Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

quinta-feira, 15 de março de 2018

Morreu a preta da Maré; Uma de nós

Quinta, 15 de março de 2018

Uma de nós
Uma voz 
Menos uma
Voz 
De nós
Mais uma
Silenciada
Executada 
Mais uma 
Que é nós
Que ata 
Que peita
Que brada
Mais uma
Açoitada a tiros
Como a chibata 
Que açoitava
O couro preto
Que reluz em nós
Escravizadas
Aprisionadas
Hoje assassinadas
Dizimadas 
Pelo mesmo algoz
Mas seu eco
É grande 
Sua imagem 
É nossa
Seu nome
É imenso, 
É Mar
E ele 
não a matará
Dentro de nós
Guerreiras como vós 
Unidas a fortes nós 
Não calaremos
Venceremos
Te honraremos 
Até que não reste
Vestígio sequer
Deste bruto algoz

(Por Larissa de Paula Couto. Pela memória de Marielle Franco. Rio de Janeiro, 14 de março de 2018)

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Morreu.
Morreu a preta da maré,
a negra fugida da senzala
que foi sentar com "os dotô" na sala
e falar de igual pra igual com "os homi".
A negra que burlou a fome de se saber,
que fez crescer dentro dela, o conhecimento.
Aquela, que por um momento de humanidade,
sonhou com a justiça, lutou por liberdade
e ousou ir mais alto,
do que permitia sua cor.
"Mas preta sabida, não pode!
Muito menos pobre! Não tem valor."
Diziam as más línguas na multidão.
E ela ousou tirar seus pés do chão.
Morreu.
Morreu a "preta sem noção", 
que falava a verdade na cara do patrão,
que carregava a coragem, como bagagem,
no coração.
O tiro foi certo,
acertou com maldade,
ecoando seco no centro da cidade. 

Anielli - Poeta de Vota Redonda