Quinta, 21 de julho de 2016
André Richter - da Agência Brasil
O
publicitário João Santana e a mulher dele, Mônica Moura, confirmaram
hoje (21), em depoimento ao juiz federal Sérgio Moro, que receberam
pagamento no exterior referente a uma dívida de campanha do PT nas
eleições de 2010. As oitivas foram realizadas na ação penal em que os
investigados respondem na Operação Lava Jato. Ambos estão presos desde
fevereiro em Curitiba.
Durante o depoimento, Mônica Moura, que era responsável pela parte financeira da empresa de marketing do casal, informou que recebeu US$ 4,5 milhões em uma conta off shore
na Suíça, controlada pelo empresário Zwi Skornick, acusado de operar os
pagamentos ilegais, segundo investigadores da Lava Jato.
Conforme
Mônica, o repasse era referente a uma dívida por serviços prestados ao
PT durante a campanha da presidenta Dilma Rousseff em 2010. A empresa do
casal fez o trabalho de marketing político da campanha.
Ela
relatou que, em 2013, passou a pressionar o ex-tesoureiro do partido,
João Vaccari Neto, para que o pagamento da dívida, estimada em US$ 10
milhões, fosse feito. A partir daí, segundo ela, foi orientada por
Vaccari a procurar Skornick, que seria responsével pelo pagamento de uma
parcela.
Questionada
pelo juiz Sérgio Moro se os pagamentos foram registrados na Justiça
Eleitoral, Mônica Moura respondeu: “Não, não foi. Foi caixa dois mesmo”.
Ao
ser indagada por que não confirmou o recebimento anteriormente, nos
depoimentos prestados à Polícia Federal, a mulher de João Santana
afirmou que não falou a verdade porque não queria atrapalhar o processo
de impeachment. Nos depoimentos, o casal alegou que os recursos depositados na conta eram de campanhas feitas no exterior.
Impeachment
“Eu
não quis atrapalhar o processo, não quis incriminá-la [Dilma]. Não quis
colocar isso porque achava que iria piorar a situação. Achava que ia
contribuir para piorar a situação do país falando o que realmente
aconteceu. E acabei falando que foi recebimento de uma campanha no
exterior. Eu queria apenas poupar, não piorar a situação que estava
acontecendo naquele momento.”
João Santana também indicou o mesmo
motivo para não ter confirmado anteriormente o recebimento. “Achava que
isso poderia prejudicar profundamente a presidenta Dilma. Nesse
momento, eu raciocinava comigo. Eu que ajudei na eleição dela, não seria
a pessoa que iria destruir a presidenta. Nessa época, se iniciava o
processo de impeachment, mas ainda não havia nada aberto. Sabia que isso poderia gerar um grave problema, ” disse Santana.
Mônica Moura também admitiu que a maioria das campanhas políticas é feita por meio de recursos não declarados.
“Os
trabalhos de politicos sempre são pagos em caixa dois. “No meu
trabalho, na minha atividade, isso acontece sempre. Os partidos não
querem declarar o valor real que recebem das empresas. Em contrapartida,
as empresas não querem declarar o valor real dado a cada partido e,
nós, profissionais, ficamos no meio disso. Portanto, nunca era declarado
todo o valor”, acrescentou.
Durante depoimento prestado hoje ao
juiz Sérgio Moro, João Vaccari, citado no depoimento, preferiu ficar em
silêncio. Em nota, o PT declarou que todas as “operações do partido
foram feitas dentro de legalidade”. O partido também ressaltou que a s
contas de campanha eleitoral de 2010 foram aprovadas pela Justiça
Eleitoral.