Sexta, 16 de setembro de 2011
De Rumos do Brasil
Por Paulo Metri
Alguns anos atrás, surgiram no Rio de Janeiro cartazes em muros, pilares de viadutos e outros locais bem visíveis de passagem do povo, onde se podia ler: “Halloween é o c…”, inclusive com a palavra chula à mostra. Apesar de não aprovar o uso de palavrão, compreendo a angústia do autor. Sobre o mesmo tema, lembro-me do amigo que, ao ver um cartaz na escola do filho convidando pais e alunos para a festa de Halloween, foi reclamar com a coordenadora que aquela não era uma tradição brasileira. Ela ficou pensativa e lhe disse: “O senhor tem razão, nós vamos corrigir!”. Ele saiu contente imaginando: “Vão criar, provavelmente, a festa do Saci-Pererê”. No dia seguinte, ao deixar o filho na escola, notou que o cartaz estava mudado. Tinham trocado “Halloween” por “Dia das bruxas”.
O prefeito do Rio lança o “Bus Rapid System”, os jovens vêem “Two and a half man” e o canal de televisão oferece o seu “pay per view”. Entretanto, estes anglicismos citados não representariam nenhuma ameaça se não estivessem presos a um gigantesco iceberg, do qual são uma pequena parte da ponta visível. Um exemplo mais palpável da subserviência cultural ocorre quando o BNDES empresta dinheiro a juros subsidiado a empresas estrangeiras. Ou quando o Brasil abre nossa cabotagem a navios de qualquer bandeira, enquanto os navios brasileiros, se quiserem fazer transporte de cabotagem na costa americana, por exemplo, não podem.
Outro amigo, recentemente, me disse: “Os Estados Unidos são o país mais azarado do mundo, pois, se chega na Terra um extraterrestre, alien, predador ou poltergeist, qualquer que seja a coisa ruim, só aparece lá”. Constatações deste estilo parecem irrelevantes, mas são reveladoras de como a sociedade americana se vê inserida no mundo. A cultura americana acata a visão “americanocêntrica”, onde, simbolicamente, os Estados Unidos são o centro do planeta e, em torno dele, gravitam os demais países. Não questiono o poderio econômico, tecnológico e militar dos Estados Unidos. Questiono somente a ordenação de valores por esta sociedade estabelecida, que querem nos impingir.
Creio que o momento exato em que o Brasil perde a possibilidade de crescer muito, quando poderia vencer o atraso de desenvolvimento, é aquele em que o povo abre mão da sua dignidade e deixa de se enxergar como um povo. Ele passa a se ver como uma cultura auxiliar da “grande cultura”, enfim, ele abdica do desejo de crescer soberanamente e se coloca como um povo subordinado. Esta efetiva dominação, que estou chamando, na falta de um nome mais apropriado, de dominação cultural, torna prescindível a militar.