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(Millôr Fernandes)

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Oposição perderá cargo

Quinta, 29 de novembro de 2012
Por Ivan de Carvalho
Tribuna da Bahia
A candidatura do deputado Marcelo Nilo à reeleição para seu quarto biênio na presidência da Assembléia Legislativa [da Bahia] está absolutamente consolidada. O PT já desistiu publicamente de suas fantasias de eleger entre os integrantes de sua bancada o sucessor dele na votação secreta de 1º de fevereiro e o PSD apenas acaba de formalizar um apoio antecipadamente assegurado. O resto já estava no papo.

            Menos a oposição. Mas a oposição tem poucos deputados. Na última eleição para a Mesa Diretora da Assembléia, tinha, pelo menos formalmente, 21 deputados. Se esse número de oposicionistas não fosse apenas formal, tomado pelo número de integrantes das bancadas de partidos oficialmente na oposição, mas de fato, a oposição poderia até apresentar requerimentos que forçariam a criação automática de comissões parlamentares de inquérito, entre outras prerrogativas.

            Mas a oposição de 21 deputados só existia no papel. Na prática, havia em partidos da oposição deputados alinhados com o governo, de modo que a oposição não era tudo que parecia. De qualquer modo, os números formais garantiram à oposição alguns bônus, a exemplo da primeira vice-presidência da Assembléia, atualmente ocupada pelo peemedebista Leur Lomanto, além de um segundo cargo, de menor relevância, na Mesa Diretora.

            Mas dois fatos essenciais aconteceram depois. O primeiro deles, a criação do PSD, presidido na Bahia pelo vice-governador Otto Alencar, que atraiu deputados da oposição. Como exemplo mais flagrante, metade da bancada do PMDB – três em um total de seis parlamentares – migrou para o PSD. O outro fato foi o ingresso do PR presidido pelo ex-senador César Borges na coalizão governista. A bancada do PR está dividida (dois governistas e dois na oposição), mas, para alguns efeitos formais com efeitos políticos, a bancada toda é computada como governista.

            Bem, vamos ao ponto. A reeleição de Marcelo Nilo está garantida, o governismo é soberano na Assembléia, a oposição tem hoje formalmente apenas 15 deputados, as relações de proporcionalidade para distribuição de cargos da Mesa Diretora estão sendo reestudadas – e a oposição não manterá, a partir de 1º de fevereiro, a primeira vice-presidência da Assembléia.

            Hoje tem dois cargos na Mesa. Se “der azar” pode acabar com apenas um deles, mas certamente, sejam um ou dois, não será a primeira vice-presidência e entre os governistas, no momento, também se descarta a entrega da primeira secretaria à oposição.

            A primeira vice-presidência não ficará com a oposição por causa das eleições de 2014 na Bahia. Caso, nos acertos a serem feitos dentro da coalizão governista, o governador Wagner e o vice-governador Otto Alencar deixem seus cargos para concorrer a outros (há hipótese diferentes), o presidente da Assembléia Legislativa, Marcelo Nilo, poderá assumir por até 30 dias, interinamente, o cargo de governador, enquanto a Assembléia elege um governador titular – que poderia ser ele mesmo – para ficar no cargo até 31 de dezembro de 2015. Aí então assumirá o novo governador eleito pelo voto direto, com mandato de quatro anos.

            A questão é: saindo o pedetista Marcelo Nilo da presidência da Assembléia para o cargo de governador, o primeiro vice-presidente do Legislativo assumiria a presidência deste poder. E o governismo não quer nem pensar em entregar esse filé político a um oposicionista. Por isto a oposição não terá a primeira vice-presidência da Assembléia. Qual partido terá esse privilégio? Bem, tem o PT, o PSD, o PT, o PSD, o PT, o PSD...
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Este artigo foi publicado originariamente na Tribuna da Bahia desta quinta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano