Sábado, 24 de novembro de 2012
"Com pena superior a dez anos, o destino de José Dirceu despertou em
Cardozo e no ministro do Supremo Tribunal Dias Toffoli, uma nova
reflexão sobre o Código Penal e os presídios. Não é o mesmo tipo de
prisão de Graciliano, de Nise da Silveira ou mesmo dos opositores da
ditadura militar. Os argumentos não são mais políticos nem se fala em
investimentos e reformas em presídios. Toffoli lamentou que um diretora
do Banco Rural fosse presa porque era uma bailarina e não representava
perigo. Açougueiros ou motoristas de caminhão representam algum perigo?
Sua tese indicava que a cadeia deveria ser reservada aos crimes de
sangue.
Não se deve ser como a China, que fuzila corruptos. Mas daí a ter uma
nova tolerância com a corrupção vai enorme distância. Não era a
esquerda que afirmava que a corrupção, desviando recursos vitais para os
mais pobres, os condena à morte mais rápida? É uma ironia que uma parte
do universo político se interesse pelas penitenciárias porque José
Dirceu foi condenado." (Trecho do artigo "Reflexões na Porta da Cadeia", de Fernando Gabeira, publicado hoje no jornal O Estado de S. Paulo)