Segunda, 29 de agosto de 2016
Iolando Lourenço e Mariana Jungmann - Repórteres da Agência Brasil
A sabatina da presidenta afastada Dilma
Rousseff já dura cerca de oito horas no Senado. Ao responder
questionamentos dos senadores, Dilma diz que o processo de impeachment
contra ela trata-se de um "golpe parlamentar" e que o pedido para sua
saída da presidência não veio como manifestação das ruas.
Ao
retomar o discurso, após intervalo de uma hora, a presidenta afastada
reiterou que o processo é um golpe parlamentar. Ao responder
questionamento do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), Dilma disse que
nem todos os golpes são militares e usam a força para a tomada do poder.
“A
literatura chama esses golpes de golpes parlamentares. Não há em toda a
teoria política, em nenhum momento nada escrito que golpe de Estado é
igual a golpe militar. Golpe de Estado é a substituição de um governo
legítimo, sem razão, por quaisquer razões que aleguem, tendo em vista a
substituição indevida”, afirmou.
Segundo Dilma, esse processo
trará consequências “mais cedo ou mais tarde, cobra o seu preço". "E
muitas vezes ele leva a algumas restrições democráticas para impedir que
os opositores protestem”, disse.
A presidenta já respondeu às
perguntas de 30 senadores até o momento. Ao todo, há 51 senadores
inscritos para questionar a presidenta, que depõe no Senado na condição
de ré. A previsão é que o interrogatório ultrapasse as 23 horas.
Nas
respostas, Dilma rebate a tese da acusação de que tenha praticado
“estelionato eleitoral” em 2014, quando teria ocultado a situação das
contas públicas durante a campanha eleitoral para conquistar votos.
A
presidenta apresentou gráficos e dados para mostrar que a crise
econômica mundial se deteriorou a partir de outubro de 2014, piorando
ainda mais em janeiro de 2015. Segundo ela, o preço do petróleo caiu e o
dólar subiu em relação a todas as moedas do mundo, o que provocou
impacto também sobre o real.
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Segundo
ela, não era possível o governo prever esse agravamento. “Eu não menti
no processo eleitoral”, disse Dilma ao senador Magno Malta (PR-ES).
“Ninguém sabia que nós teríamos uma queda de mais de US$ 40 [no barril
de petróleo] neste processo que inicia em outubro, durante a eleição,
mas que fica intenso no início de 2015. Nós não controlamos, nem nós nem
ninguém controla, a política do Banco Central americano, nem do governo
americano”, completou.
Ruas
Dilma também
voltou a responsabilizar o ex-presidente da Câmara dos Deputados,
Eduardo Cunha (PMDB-RJ), pelo processo. Ao ouvir do líder do PSDB,
senador Cássio Cunha Lima (PB) de que o processo nasceu nas ruas, e não
na Câmara, a presidenta retrucou.
“Estou dizendo que é um golpe
parlamentar. Eu não concordo que o processo veio das ruas de forma
espontânea. Tratava-se de uma chantagem explícita do senhor Eduardo
Cunha”, afirmou.
Durante
todo o depoimento, a presidenta exemplificou situações em que seu
governo teria sido sabotado na Câmara. Segundo ela, as chamadas
pautas-bombas e a falta de funcionamento das comissões permanentes da
Casa foram formas utilizadas para prejudicar o governo e propiciar o
processo de impeachment.
“Deve ser
também ressaltado que a busca de reequilíbrio fiscal, desde 2015,
encontrou forte resistência na Câmara dos Deputados, à época presidida
pelo Deputado Eduardo Cunha. Os projetos enviados pelo governo foram
rejeitados, parcial ou integralmente; pautas-bombas foram apresentadas e
algumas aprovadas. As comissões permanentes da Câmara, em 2016, só
funcionaram a partir do dia 5 de maio, ou seja, uma semana antes da
aceitação do processo de impeachment pela Comissão do Senado Federal”,
disse.