Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

sexta-feira, 5 de março de 2010

Indecência

Sexta, 5 de março de 2010
Parece mesmo que não há outro caminho que não a intervenção federal no DF, tanto no executivo quanto no legislativo. O governador está preso, mas o seu substituto, mesmo depois de toda essa celeuma, toda essa corrupção que veio à tona, o governador em exercício, Wilson Lima, teve a coragem de enviar à CLDF um projeto que tentaria livrar, na prática, a cara de figurões envolvidos no escândalo da Caixa de Pandora.
Segundo reportagem do Correio Braziliense de hoje, Wilson Lima encaminhou à CLDF um projeto de lei, o PL nº 1531, que aumenta os salários dos dentistas contratados pelo governo. Até aí nada de mais. Acontece que o governador em exercício emprenhou o projeto com uma coisa que nada tem a ver com o aumento dos dentistas.
Usando de esperteza (olha lá, governador, tem gente que deu uma de esperto e continua preso na Polícia Federal) ele emprenhou, perpetrando verdadeiro estupro, o projeto com um artigo que concede status de secretário aos chefes de gabinete e das Casas Civil e Militar do Distrito Federal.
Qual a finalidade disso tudo? Garantir foro privilegiado a envolvidos na Caixa de Pandora. Claro que é livrar a cara de gente grande e especialmente no caso da corrupção estourada pela Caixa de Pandora, proteger o secretário da Casa Civil, Geraldo Maciel, primo de Arruda, e gravado pelo cinegrafista do cerrado, Durval Barbosa, bem como o chefe de gabinete de Arruda, Fábio Simão, aquele que na residência oficial do governador foi apanhado pela PF com notas carimbadas pela própria polícia. Aquelas notas que Durval entregou à PF para serem carimbadas, devolvidas e entregues aos mensaleiros de Brasília.
No jargão político a esperteza do governador em exercício é chamada de submarino (coisa que anda submersa), mas no jargão popular tem outro nome.
Geraldo Maciel e Fábio Simão não foram exonerados (que absurdo!) dos seus cargos, foram simplesmente afastados temporariamente. Assim, se a CLDF aprovar a sem-vergonhice que faz parte do projeto de lei encaminhado no dia 3 pelo governador, os dois estariam, pelo menos em tese, protegidos pela lei do foro especial. Claro que a proposta do governador é ilegal e inconstitucional. Mas o que não é ilegal nesse pântano podre em que se tornou politicamente o Distrito Federal?
O artigo 5º do Projeto de Lei nº 1531 de 2010, o que Wilson Lima enviou no dia 3 para a CLDF, diz:
“Os ocupantes dos cargos previstos no Decreto nº 31.256, de 18 de janeiro de 2010, terão as honras, as prerrogativas e garantias asseguradas aos Secretários de Estado, na forma da Lei Orgânica do Distrito Federal”
E ainda falam em honra.