Sexta, 22 de julho de 2016
Daniel Isaia - Correspondente da Agência Brasil
O engenheiro Zwi Skornicki, preso na 23ª fase da
Operação Lava Jato, disse hoje (21) que as empresas Keppel Fels e
Technip fizeram doações eleitorais registradas ao Partido dos
Trabalhadores (PT) como parte da propina acertada por contrato firmado
com a Petrobras para construção da plataforma P-56. Skornicki prestou
depoimento ao juiz federal Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba,
em acordo de delação premiada celebrado com o Ministério Público
Federal (MPF).
A afirmação foi feita quando Moro perguntou a
Skornicki como eram feitos os repasses de dinheiro ao PT. “Na P-56, como
houve doações legais da propina, teve a participação do Frédéric
Delormel [presidente da Technip], que organizou como fazer essas doações
legais ao partido”, relatou o engenheiro, que é representante no Brasil
do estaleiro Keppel Fels.
Em 2002, a Technip e a Keppel Fels se
uniram em um consórcio, a FSTP, que venceu, no ano seguinte, a licitação
da Petrobras para a construção das plataformas P-51 e P-52. Skornicki
conta que havia acertado com o consultor Raul Schmidt Felippe Júnior o
pagamento de propina à Petrobras para garantir que o consórcio venceria a
licitação.
Segundo o engenheiro, na véspera do envio das
propostas pelas empresas, Schmidt entregou a ele uma cópia do orçamento
que a Petrobras pretendia pagar à empresa vencedora. Schmidt foi preso
em março, em Portugal, e aguarda extradição para o Brasil.
“O
valor que tinha sido proposto era de 0,6% para a P-51 e de 0,7% para a
P-52”, contou. Segundo ele, a propina era destinada a pessoas da
Petrobras: “[Schmidt] não me disse os nomes, porque ele queria manter
isso em segredo. Era o trabalho dele”. O engenheiro calcula que o valor
dos pagamentos referentes a essas plataformas foi de, pelo menos, US$ 9
milhões.
Plataformas P-56 e P-58
Segundo o
engenheiro, no caso dos contratos para a realização das plataformas
P-56 e P-58, o intermediário das propinas passou a ser o ex-gerente de
serviços da Petrobras Pedro Barusco.
“Ele
disse que eu teria que atender também às necessidades do PT. Ficou
combinado que seria de 1% a comissão, 0,5% ficaria para o grupo dele e
os outros 0,5% para o partido”, relatou o delator, que disse também ter
sido apresentado ao ex-tesoureiro petista João Vaccari Neto por Barusco.
Os
pagamentos ao PT, segundo Skornicki, eram feitos através de uma
conta-corrente aberta no exterior para pessoas indicadas por Vaccari.
“Uma das pessoas foi a Mônica [Moura, esposa do publicitário João
Santana]. Foram pagos US$ 5 milhões a ela, em dez parcelas de US$ 500
mil”.
Hoje, também em depoimento a Moro, Mônica Moura disse que os pagamentos efetuados por Skornicki foram utilizados como caixa 2 da campanha eleitoral de 2010 do PT.
Navios-sonda
No
depoimento desta quinta-feira, Zwi Skornicki também confirmou que houve
pagamento de propina para que a Keppel Fels fechasse contrato com a
Sete Brasil para a construção de seis navios-sonda. De acordo com o
relato, propina exigida era de 1,2%, mas a empresa de Singapura só
aceitava pagar 0,9%. Segundo ele, Barusco aceitou a proposta com uma
condição: “Ele me disse que tinha feito todo esse trabalho sozinho, e
pediu pra que eu pagasse mais 0,1% por fora, sem conhecimento das
partes. Assim foi feito”.
Moro também perguntou ao engenheiro por
que motivo a Keppel Fels aceitou continuar pagando propina em novos
contratos com a Petrobras e com a Sete Brasil, em vez de simplesmente
participar das licitações. Skornicki respondeu: “Pra não termos nenhum
embaraço durante as obras, nenhuma interferência. Para não atrapalhar,
essa é a verdade. E aí, realmente ficou como se fosse uma coisa
corriqueira. Acabou ficando um troço tão intrínseco, tão automático”,
acrescentou.
Outro lado
O ex-tesoureiro
do Partido dos Trabalhadores João Vaccari Neto, preso em abril do ano
passado, também foi levado a depor hoje na 13ª Vara Federal de Curitiba,
mas optou por permanecer em silêncio.
O PT divulgou uma nota
contestando os depoimentos de Zwi Skornicki e Mônica Moura. Segundo o
comunicado, “todas as operações do PT foram feitas dentro da legalidade.
As contas da campanha eleitoral de 2010 foram, inclusive, aprovadas
pela Justiça Eleitoral”.