Quarta, 16 de novembro de 2016
Por
Aldemario Araujo Castro*
A eleição do Senhor Donald Trump para a Presidência dos Estados Unidos
da América rendeu, e renderá, infindáveis análises e previsões de todas
as ordens (políticas, econômicas, sociais, etc).
O enorme
repertório de sandices e propostas mirabolantes do
bilionário-presidente, claramente deslocadas da realidade (impraticáveis
ou de implementações difíceis e desastrosas) foram, e serão, amplamente
dissecadas.
Destaco, e não o faço de forma original, uma das
facetas mais repugnantes e preocupantes relacionadas com o surgimento
político (momentaneamente vitorioso) do magnata.
O discurso e
boa parte das proposições do futuro morador da Casa Branca carregam as
marcas do medo, ódio, intolerância, preconceito e incitação à violência.
Toda essa cantilena do candidato eleito entra em rota de colisão com os
valores e princípios mais importantes construídos pela humanidade.
Com efeito, a história do gênero humano nos últimos séculos registra, a
custa de muito sangue, suor e lágrimas, um intenso rol de direitos e
liberdades fundamentais consagrado em documentos internacionais (como a
Declaração Universal dos Direitos do Homem) e nas Constituições de
dezenas de países.
Essas conquistas civilizatórias estão bem
representadas nos primeiros artigos da Constituição brasileira de 1988.
Nossa Carta Magna anuncia solenemente os seguintes fundamentos para o
convívio social:
a) a dignidade da pessoa humana;
b) os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
c) o pluralismo político;
d) a soberania popular;
e) a construção de uma sociedade livre, justa e solidária;
f) a erradicação da pobreza e da marginalização;
g) a redução das desigualdades sociais e regionais;
h) a promoção do bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação;
i) a prevalência dos direitos humanos, notadamente nas relações internacionais;
j) a defesa da paz;
k) a solução pacífica dos conflitos;
l) o repúdio ao terrorismo e ao racismo;
m) a cooperação entre os povos para o progresso da humanidade;
n) a integração econômica, política, social e cultural dos povos.
O quadro é preocupante, reclama atenção e atitudes, individuais e
coletivas, firmes. Experiências totalitárias recentes na história da
humanidade foram alimentadas pela mesma matéria-prima destilada pelo
Senhor Trump.
Com convicção, com plena convicção, o caminho de
realização do melhor da espécie humana, nos planos econômico, político e
social, passa pela construção de sociedades fundadas naqueles valores
expressos no Texto Maior de 1988. A marcha da humanidade deve acumular
avanços e conquistas. Não são aceitáveis os retrocessos marcados pelo
mais abjeto obscurantismo.
O Senhor Donald Trump personifica,
neste momento, a face mais negativa, perversa e destrutiva do gênero
humano. Cabe a cidadania, norte-americana e mundial, resistir de forma
ativa. Que a ascensão do dito cujo não passe de uma tentativa malograda
de desconstrução de importantes progressos humanos.
Esse singelo
registro não significa qualquer forma de simpatia ou apoio à Senhora
Hillary Clinton. Se essa última candidatura não representava um recuo
civilizatório como o do Senhor Trump, também não indicava nenhum avanço
significativo.
*Aldemario Araujo Castro é advogado, procurador da Fazenda Nacional, professor da Universidade Católica de Brasília - UCB, mestre em Direito pela Universidade Católica de Brasília - UCB