Segunda, 14 de março de 2016
Sayonara Moreno - Correspondente da Agência Brasil
O
relatório que coloca em dúvida a versão inicial da morte do educador
baiano Anísio Teixeira foi apresentado hoje (11), em Salvador, 45 anos
depois que um laudo da polícia atestou que ele morreu em um acidente, no
Rio, cidade onde morava. O relatório indica que Anísio Teixeira pode
ter sido morto por torturadores.
Anísio Teixeira foi um
escritor e educador brasileiro. Ao lado de Darcy Ribeiro, fundou a
Universidade de Brasília (UnB), da qual foi reitor em 1963. No dia de
sua morte, ele saiu da Fundação Getúlio Vargas, onde trabalhava, e foi
andando até o prédio onde morava Aurélio Buarque de Hollanda, no
Edifício Duque de Caxias, no bairro de Botafogo. Lá, conversariam sobre a
candidatura de Teixeira para a Academia Brasileira de Letras.
Apesar
de não ter sido visto no edifício, o corpo dele apareceu no fosso do
elevador, dois dias depois do desaparecimento. As novas análises
sustentam a suspeita de que Teixeira teria sido morto pela repressão
militar, durante o governo do então presidente Emílio Médici. Anísio
Teixeira teria sido levado para depor na Aeronáutica, com a promessa de
que seria liberado depois.
Mas o escritor e professor da Escola
Politécnica da Universidade Federal da Bahia João Augusto de Lima Rocha
contesta a versão oficial. Ele obteve acesso ao laudo do Instituto
Médico-Legal e às fotos do corpo de Anísio Teixeira. A partir daí,
começou a estudar os documentos, as imagens e se baseou, também, em
depoimentos de pessoas próximas ao educador.
Segundo o professor,
a versão sustentada até agora era de que Anísio Teixeira morreu após
cair no fosso de um elevador, no prédio onde morava o dicionarista
Aurélio Buarque de Hollanda, em 1971.
“Ele
não chegou à casa do Aurélio e, quando a família o procurou, os
funcionários do condomínio disseram não ter visto Teixeira entrar no
prédio. Mas quando foi no dia 13 de março, o corpo dele apareceu no
fosso do elevador. Então, a suspeita começa daí, porque se ele não
chegou à casa do Aurélio e o corpo aparece lá, dois dias depois, há
suspeita”, diz o professor, que é também sobrinho-neto do educador.
João
Rocha conta que trabalhou em cima de outra contradição, porque, segundo
informações que chegaram a ele, Anísio Teixeira prestou depoimento em
um quartel da Aeronáutica, no Rio, no dia 12 de março, um dia depois do
desaparecimento dele.
“O que estou provando, agora, é que a
versão da queda é falsa. O resto – quem matou, como e por que matou –,
deixaremos para a comissão de mortos e desaparecidos, em um pedido
formal para que investiguem”, completa Rocha.
As análises foram
possíveis porque, segundo João Rocha, a Comissão Nacional da Verdade
(CNV) teve acesso ao laudo da perícia do cadáver de Anísio Teixeira, e
às fotos tiradas depois que o corpo apareceu no fosso do elevador.
“A
CNV me passou esses documentos, e pelas imagens fica claro que ele não
caiu [do elevador]. A minha hipótese básica é de que ele morreu por
tortura, e depois deram alguns golpes no cadáver, para simular a queda”,
afirma o sobrinho-neto de Anísio.
Haroldo Lima, também sobrinho
do intelectual nascido em Caetité, Bahia, disse que os próximos passos
para as investigações serão muito importantes para os intelectuais do
Brasil.
“Anísio foi um estadista da educação e fez muito pela
ideia da educação pública, universal e gratuita. Era tido como comunista
e dono de ideias perigosas. No final dos estudos, João demonstra que
naquele elevador, Anísio não morreu. Gostaríamos que o Estado brasileiro
se debruçasse sobre esse fato para apurar as verdadeiras causas da
morte de Anísio Teixeira”, declara Lima.
Laudo médico
Segundo
o laudo médico da perícia feita em 1971 e assinado pelo legista João
Guilherme Figueiredo, foi possível afirmar que a versão sustentada pelo
governo da época não é verdade, de acordo com os estudiosos.
As
análises mostram que a posição do corpo, os ferimentos na cabeça e a
disposição dos objetos pessoais de Anísio Teixeira não correspondem ao
que seria uma queda. As imagens mostram que os óculos, por exemplo, têm
uma das hastes dobradas e estão aparentemente intactos mesmo depois da
suposta queda de quatro metros de altura. A hipótese é de que o corpo e
os objetos teriam sido depositados no local, para simular um acidente.
“Hoje,
comprova-se, documentalmente e fotograficamente, com laudos periciais,
que não é verdade que Anísio Teixeira tenha caído no poço daquele
elevador. Vamos pedir à Comissão de Mortos e Desaparecidos que inclua o
nome de Anísio Teixeira na lista de mortos da ditadura militar e
prossiga com as investigações”, disse o coordenador da Comissão Estadual
da Verdade, na Bahia, Joviniano Neto.