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(Millôr Fernandes)

terça-feira, 2 de abril de 2024

Laboratório da UnB desenvolve tecnologia para produção de nova cerveja

Terça, 2 de abril de 2024
A nova cerveja utiliza pólen de abelhas nativas brasileiras sem ferrão para a fermentação da bebida no estilo Catharina Sour, reconhecido como o primeiro tipicamente brasileiro, caracterizado pela acidez láctica equilibrada por frutas frescas. Foto: Arquivo pessoal

Bebida 100% brasiliense utiliza pólen de abelha do Cerrado para a fermentação e seriguela para dar sabor

Inovadora e com forte identidade local, assim é a cerveja Turma da Colina, desenvolvida por pesquisadores do Instituto de Ciências Biológicas (IB) e do Instituto de Química (IQ). A bebida foi lançada em fevereiro, por transferência de tecnologia para a fabricante de cerveja brasiliense Bracitorium. A parceria se deu por intermédio do Centro de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico (CDT).

 

A ideia nasceu no trabalho de conclusão de curso (TCC) do egresso de Química Igor Carvalho, que resultou na publicação do artigoUma nova fonte de microorganismos para produzir cervejas Catharina Sour, em 2022. O estudo também é assinado pelos professores Grace Ghesti (IQ), Talita Carmo (IB) e Paulo Suarez (IQ).

O desenvolvimento da nova tecnologia teve início com o TCC do egresso Igor Carvalho, realizado durante a pandemia de covid-19. Foto: Arquivo pessoal

 

“No início, a ideia era fazer um hidromel, mas ele ficou super azedo e com baixo teor alcoólico. Com as análises, vimos que tinha a presença de lactobacilos, o que possibilita a fermentação láctica, importante etapa para a produção desta cerveja”, conta Igor.

 

“Foi aí que vimos o potencial do estudo e a possibilidade de levar isso para a indústria. Como Universidade, temos a missão de produzir conhecimento e formar pessoas, mas também de levar tudo o que produzimos para a sociedade”, destaca o orientador do estudo, professor Paulo Suarez.

 

INOVAÇÃO – Considerada a bebida mais antiga consumida pelo homem, a cerveja se caracteriza por suas famílias e estilos. O modelo utilizado na pesquisa exalta a produção brasileira, isso porque a Catharina Sour foi reconhecida, em 2018, como o primeiro estilo de cerveja do país, pelo Beer Judge Certification Program (BJCP).

 

Leve e refrescante, ela é caracterizada pela acidez láctica equilibrada por frutas frescas. Assim, a Turma da Colina destaca-se entre as cervejas tradicionais devido ao tipo de acidificação com lactobacilos, advinda do pólen da abelha Frieseomelitta varia (marmelada), espécie tipicamente brasileira, sem ferrão, e do bioma Cerrado.

 

A espécie possui uma microbiota rica, incluindo microrganismos capazes de realizar a fermentação láctica, como explicam os pesquisadores. “Essas abelhas misturam o pólen com o mel e, depois de fermentada, serve de alimento. Foi exatamente este material que utilizamos como fonte de microorganismos para a cerveja, pela primeira vez”, explica o docente.

 

O professor lembra a importância de proteger a biodiversidade do Cerrado, pois “temos mais de duas mil espécies responsáveis pela polinização da vegetação”. Quanto ao nome escolhido, Paulo Suarez revela as duas referências: a região onde ficam os prédios residenciais da UnB, no campus Darcy Ribeiro (Asa Norte), chamada Colina; e, também, os grupos de jovens que ali se reuniam nos anos 1970 para ouvir música e que deram origem a grandes bandas que marcaram o rock nacional, como Legião Urbana, Capital Inicial e Plebe Rude.

O primeiro lote da cerveja foi lançado em fevereiro. Novos lotes devem ser produzidos em maior escala para serem engarrafados. Foto: Arquivo pessoal

 

COMERCIALIZAÇÃO – “Fizemos esse primeiro lote experimental da cerveja em chope, com a ajuda dos pesquisadores da UnB. A apresentação comercial foi realizada em nosso bar na Asa Norte e por alguns parceiros comerciais que também venderam para nos ajudar no lançamento”, conta o proprietário da cervejaria, Glauber Cruz.

 

“Vendemos o copo entre 15 e 20 reais e o lote já está praticamente finalizado. Agora, vamos produzir o rótulo e novos lotes para engarrafar, com a possibilidade até de usar outras frutas. Mas a gente ainda tem que fazer cálculos em relação a custos para a viabilidade econômica desse produto no mercado”, revela Cruz.

 


O empresário explica que a aceitação tem sido boa, muito pela leveza e gosto singular da nova bebida. Ele lembra que a comercialização só foi possível pelo contrato da UnB com a cervejaria para a transferência de tecnologia, que garante o direito a royalties sobre o produto por um período determinado e os créditos em relação ao processo de produção.

 

“A equipe técnica e científica de pesquisadores é importante para criar novos produtos, com mais qualidade, custo reduzido e matéria-prima regional. Isso fomenta o comércio, a indústria e a relação com o mercado”, diz Glauber sobre a parceria.


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