Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

domingo, 10 de janeiro de 2021

Brasil precisa de lockdown nacional, diz pesquisador de Oxford

Domingo, 10 de janeiro de 2021



Na avaliação do médico Ricardo Schnekenberg, pesquisador da Universidade de Oxford e do Imperial College, no Reino Unido, o Brasil precisa entrar em "lockdown" nacional.

Em uma entrevista ao jornal O Globo neste sábado (9), Ricardo Schnekenberg disse que a abordagem regional da pandemia tem problemas práticos, e não basta que estados apliquem restrições. Para ele, o lockdown é uma medida ruim, "que ninguém quer tomar, mas, diante da situação atual, é a única possível".

O pesquisador aponta que, após bater 200 mil mortes nesta semana, "outras medidas não gerarão efeito suficiente no tempo que temos até a vacina ser implementada". 

"Não estamos na mesma situação de março, em que se falava em lockdown e não se tinha perspectiva de quanto tempo iria demorar. Agora [com as vacinas] temos um horizonte muito mais próximo. É uma medida de curto prazo, que não faz o vírus desaparecer, mas reduz o número de casos para que outras sejam implementadas e tenham efeito a longo prazo", explicou Schnekenberg.
Manifestantes protestam, em terminal rodoviário de Brasília, contra demora para início da vacinação contra a COVID-19 no Brasil, em 23 de dezembro de 2020
© AP PHOTO / ERALDO PERES
Manifestantes protestam, em terminal rodoviário de Brasília, contra demora para início da vacinação contra a COVID-19 no Brasil, em 23 de dezembro de 2020

Segundo ele, a exemplo do Reino Unido, o governo do Brasil deveria implementar o confinamento com organização a nível nacional.

"Na situação em que o Brasil está, com transmissão comunitária em graus tão elevados, outras medidas de controle não são efetivas", afirmou. O cientista acredita que autoridades regionais não têm a capacidade necessária de fiscalização.

"O poder público estadual e municipal não têm capacidade de fiscalização suficiente e não parece que a população realmente esteja aderindo de forma significativa", afirmou.

Ao falar sobre a possível volta de um lockdown no Brasil, o pesquisador enfatizou a importância do auxílio emergencial durante esse período. "Não tem como esperar que as pessoas percam o ganho e fiquem em casa sem ter nenhum suporte. Em outros países isso sempre vem acompanhado de pacotes de suporte financeiro, empréstimos a juros baixos e diversas medidas", afirmou.

Movimento em frente a agência da Caixa Econômica Federal na cidade de Brasília, na manhã desta segunda-feira (14). A Caixa realiza o pagamento do auxílio emergencial e o saque emergência do  FGTS. Benefícios tem o intuito de minimizar o impacto causado pela pandemia do novo coronavírus.
© FOLHAPRESS / MATEUS BONOMI
Movimento em frente a agência da Caixa Econômica Federal na cidade de Brasília, na manhã desta segunda-feira (14). A Caixa realiza o pagamento do auxílio emergencial e o saque emergência do FGTS. Benefícios tem o intuito de minimizar o impacto causado pela pandemia do novo coronavírus.
O pesquisador acredita que o confinamento deve ser "intenso", com o fechamento de todas as atividades não essenciais.

"Acredito que um lockdown extremamente intenso seja necessário, mantendo somente atividades essenciais e estabelecendo fiscalização forte para que as pessoas respeitem as regras. Cada domicílio deve conviver dentro de sua bolha familiar até o final do lockdown, com as únicas saídas diárias permitidas para compra de itens essenciais, consultas médicas e exercício físico ao ar livre respeitando o distanciamento social", concluiu o pesquisador.

Críticas ao Enem

Ao ser confrontado com a informação sobre a data do Enem no Brasil em meio ao aumento de casos da COVID-19, Ricardo Schnekenberg falou em absurdo e situação imoral.

"Esse tipo de conduta é absurdo do ponto de vista sanitário. Nenhum país faz um evento como esse — que podemos chamar de evento de superdisseminação — em um momento em que está tendo 1.200 mortes por dia. O Reino Unido ia ter algo parecido, uma prova que os adolescentes fazem no final do ensino médio e conta para a entrada na faculdade, e foi cancelada em 2020 e em 2021 inteiro".

Ainda com relação ao exame, o pesquisador de Oxford lançou um questionamento: "qual pessoa vai deixar de realizar uma prova tão importante assim? Vai acordar com tosse seca e cansada e não vai fazer o exame? Isso é absurdo. Fora o risco dos assintomáticos. E tem o lado das famílias, que podem ter idosos ou outros grupos de risco que estejam seguindo todas regras para se proteger: vão dizer para seu filho ou neto que tem que perder um ano porque não vai fazer a prova, ou vão aceitar o risco? Estamos colocando as famílias em uma situação imoral".