Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

domingo, 9 de junho de 2024

Sacrílegas

 Junho

9

Sacrílegas

     No ano de 1901, Elisa Sánchez e Marcela Gracia contraíram matrimônio na igreja de São Jorge, na cidade galega de A Corunha.

   Eloisa e Marcela se amavam às escondidas. Para normalizar a situação, com boda, sacerdote, certidão e foto, foi preciso inventar um marido. Elisa se transformou em Mario, vestiu roupa de cavalheiro, cortou os cabelos e falou com outra voz.

   Depois, quando ficaram sabendo, os jornais da Espanha inteira puseram a boca no mundo diante daquele escândalo asquerosíssimo, essa imoralidade desavergonhada, e aproveitaram aquela tão lamentável ocasião para vender como nunca, enquanto a Igreja, enganada em sua boa-fé, denunciava para a polícia o sacrilégio cometido.

   E desatou-se a caçada.

   Elisa e Marcela fugiram para Portugal.

  Caíram presas na cidade do Porto.

  Quando escaparam da cadeia, trocaram de nomes e foram mar afora.

 Na cidade de Buenos Aires perdeu-se  a pista das fugitivas. 


Eduardo Galeano, no livro ‘Os filhos dos dias’. L&PM Editores, 2ª edição, pág. 188.


========

Leia também o texto "Sacrílego"