Quinta, 3 de abril de 2025
PÁTRIA LATINA - PAPO DO DIA - Quarta-feira 2 de abril de 2025
Compartilhado
Netanyahu e Bolsonaro, em foto de dezembro de 2018 no BrasilL.Correa (AFP)
Pedro Augusto Pinho*
UM PAÍS GENOCIDA
“Israel rompe unilateralmente o cessar-fogo e mata mais de 400 pessoas em novo ataque contra Gaza” noticiam agências de notícia em 18/03/2025.
Notícia de ontem: “O Crescente Vermelho Palestino informou, neste domingo (30), que encontrou os corpos de 14 pessoas, entre elas médicos e socorristas que foram mortos a tiros pelo Exército israelense, há uma semana, em ataque a ambulâncias no sul da Faixa de Gaza.”
“A reportagem é publicada por Radio France Internacional – RFI, 30-03-2025.”
“O número de corpos recuperados até agora é de 14, incluindo oito paramédicos das equipes do Crescente Vermelho Palestino, cinco membros da Defesa Civil e um funcionário da agência da ONU”, afirmou a organização médica em um comunicado, sem especificar a qual agência da ONU estava se referindo.
Como se explica que tal selvageria ainda receba visita de líderes políticos, sem que eles percam seus eleitores, e auxílio de países que se dizem democracias e de povos que se professam cristãos?
Estariam os povos ocidentais anestesiados pelas farsas informacionais?
O caso de Israel, no entanto, é uma história muito antiga. Ela mistura a etnia com a religião há mais de quatro mil anos.
Como sabemos o “homo sapiens” foi a última etapa da evolução dos australopitecos surgidos na depressão de Afar, no leste da África, onde hoje existem os estados da Eritreia, Etiópia e Djibuti. É o lugar onde ocorre o encontro de três placas tectônicas (Arábica, Africana e Somaliana), que estão se separando ao ritmo entre um e dois centímetros por ano.
Durante milhares de anos os “homo sapiens” vagaram pela África, antes de atravessarem o Mar Vermelho e ocuparem o Oriente Médio: sumérios, assírios, babilônios, fenícios e hebreus.
Egípcios, sumérios, fenícios formaram as mais antigas civilizações e os hebreus não se sentiram capazes de as enfrentar, quer nas trocas comerciais quer nas disputas territoriais. Para sua própria autoestima e unidade étnica criaram um deus só para eles, Jeová, e a religião que se mistura com a própria história dos judeus, o Velho Testamento da Bíblia, que atende a judeus e cristãos.
Porém frágeis para manterem-se territorialmente, foram se espalhando pelas áreas conquistadas por outros povos, ao norte (Europa) e na Ásia (Oriente Médio), principalmente. Mas sem se miscigenarem; sem se misturar com outros povos e, eventualmente, perderem a religião e as características físicas e culturais.
E assim viveram os judeus por mais de 3.000 anos, até que, vítimas do holocausto nazista, ganharam a compaixão e o interesse geopolítico da Inglaterra para criação do Estado de Israel, no meio do mundo árabe.
Surge então o pretexto da guerra, que Israel contará com o apoio e recursos do Reino Unido e da sua projeção nas Américas, os Estados Unidos da América (EUA).
Assim, desde 1949 há perpétua guerra dos israelenses contra os palestinos e árabes. Tendo Israel sempre o apoio do Reino Unido, dos EUA e dos países que estes colonizam: politica, econômica, cultural e financeiramente, como o Brasil.
Parte deste apoio são expressões midiáticas como ocorre em muitas referências nos veículos de comunicação: os militantes do Hamas, que defendem o direito dos palestinos a ocupar a terra de seus ancestrais são denominados “terroristas”; já os assassinos dos médicos e crianças das milícias e mesmo do exército israelenses são “defensores”, “soldados”, “combatentes”.
O Brasil importando de Israel ajuda aquele país a prosseguir com o genocídio e ampliar a guerra contra o mundo árabe e os palestinos.
MEDO DE UM BENFEITOR!
A Rússia é um país relativamente novo. Surge no século XIII na luta contra os mongóis, com personagens quase míticos como Alexandre Nievski. Pelo século XIV, os Danilovitchs fundam Moscóvia, um novo Estado. Além do poder político e do militar, o cristianismo forma, com a Igreja Ortodoxa, a base espiritual desta nova nação.
Nancy S. Kollmann (“A Rússia moscovita 1459-1598”), Hans-Joachim Torke (“Da Moscóvia a Sampetersburgo 1598-1689”), e John T. Alexander (“A era petrina e depois 1689-1740”) todos em “História da Rússia” (organizada por Gregory L. Freeze, traduzidos por Pedro Elói Duarte para Edições 70, Lisboa, 2022) escrevem sobre a formação da Rússia, onde se encontram: “para governar este império em expansão, os soberanos de Moscou elaboraram estratégias de governação que eram flexíveis, integradoras e minimalistas; raramente usavam a coerção, mas eram implacáveis”. “O resultado foi um sistema político vagamente centralizado, rico em ambição, pobre em recursos e resistente perante as crises”.
Pedro I (1672-1725) foi o primeiro soberano a ter seu nome em russo e línguas europeias. Foi importante na modernização e ocidentalização da Rússia, país que estava muito defasado nos costumes e tecnologias em relação às potências ocidentais. Sua chegada ao poder, derrotando turcos, suecos e russos antagônicos à ocidentalização, se aliando a Dinamarca, Polônia e Saxônia e buscando construir uma frota russa foi denominada Paz Eterna.
A Rússia Soviética. Poucos imaginaram que, após três séculos de domínio, a dinastia Romanov pudesse desaparecer em poucos dias. Mas a Revolução de Fevereiro, começando em São Petersburgo, contra escassez de alimentos, rapidamente leva à abdicação do czar Nicolau II (2 de março de 1917) e à formação do governo provisório de Alexander Kerenski. No entanto, a chegada de Vladimir Lenine e o aumento da influência bolchevique levaram à Revolução de Outubro e à deposição de Kerenski, que foge para França e, por influência de Woodrow Wilson, se refugia e acaba por falecer nos EUA.
A História da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) tem muitas versões, mas nenhuma nega que foram os soldados russos que derrotaram a Alemanha Nazifascista de Adolf Hitler, permitindo que a Europa, sobretudo a Ocidental, mantivesse seus reis, sistemas de governo, como se habituaram desde os Romanov.
Destacam o período de Joseph Stalin como representativo não de um governo mas de todo o povo russo, esquecendo-se do extraordinário avanço na industrialização, no desenvolvimento tecnológico, na educação e saúde para todo povo, não só da Rússia mas de todas as Repúblicas Socialistas Soviéticas.
Inquirida uma senhora, nascida na Bósnia Herzegovina, sobre a memória que tem dos relatos de sua mãe, que viveu todo tempo do comunismo, ela respondeu a solidariedade de todos diante de qualquer problema. Foi uma conquista só possível pela eliminação da competição capitalista que coloca irmão contra irmão, na busca do lucro, do enriquecimento.
PAÍS DA MENTIRA E DA ESCRAVIDÃO
A Constituição dos EUA entrou em vigor há 236 anos, quinze meses após sua aprovação por 55 delegados de 12 Estados, a saber: Carolina do Norte (cinco delegados), Carolina do Sul (quatro), Connecticut (três), Delaware (cinco), Geórgia (quatro), Maryland (cinco), Massachusetts (quatro), Nova Hampshire (dois), Nova Iorque (três), Nova Jersey (cinco), Pensilvânia (oito) e Virgínia (sete).
Charles L. Mee Jr (1938) é historiador e dramaturgo estadunidense, nascido em Illinois, que, entre outros trabalhos, escreveu em 1987 “A História da Constituição Americana” (traduzida por Octávio A. Velho, para Expressão e Cultura, RJ, 1993).
Assim Mee Jr inicia o Prólogo deste seu livro. “Há duzentos anos, em maio de 1787, algumas dezenas de delegados — todos homens, todos brancos, todos membros de boa reputação da instituição política americana, todos homens de posse — donos de escravos e de plantações, fazendeiros, negociantes, advogados, banqueiros e armadores — reuniram-se na Assembleia Legislativa, na Filadélfia, onde, nos vários meses subsequentes, redigiram a Constituição dos Estados Unidos, que serviu desde então como alicerce do país”.
Estes homens formaram a sociedade dominada pelos ricos e poderosos, uma plutocracia, cuja Constituição, com somente 27 emendas, prevalece até hoje.
“Ao término da Convenção, nenhum dos delegados, nem um sequer, estava inteiramente satisfeito com a constituição que haviam elaborado”. “Eles dissiparam a aura de virtude pública dos Pais Fundadores, a fim de desvendar homens bastante humanos, visando a suas próprias fortunas tanto quanto à sua fama”. James Madison, da Virgínia, buscava na Constituição resolver a disputa local pela criação de ostras, os nova-iorquinos, cidade nada salubre, sentiam-se aristocratas saudosos da Inglaterra, assim, cada delegado pensava egoisticamente, nenhuma ideia para o País que surgia, senão a manutenção dos privilégios dos que ali se encontravam.
Não admira que destes homens acabaria por surgir uma Guerra Civil, a Guerra da Secessão, entre 1861 e 1865, que para muitos, como o escritor Isaac Asimov (“The Golden Door – The United State from 1865 to 1918”), a União sobrevivera, cada centímetro do território estadunidense estava intacto.
Começam a se incorporar à União, por guerras, aquisições, extermínio dos povos indígenas, pelo Destino Manifesto (1845): Oregon (1859), Nevada (1864), Washington (1889), Dakota do Norte e do Sul (1889), Montana (1889), Idaho (1890), Wyoming (1890), Utah (1896), Oklahoma (1907), Novo México (1912), Arizona (1912), Alaska e Havaí (1959).
Este país cuja própria história é uma farsa que se apresenta como exemplo, como terra da liberdade e da democracia (sic) que pretende agora manter o genocídio israelita e a destruição da Federação Russa.
Como o jornal “O Globo”, na quarta-feira, 1º de abril de 1964, no editorial com título “Ressurge a Democracia!”, não se acanha ao escrever: “Vive a Nação dias gloriosos, Porque souberam unir-se todos os patriotas, independentemente de vinculações políticas, simpatias ou opinião sobre problemas isolados para salvar o que é essencial: a democracia, a lei e a ordem”.
*Pedro Augusto Pinho, administrador aposentado.