o caráter de seu papel como agente histórico.

O escritor reproduz sua visão de mundo toda vez que escreve ou deixa de escrever. Baudelaire definiu-se diante das revoluções de 1848. Combateu-as e, pelo resto da vida, fez-se adversário das noções de progresso e liberdade, construindo visível contradição entre vida e obra, entre o intelectual e o poeta. Balzac permaneceu indiferente diante da Comuna de Paris. Sartre — ele mesmo intelectual permanentemente engajado — lembra o silêncio de Flaubert e de Goncourt diante da repressão à Comuna, para mostrar como ambos se definiram optando pela omissão, que, numa tábua de valores, tem tanto significado quanto a intervenção de Zola, o qual, sem temer a força das circunstâncias, optou pela defesa da liberdade do capitão Alfred Dreyfus, como antes se havia definido Voltaire — talvez um dos  primeiros dos intelectuais engajados — no caso Calas.

Quantos intelectuais brasileiros contemporâneos de Joaquim Nabuco e José do Patrocínio mantiveram-se silentes diante do escravismo? Quantos, na República, silenciaram diante do massacre que se sucedeu à Revolta da Chibata? Quantos se mantiveram calados e passivos diante do Estado Novo? Quantos marcharam ao lado de Miguel Reale Jr., jurista social-democrata e autor do pedido de impeachment de Dilma Rousseff, costurado com o então presidente da Câmara dos Deputados?

Niomar Moniz e Roberto Marinho, com seus Correio da Manhã e O Globo, respectivamente, optaram de maneira distinta diante da ditadura militar, conscientes ambos — ela dos riscos, ele dos benefícios — quanto ao que nenhum dos dois estava errado, como demonstrou a história. Igualmente, numerosos empresários de grosso calibre financiaram o golpe de 1º de abril de 64 e sustentaram a ditadura. No lado oposto, tivemos exemplos raros — e por isso dignos de celebração — como o de Fernando Gasparian, intelectual orgânico, fundador do semanário Opinião, trincheira de resistência política à ditadura. Combateram-na, entre muitos, Antônio Houaiss, Ênio da Silveira, Carlos Heitor Cony, Amelinha Teles, Celso Furtado e Chico Buarque de Holanda, entre tantos que conheceram a repressão e o exílio, enquanto outros, com larga presença na imprensa a defendiam, como Rachel de Queiroz e Rubem Fonseca.

Raduan Nassar, um dos mais importantes escritores brasileiros do século XX, completará 90 anos no dia 27 de novembro, como lembra Frei Betto (“Raduan Nassar rumo aos 90” Folha de S. Paulo, 26/08/2025), um dos mais destacados intelectuais orgânicos de minha já velha geração, que nos fala do Raduan escritor.

Escritor dos maiores, embora de poucas obras, mas todas preciosas, Raduan deixou, ao dar por encerrada sua produção, um conjunto de singular densidade poética, de concisão e de experimentalismo formal muito próprio, que o distancia, por exemplo, do Guimarães Rosa telúrico.

Sua precisão estilística, criativa tanto quanto corajosa, distante do barroco de Grande sertão: veredas, lembra o Graciliano Ramos de Vidas Secas. Sua sintaxe é inovadora porque é lírica, uma prosa musical, próxima da poesia. Invade o vasto e profundo universo íntimo da alma humana a partir do microcosmo de seu mundo arcaico e familiar — o desejo e o sentimento de culpa, a violência telúrica (que também está em Graciliano) e a ânsia de liberdade, sonho do homem — e assim alcança a universalidade, meta de todo grande escritor.

Este é o seu lado mais conhecido, que, pelo seu brilho, escurece o Raduan Nassar cidadão, político de esquerda, intelectual orgânico comprometido com o país.

Em 1984, escritor consagrado, vencedor dos prêmios Jabuti e Camões, anuncia o afastamento da literatura e, em 1985, abandona de vez a cena pública para se dedicar à vida rural. Vai morar e trabalhar em sua fazenda Lagoa do Sino, no interior de São Paulo.

Em 2014, quando as circunstâncias nos aproximam, o intelectual orgânico toma o assento do escritor. Sua voz se ergue na defesa do mandato violentado de Dilma Rousseff, mantém-se firme na condenação do golpe parlamentar, opõe-se ao governo Temer, o Perjuro, denuncia a trama golpista da chamada Operação Lava Jato (cujos desvios corruptos são hoje notórios) e se antecipa na exposição de seu caráter vassalo. Defende o presidente Lula, corretamente identificado como prisioneiro político, visita-o na prisão e está com ele em Curitiba quando de sua libertação. Defende sua eleição em 2022.

A militância política se impõe com a tragédia representada pela emergência da extrema-direita, que conhece o poder com Bolsonaro e dele ainda não está de todo afastada — eis que controla o Congresso e mantém apoio popular —, mesmo depois das eleições de 2022 e da frustração da intentona de 2023. Com os olhos voltados para a realidade, dirá: “Prefiro falar de política e não de literatura”. Surpreendeu em 2016 ao discursar em público para defender a presidente Dilma do viciado processo de impeachment, publicou artigos e fez críticas ao então vice-presidente — aquele político menor que, apesar de tudo, a imprensa nativa ainda se presta a bajular —, já de malas prontas para hospedar-se no Palácio da Alvorada.

Retorna então, ao autoexílio, ainda inexplicado, em sua fazenda paulista.

***



A limpeza étnica prossegue — O genocídio palestino vai se aproximando de seu 2º aniversário, e o governo israelense, abertamente empenhado na limpeza étnica (autorizada por uma “comunidade internacional” omissa, portanto cúmplice), anuncia aos quatro ventos seu projeto de solução final, que envolve a tomada da Cidade de Gaza, centro do gueto árabe. O Lebensraum sionista já engloba, para além da quase totalidade do território palestino, pedaços da vizinha Síria. Nesse cenário de horror e desgraça, faz bem o Brasil em subir o tom contra as provocações e insultos emanados de Tel Aviv, e rebaixar o padrão de suas relações diplomáticas com o protetorado. Mas não se pode imaginar que isto seja o suficiente.

O viralatismo ideológico- O Financial Times e o Le Monde registram o encontro de Donald T. com o novo líder sul-coreano. O estadunidense é claro em seu objetivo: quer usar a península coreana como base de lançamentos/provocação voltada para a China, atual obsessão do velho império. Para isso, acena com o interesse de normalizar as relações com Pyongyang e se apropriar de vez (!) das bases estadunidenses em território sul-coreano. Tanto o Financial quanto o Le Monde  (que não são conhecidos por sua simpatia pelo comunismo) referem-se a Kim Jon-un de modo neutro, como "líder" ou "dirigente" norte-coreano. Por que o leitor brasileiro é obrigado a consumir estereótipos em suas folhas e pasquins, em meio a um vazio de informação?

Os bilhões do crime organizado – O Ministério Público de São Paulo e a Polícia começam a desvendar as criminosas relações do PCC com o sistema financeiro. A vinculação de uma das famílias do crime organizado, a lembrar a máfia italiana no início do século passado, com a Faria Lima é muito grave, por si, pelo óbvio, e pela ameaça política que está escondida: o que sociedade  máfia-Faria Lima está fazendo com esse monturo de dinheiro sem rastro? As primeiras investigações falam em 58 bilhões de reais. Financiando a direita? Elegendo seus procuradores no Congresso Nacional, ou os governos de São Paulo e Minas Gerais? 


 


* Com a colaboração de Pedro  Amaral
 

TJDFT alerta sobre novo golpe envolvendo cobranças por cartórios extrajudiciais

Sexta, 29 de agosto de 2025

por Secom do TJDFT— publicado originalmente em 28/08/2025

Nas últimas semanas, a Ouvidoria-Geral do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT) tem recebido diversas manifestações de cidadãos sobre e-mails com supostas “notificações extrajudiciais” para cobrança de taxa de contribuição confederativa assistencial, no valor de aproximadamente R$ 198,95.