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(Millôr Fernandes)

quinta-feira, 11 de abril de 2019

O fascismo

Quinta, 11 de abril de 2019

Do  https://jornalinfocruzeiro.com.br

Por
Salin Siddhartha
O fascismo foi um movimento que surgiu e se desenvolveu na Itália, na década de 1920, e serviu como modelo para regimes ditatoriais na Alemanha, Espanha, Portugal, bem como para movimentos na Inglaterra, Letônia, Estônia, Polônia, Hungria, Romênia, Bulgária, Grécia, Iugoslávia, Noruega e em quase toda a América do Sul. O fascismo ganha vida em tempos de decepção com o fracasso da democracia representativa. Assim, como uma forma extrema de regime mais que autoritário, o fascismo manifesta-se totalitário, acolhe e predomina sobre o vácuo que a situação normal da natureza política abomina.
O pessimismo, a descrença nas instituições ante a possibilidade de degeneração política, social e econômica é o ambiente ideal para o surgimento e propagação do fascismo. Esse movimento se nutre, especialmente, do antiparlamentarismo, do irracionalismo, do nacionalismo agressivo e das propostas de soluções violentas e ditatoriais para resolver problemas oriundos de crises.
De maneira contumaz, o fascismo surge quando a democracia burguesa deixa de servir à oligarquia financeira, e esta última tem que rompê-la para recorrer à sua ditadura irrestrita. Então, o fascismo alicia muitos líderes liberais sob o argumento de que é capaz de realizar reformas sociais suficientes para fornecer uma alternativa revolucionária à ameaça comunista.
O surgimento histórico do fascismo

Quando o fascismo eclodiu, a Itália encontrava-se em uma situação caótica, e o Legislativo atuava como um balcão de negócios onde se trocavam favores políticos. Para piorar, o Rei daquele país, Vítor Emanuel, era inseguro. Àquela época, os grandes líderes políticos italianos viviam às turras uns com os outros, mas evitavam comunicar-se com a sociedade; era o momento perfeito para o surgimento de um autêntico líder de massas.

Em Milão, algumas dezenas de lideranças populares, revoltadas com a situação por que passava o país, reuniram-se, em 1919, e escolheram, como símbolo, os fasces (um feixe de vara de bétulas com um machado acoplado que, em tempos imemoriais, representara o poder dos cônsules romanos). Apenas 44 nomes assinaram o manifesto de fundação do movimento fascista para sua incursão pelas urnas naquele ano, mas, dali a apenas 2 anos, o movimento fascista apresentou-se com mais de 2 mil divisões territoriais, e Benito Mussolini passaria a ser seu líder. A partir de então, o Movimento solidificou-se como partido político e construiu sua história.

O fascismo teve início sob os auspícios de Benito Mussolini, um dirigente que exercia fascínio sobre as massas e se aventurava no campo do descontentamento geral, comprometendo-se com tudo o que acenasse com um combate a possíveis causas dos temores do povo. Mussolini defendia uma união de classes, com os trabalhadores, estudantes, soldados e empresários compondo uma frente unida; contudo, ao conquistar o poder, fincou um regime totalitário doutrinariamente vinculado a um nacionalismo fanático, concentrando o mando totalmente nas mãos do líder do governo, o qual podia tomar qualquer decisão sem consultar previamente os representantes da sociedade. Ele reverteu o contrato social, pois, em vez de os cidadãos darem poder ao Estado em troca da proteção dos seus direitos, o poder emanava do líder, e as pessoas não tinham direitos – sob o fascismo, a missão dos cidadãos é servir.
Para enfrentar os socialistas, os fascistas serviam-se de destacamentos de desempregados armados (as Ligas de Combate – Fasci di Combattimento), a fim de agredir e balear lideranças sindicais, depredar sedes de periódicos e surrar trabalhadores da cidade e do campo; eram quadrilhas que costumavam ter policiais como simpatizantes, fazendo “corpo mole” às chacinas que vitimavFam os esquerdistas. Os fascistas propunham-se a afugentar os socialistas e eram incompassíveis ao utilizar-se da violência. Usavam camisas pretas, calças verde-acinzentadas e, na cabeça, traziam um barrete com um pendão.

Os fascistas italianos não tinham programa político (alguns o viam como uma maneira de recuperar o capitalismo e a Igreja, outros, como a defesa da tradição monárquica; para muitos, era a restituição à glória da Itália ou uma forma de licença para cometer atrocidades). Mussolini sumarizava o manifesto fascista como o “quebrar ossos dos democratas… e quanto mais cedo, melhor”.
O Rei Vítor Emanuel pediu que Mussolini fosse a Roma substituir o Primeiro Ministro, que havia perdido a maioria no parlamento e atuava na condição de governante provisório. Desse modo é que Mussolini galga o auge da direção política da Itália, atingindo seu objetivo sem ganhar uma eleição sequer nem violar a Constituição.
Os políticos conservadores viam o líder fascista como alguém atrás de quem poderiam esconder-se, manipulando-o e, quando fosse conveniente, substituí-lo; todavia Mussolini não respeitava os seus opositores, entretanto reivindicava e conseguia a autorização para fazer o que bem entendesse: ele empregou as quadrilhas fascistas no serviço de segurança, acabou com o sistema de júri, tornando confuso o devido processo legal: sem a força e a ameaça do corpo do tribunal de júri, e com magistrados que se subordinavam diretamente ao Estado, o Poder Judiciário ficou incorruptível e dócil.

Mussolini tinha uma insaciável fome de poder. Proibiu de existir todos os partidos políticos adversários, suprimiu a liberdade de opinião, neutralizou o movimento trabalhista e reservou a si mesmo o direito de nomear autoridades municipais. No intuito de impingir seus decretos, passou a controlar a polícia; para abafar o poder da Monarquia, exigiu o poder de autorizar o sucessor do Rei da Itália; para acalmar a Igreja Católica, fechou os bordéis, aumentou os vencimentos dos párocos, no entanto passou a ter o direito de aprovar a designação dos bispos.
O que é um regime fascista?
É comum haver confusão quanto à diferença entre fascismo e conceitos semelhantes, como totalitarismo, ditadura, tirania e autocracia; porém um fascista é alguém com profunda identificação com um grupo determinado ou nação em cujo nome se predisponha a falar, que não dá a mínima importância para os direitos humanos e está disposto a usar os meios que forem necessários (inclusive a violência) para atingir suas metas. O fascismo se caracteriza como um movimento autocrático de ultradireita, defensor do militarismo, do fortalecimento das forças armadas e de cunho belicista.
Um fascista será provavelmente um tirano, porém um tirano não necessariamente será um fascista, porque o fascista espera o apoio do povo. Enquanto ditadores tentam acalmar seu povo, fascistas instigam seus militantes a estar dispostos a atacar primeiro e, com poder de fogo, já assim que a luta começa. Para tanto, no regime fascista, o governo censura previamente todos os órgãos de comunicação, coloca na ilegalidade os partidos políticos que não sejam de direita, legaliza a prisão perpétua e a pena de morte para os presos políticos, reprime o movimento sindical, suprime o direito de greve e submete o Poder Legislativo ao Poder Executivo.

O fascismo adota o terrorismo de Estado, apoia-se no combate e perseguição aos socialistas e comunistas, às minorias étnicas, raciais, religiosas e de gênero. A propósito, a História tem demonstrado que sempre que forças de inspiração fascista chegam ao domínio político de um país, o primeiro alvo é o Partido Comunista, organização mais aguerrida no combate ao fascismo.
Cruzeiro-DF, 10 de abril de 2019
SALIN SIDDARTHA