Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)
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quarta-feira, 3 de julho de 2024

O ajuste estructural e o consenso de Washington não foram abandonados

Quarta, 3 de julho de 2024

Série: 1944-2024, 80 anos de intervenção do Banco Mundial e do FMI, basta!


O ajuste estructural e o consenso de Washington não foram abandonados

Photo : IMF, CC, Flickr, https://www.flickr.com/photos/imfphoto/47581233601

Do

3 de Julho —por Eric Toussaint

Em julho de 2024, o Banco Mundial e o FMI completarão 80 anos. 80 anos de neocolonialismo financeiro e de imposição de políticas de austeridade em nome do pagamento da dívida. 80 anos já bastam! As instituições de Bretton Woods devem ser abolidas e substituídas por instituições democráticas ao serviço de uma bifurcação ecológica, feminista e antirracista. Para assinalar estes 80 anos, publicamos todas as quartas-feiras, até julho, uma série de artigos que analisam em pormenor a história e os danos causados por estas duas instituições.


  1. As origens das instituições de Bretton Woods
  2. O Banco mundial ao serviço dos poderosos num clima de caça às bruxas
  3. Os conflitos entre a ONU e a dupla Banco Mundial/FMI desde as origens até aos anos setenta
  4. SUNFED versus Banco Mundial
  5. Por que o Plano Marshall?
  6. Porque não é reproduzível a anulação da dívida alemã de 1953 no caso da Grécia e dos países em desenvolvimento?
  7. A Supremacia dos Estados Unidos no Banco Mundial
  8. Banco Mundial/FMI : o apoio às ditaduras
  9. O Banco Mundial e as Filipinas
  10. O apoio do Banco Mundial à ditadura turca (1980-1983)
  11. O Banco Mundial e o FMI na Indonésia: Uma intervenção emblemática
  12. As mentiras teóricas do Banco Mundial
  13. Coreia do Sul e o milagre desvendado
  14. A armadilha do endividamento
  15. O Banco Mundial apercebe-se da chegada da crise da dívida externa
  16. A crise da dívida mexicana e o Banco Mundial
  17. O Banco Mundial e o FMI: As agências financeiras dos credores
  18. Os presidentes Barber Conable e Lewis Preston (1986-1995)
  19. A operação de sedução de James Wolfensohn (1995-2005)
  20. A Comissão Meltzer sobre as Instituições Financeiras Internacionais no Congresso dos Estados Unidos em 2000
  21. As contas do Banco Mundial
  22. De Paul Wolfowitz (2005-2007) a Ajay Banga (2023-...): os homens de mão do presidente dos EUA continuam à frente do Banco Mundial
  23. O Banco Mundial e o FMI deitaram mão a Timor-Leste, um estado oficialmente nascido em maio de 2002
  24. Crise climática ecológica: os aprendizes de feiticeiro do Banco Mundial e do FMI
  25. O ajuste estructural e o consenso de Washington não foram abandonados

Nos anos oitenta, o Fundo monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial ganharam, junto dos povos dos países em desenvolvimento, a fama, perfeitamente adequada, embora pouco lisonjeira, de serem os responsáveis pela implementação de medidas extremamente impopulares impostas aos governos. Em suma, de serem os responsáveis pelos males que atingem os mais pobres. É preciso dizer que os governos, frequentemente cúmplices das classes dominantes, adoram esconder-se atrás dessas instituições, cuja sede fica bem distante, na 19.ª Avenida em Washington. Essa má reputação alastrou como um rastilho de pólvora e a imprensa dos países do Sul começou de imediato a dar por isso.

Habituadas a dizerem sem rodeios que é preciso reduzir drasticamente o orçamento social ou privatizar as empresas de serviço público, as duas instituições compreenderam, no entanto, que essa linguagem franca não era conveniente. Os povos depressa identificaram o papel motor que essas instituições exerciam nas catástrofes econômicas e humanas que ocorriam. Os protestos que surgiam na sequência dos aumentos de preços dos bens de primeira necessidade foram, de imediato, batizados de protestos anti-FMI. Os governos sofreram rapidamente fortes pressões por parte da opinião pública no sentido de não cede-rem mais às imposições do FMI ou do Banco Mundial. A pílula, extremamente amarga, tornou-se cada vez mais difícil de engolir...

Uma grande operação de comunicação foi lançada nos anos noventa, para enfrentar a bem merecida crise de legitimidade que o FMI e o Banco Mundial atravessavam (e continuam a atravessar). O discurso passou a ser o da redução da dívida e da luta contra a pobreza. Essas instituições diziam-nos que tinham compreendido a situação e que tinham mudado. No entanto, os condicionalismos ultraliberais, de sinistra memória, como os programas de ajustamento estrutural dos anos oitenta, nunca foram postos de lado. Basta ver uma série de exemplos do início dos anos 2000, em todos os continentes, para colocar essas duas instituições perante as suas próprias contradições.

No Sri Lanka, em 2005 o governo recusou um empréstimo de 389 milhões de dólares, que obrigava a reformas políticas, como a reestruturação do regime de pensões e a privatização da água.

No Equador, em julho de 2005, o governo decidiu reformar o uso dos recursos petrolíferos. Em vez de ser usada inteiramente para o pagamento da dívida, parte dela deveria ser usada para gastos sociais, especialmente para a população indígena, muitas vezes des-privilegiada. O Banco Mundial bloqueou um empréstimo de US$ 100 milhões
que havia prometido ao Equador (ver o capítulo sobre o Equador).

No Haiti, o FMI impôs, em 2003, o fim do sistema que permitia ao Governo controlar o preço dos combustíveis, tornando-o «flutuante». Em poucas semanas, o preço dos combustíveis subiu 130 %. As consequências foram terríveis: dificuldade em manter a água potável ou cozer os alimentos; aumento do preço dos transportes, que os pequenos produtores repercutem no mercado, o que leva à subida dos preços de muitos produtos essenciais. Mas como a inflação é ferozmente combatida pelo FMI, este conseguiu obrigar o governo a impor o congelamento de salários. De uma só vez, o salário mínimo diário, que era de 3 dólares em 1994, caiu para 1,50 dólares, o que deveria, segundo o FMI, atrair o investimento estrangeiro … Até mesmo nos países produtores de petróleo, como o Iraque e a Nigéria, o FMI impôs a lógica da flexibilidade de preços. Os preços aumentaram, provocando grandes manifestações de protesto das populações afetadas, como foi o caso em Bassorá, em dezembro de 2005 …

sexta-feira, 23 de julho de 2021

Gêmeos

 Julho

23

Gêmeos


Em 1944, no paraíso turístico de Bretton Woods, foi confirmado que estavam em gestação os irmãos gêmeos que a humanidade andava precisando.
Um ia se chamar Fundo Monetário Internacional e outro, Banco Mundial.
Como Rômulo e Remo, os gêmeos foram amamentados por uma loba, e na cidade de Washington, pertinho da Casa Branca, acharam onde morar.
Desde então, os dois governam os governos do mundo. Em países onde não foram eleitos por ninguém, os gêmeos impõem o dever de obediência como fatalidade do destino: vigiam, ameaçam, castigam, examinam:
— Você está se comportando bem? Fez a lição de casa?

Eduardo Galeano, no livro “Os filhos dos dias”. L&PM Editores, 2ª edição, pág. 235.