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(Millôr Fernandes)

sábado, 24 de novembro de 2012

STF e Polícia Federal


Sábado, 24 de novembro de 2012
Por Ivan de Carvalho
A Operação Porto Seguro, da Polícia Federal, desencadeada ontem em Brasília e São Paulo, pode ter alguma influência na futura composição do Supremo Tribunal Federal. É que o advogado geral da União adjunto, José Weber Holanda, braço direito do advogado geral Luís Inácio Adams, é um dos alvos da operação. Policiais federais apreenderam documentos no gabinete de Holanda, localizado no mesmo andar do gabinete do advogado geral Luís Inácio Adams. O número dois da AGU, aliás, já prestou depoimento à Polícia Federal. Na AGU, durante toda a manhã de ontem, com a presença de Adams, realizou-se uma avaliação sobre o impacto da operação da PF no órgão. Cinco outros órgãos públicos também foram alvo da Operação Porto Seguro, ontem.

            Onde isso pode ter influência na composição do STF? Depois que a presidente Dilma Rousseff indicou o ministro do Superior Tribunal de Justiça, Teori Zavascki, para a vaga criada no STF com a aposentadoria compulsória do ministro Cezar Peluso, também o ministro Carlos Ayres Brito aposentou-se compulsoriamente, abrindo outra vaga.

            Para esta última vaga, a presidente da República ainda não indicou ninguém. Quando o fizer, a indicação será encaminhada ao Senado, onde, depois de uma “sabatina” por uma comissão, será submetido a votação secreta no plenário e, uma vez aprovado (sempre é aprovado, até José Dias Toffoli foi), segue-se a nomeação pela presidente da República e finalmente a posse. A indicação tende a ser feita este ano, quando o processamento no Senado pode ocorrer ou ser interrompido pelo recesso parlamentar e concluído apenas em fevereiro.

            O advogado geral da União, Luís Inácio Adams, vinha sendo considerado como a pessoa mais cotada para preencher a vaga deixada por Ayres Brito no STF. No entanto, por mais isento de responsabilidade que ele esteja quanto a um eventual envolvimento de seu imediato na AGU nos malfeitos que a Polícia Federal está investigando, o episódio enfraquece suas chances de ser indicado para o STF.

Enfraquece especialmente porque essas chances eram consideradas apenas em especulações e análises, mas a Presidência da República nem qualquer outra instância governamental ou partidária fez qualquer sinalização formal ou ao menos ostensiva. Então, ninguém poderá dizer fundamentadamente que ele não foi indicado por causa desse inconveniente da operação Porto Seguro atingir seu braço direito na AGU, José Weber Holanda.

Aliás, reportagem de Natuza Nery e Valdo Cruz, da Folha de S. Paulo, dá conta de que a presidente não estaria inclinada a aceitar indicações partidárias para a vaga deixada por Carlos Ayres Brito no Supremo. Isto excluiria, de plano, dois ministros petistas, Luiz Inácio Adams, da Advocacia Geral da União e Jose Eduardo Cardozo, da Justiça.

A presidente estaria buscando, não alguém com perfil político, mas com um perfil mais técnico. Além disso, ela não teria ficado bem impressionada com o calor das discussões e o suposto gosto de alguns ministros pelos “holofotes” durante o julgamento do Mensalão. Desejaria alguém com “serenidade”. E – esse negócio já está parecendo um mantra no governo e no PT – que não ceda às “pressões da mídia”. Mas aí – para não deixar passar a oportunidade – quem, no STF, cedeu às pressões da mídia no julgamento do Mensalão? Porque é do Mensalão que falam quando relacionam “pressões da mídia” ao STF.

É claro que o comando formal do PT – o presidente Rui Falcão à frente – e um monte de gente na retaguarda têm tentado passar a idéia de que o julgamento foi (ou está sendo, porque ainda não acabou) injusto, sem provas, demasiado severo. Estão exercendo o jus esperneandi, o que é de rotina.

De rotina não será se a presidente da República endossar essa tese.
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Este artigo foi publicado originariamente na Tribuna da Bahia deste sábado.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano