Terça, 20 de junho de 2023

Todas as reportagens analisadas usaram termos que criminalizam a luta pela terra, como "invasores", "barbárie" e "atos criminosos" - Daniel Violal/MST
Intervozes analisa a cobertura da imprensa sobre a Comissão Parlamentar de Inquérito criada para perseguir o MST
Eduardo Amorim
Brasil de Fato | Recife (PE) | 19 de Junho de 2023
Desde o último 17 de maio, a história da criminalização da luta pela terra no Brasil ganhou mais um capítulo. Neste dia, foi instalada, na Câmara dos Deputados, uma CPI sobre o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST). Com tudo que representa o MST e a composição extremamente conservadora do Congresso Nacional, o Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social decidiu monitorar a cobertura da imprensa sobre o tema.
Nesta nova edição da série Vozes Silenciadas, retomamos o assunto da nossa primeira publicação da série, lançada em 2011 acerca da então Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) sobre o MST. Desta vez, acompanhamos a cobertura simultaneamente com o desenrolar dos acontecimentos. Em parceria com o Brasil de Fato, a partir de hoje, vamos publicar artigos semanais para compartilhar este monitoramento.
Nossa análise inclui o acompanhamento da versão online dos impressos O Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo e O Globo; do Jornal Nacional; dos portais R7, do Grupo Record, e Agromais, do Grupo Bandeirantes; e da Agência Brasil, veículo da (tão massacrada no período recente) comunicação pública. Na primeira etapa desta pesquisa que se inicia agora, ainda antes do início da CPI de 2023, vimos nos dias 17 e 18 de abril que 100% das matérias utilizam termos que criminalizam o MST: "invasores", "barbárie", "atos criminosos", "invadiu propriedades", "invasão de terras", "crime", "MST invade fazendas", "a invasão traz prejuízos", "a invasão já está prejudicando", "invasões em abril". As matérias causam as seguintes impressões em relação ao Movimento: 86,4% negativa; 9,1% equilibrada; 0% positiva e, em 4,5%, não houve posicionamentos mais explícitos que nos permitissem identificar.
Nas matérias analisadas, 66% das fontes ouvidas são contrárias ao movimento, enquanto 34% fazem um contraponto. Em 24% das matérias, apenas ataques ao MST foram publicados. Em mais da metade da cobertura (52%), é produzido um discurso em prol da propriedade privada. Enquanto isso, apenas 4,5% contextualizam a reforma agrária; somente 29% discutem temas como grilagem de terras, agrotóxicos e crimes ambientais e apenas 18% das matérias abordam a agricultura familiar e cuidados com o meio ambiente.