Escrito por Paulo Metri*
Nos dias atuais, proliferam veículos, na mídia brasileira, que
utilizam a desinformação. Como exemplo, surgem artigos, editoriais,
notícias e entrevistas dizendo que as rodadas de leilão de áreas para
produzir petróleo devem ser realizadas, a Petrobras não tem capacidade
para explorar sozinha o Pré-Sal, devido a suas limitações financeira,
gerencial e tecnológica e, para ajudar o Brasil a vencer esta
dificuldade, as empresas petrolíferas estrangeiras precisam ser
convidadas. Nestas mensagens, para atraí-las, é necessário que as
concessões do Pré-Sal sejam firmadas sob as regras da lei 9.478, o que
significa revogar no Congresso a lei 12.351, recém-aprovada, devolvendo o
Pré-Sal à antiga lei 9.478.
Trata-se de uma arrogância sem igual, típica de quem se acha
imbatível. Para tentar convencer os leitores ou espectadores, supondo
todos desatentos, lançou-se mão de inverdades, acreditando que ninguém
vai contestar um grande jornal, revista semanal, rádio ou televisão.
Arquitetaram com grande esmero o que pode ser chamado de a “temporada de
caça ao petróleo brasileiro”. Felizmente, existem alguns sites, blogs e
veículos digitais que estão dispostos a conscientizar a população e
publicam novos dados e análises.
Contudo, a mídia do capital, aquela que não prioriza a sociedade, às
vezes comete erros, por partir do princípio de que o povo tem um baixo
nível de compreensão política. Durante dez anos seguidos (de 1999 a
2008), existiram rodadas de leilões de áreas para exploração de
petróleo. Nunca trouxeram para seus veículos uma voz que advogasse a não
realização destas rodadas. Em compensação, disseminaram matérias
contando as supostas maravilhas das rodadas. Os leitores ou espectadores
atentos devem pensar: “Que estranho insistirem tanto em um mesmo
ponto!”. Neste instante, eles querem ter acesso a algo, não
necessariamente divergente, mas com diferente ângulo de visão, e não
encontram, porque estas matérias só existem na imprensa alternativa.
Mais cedo ou mais tarde, eles conhecerão os veículos livres,
comprometidos com as causas sociais, e entenderão que a grande mídia é
um braço camuflado do capital, principalmente o internacional.
Na atual temporada de caça ao nosso petróleo, inúmeras matérias de
comunicação satisfazem, sem serem explícitas, aos interesses
estrangeiros sobre nosso petróleo. Se fosse rebater cada material
divulgado, este artigo iria ficar longo e cansativo; então, comento a
seguir as principais acusações dos detratores.
Começo pela que diz que, depois da descoberta do Pré-Sal, o Brasil,
em vez de começar a exportar petróleo, está se distanciando da
autossuficiência. Para explicar o que ocorre, é preciso desenvolver um
raciocínio preliminar.
A velocidade que o governo brasileiro impõe à exploração no setor de
petróleo, com uma rodada de leilões por ano, de 1999 até 2008, é do
interesse único das empresas estrangeiras, que não têm petróleo em seus
países de origem, e dos países desenvolvidos, que precisam do petróleo
para mover suas economias. Se não forçassem a Petrobras a ter que
participar de tantos leilões, mais recursos sobrariam para os
desenvolvimentos de campos e a autossuficiência estaria garantida há
mais tempo. Por outro lado, em cada leilão que a Petrobras não participa
e não ganha, há uma perda enorme para o país. Além disso, é preciso
saber que, entre a declaração de comercialidade de um campo marítimo e o
início da sua produção, são necessários em média cinco anos.
Entretanto, estamos hoje bem próximos da autossuficiência, o que não
ocorreria, com absoluta certeza, se em 1953 o projeto de interesse das
petrolíferas estrangeiras tivesse sido aprovado. No nosso país, hoje,
não existiria a Petrobras e a produção nacional seria mínima. As
empresas estrangeiras não iriam para a plataforma continental quando a
Petrobras foi, em 1974, pois a lógica do capital as levaria para a
Arábia Saudita, o Iraque, o Cazaquistão e outros lugares promissores
para o petróleo, como de fato ocorreu. Também, certamente ninguém
saberia, hoje, da existência do Pré-Sal.
É interessante que não se conta, para garantir a autossuficiência,
com o petróleo produzido no país pelas empresas estrangeiras. De forma
pouco soberana, raciocina-se que este petróleo é delas e elas não têm a
obrigação de abastecer o Brasil. Esta falta de lógica social é
resguardada pela lei 9.478 de 1997 e é parte do pensamento subserviente
da década de 1990, que imaginava o Brasil como economia complementar à
dos desenvolvidos, mero exportador de minerais e produtos agrícolas.
Como boas críticas neoliberais, as matérias lembram sempre os
prejuízos da Petrobras no segundo trimestre de 2012. Ela teve prejuízo
porque o governo determinou que segurasse o preço dos derivados, uma vez
que os aumentos destes preços repercutem muito no índice de inflação.
Não se pode beneficiar o cidadão brasileiro em detrimento dos dividendos
maravilhosos que seriam dados aos acionistas? Não se pode fazer isto
eternamente, mas, de vez em quando, se pode. Além disso, os acionistas
não vão ficar sem dividendos. Só não vão ter aqueles maravilhosos.
Acusam gratuitamente as mudanças do setor porque modificaram o
sistema de royalties, fato catastrófico, porque desencadeou no Congresso
disputa entre os parlamentares dos diferentes estados sobre a
distribuição dos mesmos. É verdade que discutir o sistema de royalties
foi catastrófico, mas o que os autores não percebem é que, mesmo que a
lei 9.478 fosse utilizada para o Pré-Sal, os parlamentares iriam querer
modificar seus artigos que estabelecem a distribuição dos royalties
arrecadados. O que atraiu estes parlamentares a buscarem mudar esta
distribuição foi a perspectiva de arrecadações milionárias deste
tributo, quando o Pré-Sal entrasse em operação.
Criticam a lei 12.351 por atribuir à Petrobras participação
obrigatória de 30% em cada consórcio e por esta empresa ser a operadora
única dos novos contratos do Pré-Sal, determinações estas que seriam
desnecessárias, além de outros adjetivos pesados. Assim, transmitem a
visão que nos desejam impingir, a qual favorece as empresas
estrangeiras. A Petrobras ser a operadora dos consórcios é primordial,
pois quem compra bens e serviços para as fases de exploração,
desenvolvimento e produção é a operadora. E, dentre as empresas que
atuam no Brasil, só a Petrobras compra aqui. As empresas estrangeiras
ganharam áreas para explorar petróleo desde 1999 e, até hoje, 14 anos
depois, nenhuma delas comprou uma plataforma no Brasil. Os 30% são
explicados porque nenhuma empresa consegue ser a operadora com menos de
30% de participação no consórcio.
Criar nova empresa estatal para gerir o programa, que também é motivo
de crítica, é na verdade muito importante para, dentre outros
objetivos, fiscalizar as contas de todos os consórcios.
Finalizando, os autores invariavelmente criticam o governo por
procurar viabilizar uma exploração do Pré-Sal que visa satisfazer a
sociedade. Neste momento, dizem que “o governo tenta ressuscitar a
ideologia nacionalista de outros tempos”. Buscam impor o conceito de que
nacionalismo é ruim. E trazem, como única crítica ao nacionalismo, o
fato de ser “de outros tempos”. Além de ser um preconceito contra o
velho, chega a ser engraçado, porque princípios liberais estão nos
textos de Adam Smith (1723-1790).
Aliás, seria bom reconhecermos que, graças ao nacionalismo, o Pré-Sal
é nosso. Em primeiro lugar, porque o nacionalismo o descobriu. Em
segundo lugar, porque foram visões nacionalistas de órgãos do governo
brasileiro que lutaram para o estabelecimento da Zona Econômica
Exclusiva de 200 milhas, onde se encontra mais de 90% do nosso Pré-Sal. E
a conquistaram junto às Nações Unidas.
*Paulo Metri é conselheiro da Federação Brasileira da Associação de Engenheiros e do Clube de Engenharia. |