A PERDA DO PODER DE COMPRA DO DÓLAR E A INSUSTENTÁVEL DÍVIDA AMERICANA
Salin Siddartha
Os Estados Unidos estão sendo excluídos das novas redes comerciais dos países, corroendo a confiança no dólar. O dólar, hoje, é rejeitado pelos estrangeiros; há uma ameaça de desdolarização que conduz o mundo a se aproximar de uma ruptura da ordem monetária.
Ninguém mais confia em Donnald Trump, porque ele mente e perdeu credibilidade ao tomar medidas para criar impacto que não deram certo. Os 90 dias de pausa nas taxações são fruto da pressão exercida contra sua política. Todavia, o problema principal, em si, não são as tarifas, e sim a perda americana da capacidade monetária.
No caso do aumento das tarifas, Trump está jogando inutilmente para a plateia, ao contrário dos líderes chineses, que não precisam disso, porque não é na China que está o déficit, mas na América do Norte. O déficit fiscal dos EUA chega a cerca de 3,9 trilhões de dólares por ano.
O tempo está contra os Estados Unidos da América. Só neste ano, vencem 12 trilhões de dólares da dívida estadunidense que precisam ser rolados como parte dos 37 trilhões de dólares do que eles devem ou, então, declararem-se inadimplentes. Esse é o problema central para resolver a crise com que a América do Norte se meteu, visto que os preços saíram do controle, e a dívida não pode ser rolada à taxa de juros zero; o Departamento do Tesouro não tem onde arranjar 12 trilhões de dólares para refinanciar a dívida (ou seja, o pagamento da dívida ficou insustentável nos EUA — é aritmeticamente impossível fazer a rolagem da dívida).
A colocação dos títulos estadunidenses ficou muito difícil. Já faz tempo que ninguém está comprando título da dívida pública dos Estados Unidos, e como os títulos do Tesouro Norte-Americano ficaram sem compradores, o próprio FED passou a ser comprador e, para comprar, o Tesouro precisa imprimir dinheiro, monetizando a dívida que ele mesmo, dessa maneira, é quem financia. Acontece que, para comprar os títulos do Tesouro Americano, o FED precisa imprimir dinheiro, o que gera mais inflação. A propósito, a inflação de Tio Sam não está em apenas 3%, isso é uma invenção de Washington a fim de que os políticos tradicionais possam ter a desculpa para gastar mais do que podem arrecadar.
Como o dólar está inflacionado, passam a usar o preço como um fator de ajuste, quer dizer, passa a haver uma quantidade imensa de dinheiro sem aumentar a oferta de bens e serviços. Sabe-se que 50% dos dólares que circulam no mundo foram impressos do ano de 2020 em diante, contudo não se sabe até onde o dólar vai continuar a perder o poder de compra — o fato é que o dólar não merece mais crédito. O poder de compra do estadunidense começa a decrescer (a subida do ouro é um reflexo da perda do poder aquisitivo da moeda).
Por outro lado, a regulação bancária, nos últimos anos, foi alterada porque não é possível marcar a carteira de créditos e a carteira de títulos a preço do mercado, haja vista terem emprestado demasiadamente e feito hipotecas em longuíssimos prazos, às vezes, até em mais de 30 anos, a uma taxa de juros zero e, agora, precisarem submeter-se a taxas de juros de 5%. Recentemente, foi mandada ao Congresso dos Estados Unidos uma alteração no ordenamento bancário, cometendo o erro de entupir os bancos com títulos públicos (que ninguém quer comprar) e, assim, deixá-los insolventes. Ora, os ativos não estão com preços razoáveis nem sustentáveis e, o primeiro estopim catalizador que ocorrer vai trazê-los para uma realidade imprevisível, já que não se consegue calcular qual vai ser a reação da sociedade estadunidense.
A taxa de juros poderá subir, elevando o índice de preços ainda mais, o que levará a governança de Washington a falsificar estatísticas (que já estão falsas) para não ter que admitir que o Departamento do Tesouro perdeu o controle das contas nacionais, deixando o Federal Reserve desorientado, com a situação dos bancos ficando crítica. (Na verdade, os juros de longo prazo tendem a ficar cada vez mais caros.) O MIT publicou recentemente um trabalho de fôlego alertando que a nação norte-americana corre o risco de um retrocesso de mais de 2% do PIB.
Em suma, com um déficit fiscal de cerca de 3,9 trilhões de dólares ao ano, a economia dos EUA não tem condição de sustentar os preços, e todo mundo vai terminar pagando a desvalorização do dólar. Para piorar, o papel consumidor dos Estados Unidos e de produtor da dívida para financiar o seu consumo é insustentável.
Guará-DF, 5 de maio de 2025
SALIN SIDDARTHA