Quinta, 24 de março de 2016
"Os atores políticos que chegarem ao
governo, seja agora, em 2017 ou 2018, terão de enfrentar a herança maldita de
FHC, a desastrosa (bombas de efeito retardado) de Lula e a tragicômica de
Dilma. Esses três são responsáveis pela adoção e aprofundamento do Modelo
Liberal Periférico que coloca o país em uma trajetória de longo prazo de
instabilidade e crise. O Brasil não se recupera tão cedo: uma década perdida é
o cenário otimista."
"Lula
perdeu, para sempre, a maior parte do seu capital político. Ele é certamente o
principal responsável pela crise moral, intelectual, social, econômica,
política e institucional que atinge o país. Lula está enfraquecido moral,
física, mental, legal e politicamente. O campo em que ele avança está minado ou
apodrecido. A fantasia de Lula era de papel crepom: hoje o líder global aparece
como serviçal de grandes grupos econômicos, com graves implicações que isso
tem, inclusive de natureza legal."
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Do Correio da Cidadania
http://www.correiocidadania.com.br
Escrito por Valéria Nader e Gabriel Brito, da Redação |
Qui, 24 de Março de 2016 |
A nomeação de Lula para a Casa Civil ainda está travada na justiça e
os desdobramentos da Operação Lava Jato continuam arrepiando o país,
após divulgação de lista com mais de 200 nomes de parlamentares que a
Odebrecht financiou ou ao menos considerou incluir em sua lista de
cooptação. De toda forma, a vida precisa seguir e uma das frentes a ser
enfrentada é a recessão econômica que continua aumentando o desemprego.
Foi sobre todo esse quadro que o economista Reinaldo Gonçalves concedeu
mais uma implacável entrevista ao Correio da Cidadania.
“Estou convencido que os progressistas têm mais razões do que os
conservadores para serem a favor do impedimento de Dilma. Lula perdeu,
para sempre, a maior parte do seu capital político. Ele é certamente o
principal responsável pela crise moral, intelectual, social, econômica,
política e institucional que atinge o país. Lula está enfraquecido
moral, física, mental, legal e politicamente. O campo em que ele avança
está minado ou apodrecido”, atacou.
Dessa forma, o autor dos livros Globalização e Desnacionalização e Desenvolvimento às Avessas desqualifica
toda a tentativa do governo Dilma e da militância governista em
reavivar o mito de Lula para os embates políticos que praticamente
enlouquecem o país. E, apesar de reconhecer a dificuldade global da
economia, ressalta que o Brasil patina em sua própria mediocridade ao
não conseguir coordenar nenhum esforço conjunto para tentar diminuir os
impactos da atual recessão econômica, a despeito de algumas opções em
debate.
“A situação internacional não está particularmente favorável, mas não
é uma restrição grave. O problema não é o mundo, a tragédia somos nós
mesmos: invertebramento da sociedade, deterioração da moral, degradação
das instituições e o Modelo Liberal Periférico com suas transformações
estruturais fragilizantes. Não vale a pena perder tempo com a moralidade
na política e nos grandes negócios e, menos ainda, com a
intelectualidade brasileira que não escapou do processo generalizado de
degradação”, resumiu.
A entrevista completa com Reinaldo Gonçalves pode ser lida a seguir.
Correio da Cidadania: Em primeiro lugar, o que você comenta
dos últimos fatos da política brasileira marcada pela nomeação de Lula a
Casa Civil, protestos de corte conservador contra tal decisão da
presidente Dilma país afora e uma crise que continua se prolongando?
É um equívoco imaginar que o processo de impedimento parte dos
conservadores. Esse equívoco só tende a reforçar o movimento pelo
impedimento. Pessoas sensatas e responsáveis se sentem agredidas quando
chamadas de "coxinhas". Agressão gera reação. Estou convencido que os
progressistas têm mais razões do que os conservadores para serem a favor
do impedimento de Dilma Rousseff e, também, da prisão de Lula.
Os amigos de Lula deveriam recomendar que ele fizesse delação
premiada. Ele tem 70 anos e é milionário. Essa crise está destruindo a
saúde física e mental de Lula. Com a delação ele paga multa e,
provavelmente, pega prisão domiciliar por algum tempo. E, como
consequência, sobrevive alguns anos longe da política.
Correio da Cidadania: A ideia, portanto, de que Lula possa
criar um novo pacto de conciliação pelo país, com contribuição do PMDB, a
fim de gerar uma estabilidade mínima para a continuidade da vida
política e econômica, seria no mínimo ilusória, a seu ver?
Reinaldo Gonçalves: Lula perdeu, para sempre, a
maior parte do seu capital político. Ele é certamente o principal
responsável pela crise moral, intelectual, social, econômica, política e
institucional que atinge o país. Lula está enfraquecido moral, física,
mental, legal e politicamente. O campo em que ele avança está minado ou
apodrecido. A fantasia de Lula era de papel crepom: hoje o líder global
aparece como serviçal de grandes grupos econômicos, com graves
implicações que isso tem, inclusive de natureza legal. Lula está sendo
investigado por vários crimes graves. Lula tornou-se um figurante
fantasiado de rei, mas que se acha protagonista!
Correio da Cidadania: De outro lado, enxerga possibilidades
de a crise, com todos os seus traços de histeria, aumentar e acelerar o
próprio fim do governo Dilma?
Reinaldo Gonçalves: Em trabalho recente estimo que o
custo do mau governo Dilma chega a 4 trilhões de dólares. Isso
representa 4 vezes o PIB argentino em 2015. A crise tem elementos
concretos como queda de renda, desemprego, violência, péssima qualidade
de serviços de utilidade pública, confiança no futuro escorrendo pelo
ralo etc. É muito sofrimento físico e mental para o povo brasileiro.
Tenho chamado atenção para o fato de que o Brasil apodreceu nos últimos
anos. O movimento pelo impedimento é reflexo da crise sistêmica
brasileira.
O cenário otimista é que, após o impedimento, haja um processo de
reequilíbrio, um nivelamento do campo de jogo, inclusive com a
recuperação da produção, renda e emprego. O impedimento é condição
necessária, ainda que não suficiente, para o país sair dessa profunda
crise sistêmica. Ainda que figurante supérfluo, Dilma Rousseff é uma das
principais responsáveis. É a mediocridade esférica: ruim para
trabalhadores e capitalistas, ruim para a direita e para a esquerda;
ruim para o passado e péssima para o presente e o futuro etc.
Correio da Cidadania: O que pensa das supostas saídas para a
crise econômica que parte da mídia e dos atores políticos já discutem, a
partir do uso das reservas cambiais pra reativar a construção civil e
emprego e retomada de parte da “fórmula de sucesso” do auge do lulismo?
Reinaldo Gonçalves: As reservas internacionais podem
ser usadas para diminuir a dívida externa brasileira. Entretanto, o
governo Dilma é absolutamente incapaz de definir e implementar qualquer
estratégia. Exemplos: Banco Central e Petrobrás estão emitindo títulos
no exterior a taxas de juros muito elevadas. Há total e completa
descoordenação na área econômica. A proposta de vender as reservas não é
detalhada. Parece muita alegoria e pouco enredo. Antes todos queriam os
recursos do pré-sal, agora querem os recursos do FGTS e as reservas
internacionais!
Correio da Cidadania: A seu ver, qual poderia ser a receita para que o Brasil saísse da crise econômica?
Reinaldo Gonçalves: No campo da urgência está a
crise moral, política e institucional. Em primeiro lugar, a interrupção
dos mandatos de Dilma Rousseff e Michel Temer; em segundo, o
indiciamento, julgamento, condenação e prisão de Lula, Renan e Cunha; em
terceiro, a próxima presidente do STF monta um governo provisório e
convoca eleições gerais; em quarto, uma faxina geral no Legislativo.
Os atores políticos que chegarem ao governo, seja agora, em 2017 ou
2018, terão de enfrentar a herança maldita de FHC, a desastrosa (bombas
de efeito retardado) de Lula e a tragicômica de Dilma. Esses três são
responsáveis pela adoção e aprofundamento do Modelo Liberal Periférico
que coloca o país em uma trajetória de longo prazo de instabilidade e
crise. O Brasil não se recupera tão cedo: uma década perdida é o cenário
otimista.
Correio da Cidadania: Como enxerga o quadro brasileiro frente à situação econômica internacional?
Reinaldo Gonçalves: A situação internacional não
está particularmente favorável, mas não é uma restrição grave. O
problema não é o mundo, a tragédia somos nós mesmos: invertebramento da
sociedade, deterioração da moral, degradação das instituições e o Modelo
Liberal Periférico com suas transformações estruturais fragilizantes.
Não vale a pena perder tempo com a moralidade na política e nos grandes
negócios e, menos ainda, com a intelectualidade brasileira que não
escapou do processo generalizado de degradação. Concluo com uma
publicidade: meu livro Desenvolvimento às Avessas (Rio de
Janeiro: LTC, 2013). Nele concluo que o Brasil estava se afundando em
uma trajetória de instabilidade e crise que iria atingir as
instituições. Não deu outra!
Valéria Nader é economista e editora do Correio da Cidadania; Gabriel Brito é jornalista.
A publicação deste texto é livre, desde que citada a fonte e o endereço eletrônico da página do Correio da Cidadania