Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

sexta-feira, 16 de março de 2018

Opinião: Marielle explodiu Bolsonaro

Sexta, 16 de março de 2018


Acompanhem atentos, o definhamento de Bolsonaro e que, a bem da verdade, já seguia...

Por Ângelo Cavalcante - Brasilia 247
e Portal ContextoExato

"Bandido bom é bandido morto"; "pela memória do coronel Brilhante Ustra... O terror de Dilma Roussef"; "Eu mandaria subir a Rocinha e lá fuzilaria todo mundo..."; "Não te estupro porque você não merece!"; "A única coisa que presta no Maranhão é [o presídio de] Pedrinhas"...

E segue enorme, extensa e incontável a lista de sandices e despautérios de Bolsonaro! Vaidoso, prepotente, misógino, homofóbico e racista é de muito longe, um dos piores quadros da já muito degradada direita brasileira. Candidato a presidência levou um tiro certeiro e que já faz sangrar de morte sua aventura eleitoral. O tiro simbólico e mais mortal do que qualquer projétil de uma 'kalashnikov' sepulta, a partir de agora, todas as suas pretensões. Acompanhem atentos, o definhamento de Bolsonaro e que, a bem da verdade, já seguia...

Quem deu? Não foi Marielle que, por sinal, tinha pavor de toda e qualquer sorte de violência mas o crime organizado do Rio e que, lembremo-nos, já é do Brasil; as milicias, a 'banda podre' da PM fluminense que, por triste lembrança, está em todas as corporações militares do país; foi a indisciplina, a conspiração, o ardil da corrupção e a alta traição não somente aos juramentos e estatutos do ofício militar e que tem por dever a proteção do povo brasileiro e, sobretudo, dos que mais precisam mas ao futuro que carecemos. A candidatura de Bolsonaro que tenta se afirmar como alternativa vai se distanciando, mais ainda, do povo e de suas organizações; nada pior para quem precisa justamente do povo para "chegar lá"! O silêncio de 'Bolso' acerca da tragédia que ceifou a vida de Marielle é um monumento ao erro político; é o silêncio da concordância, dos que afiançam, acreditam e legitimam e revela, por sua vez, o tamanho do oceano existente entre esse indivíduo e os sentimentos e afetos populares.

Líderes, da esquerda e da direita, do Brasil e do mundo se levantaram de imediato com todas as vozes e entonações para repudiar seu assassinato; para a defesa da democracia e da sua realização objetiva na militância política livre, aberta, franca e sincera mas Bolsonaro... Não! Ele, em muito estranha educação e em espantoso emudecimento, o que jamais fora do seu feitio; em simbolismo revelador mostrou a que veio e com tal gesto, acaba de nos demonstrar seu plano para o drama dos direitos humanos no Brasil; sua estratégia para a inclusão de negros, pobres e indígenas às dinâmicas sociais da nação.

Seu silêncio absolutamente revelador é a essência, o eixo, o prumo e o norte da sua política e será desse silêncio que virá o trágico de suas propostas para um país esfacelado pelo golpe, pela miséria e pelo crime organizado, esse corpo vivo e extenso, amébico, gelatinoso e integralmente presente em todos os quadrantes da federação.

A morte de Marielle é definitivo divisor político de 2018 e alterou tudo e para todos; a guerra eleitoral deste ano começa com toda a carga e contundência no 14 de março; no sangue negro e militante derramado; no suplício, na dor, na agonia e está definitivamente dada a largada para o Planalto. Vai ser um "vale tudo" dos diabos... O sangue desta mulher é dor que pulsa e viceja mas, da mesma forma, é sinal libertário e revolucionário. A esquerda que aprenda! Deve beber desse sangue; deve sorver, inalar fundo a fragrância de dor e esperança do sangue de Marielle e; essa essência deve adentrar fundo nas entranhas de toda a esquerda para uma nova alquimia política surgir, despontar, tomar forma para vencer os inimigos do povo.

Ângelo Cavalcante

Economista, cientista político, doutorando na USP e professor da Universidade Estadual de Goiás (UEG)