Por Siro Darlan, desembargador do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro e membro da Associação Juízes para a democracia.
Ouviu-se uma voz
que clamava bem forte: “Caiu! Caiu! Babilônia, a Grande. Quando
Brasilia foi fundada, Juscelino pronunciou um célebre discurso : “Deste
Planalto Central, desta solidão em que breve se transformará em cérebro
das mais altas decisões nacionais, lanço os olhos mais uma vez sobre o
amanhã do meu país e antevejo está alvorada, com uma fé inquebrantável e
uma confiança sem limites no seu grande destino”. Passados 56
anos de sua fundação, já passamos por diversas crises, dois golpes
contra a vontade popular, uma longa ditadura militar, uma renúncia e
hoje reina uma total insegurança institucional.
Os políticos
se inebriaram de paixão pela imoralidade, que hoje se misturam o
público e o privado. O litoral do Rio de Janeiro está cheio de dinheiro
sujo jogado ao mar como forma de se livrar do flagrante. Poderiam ter
sido mais criativos jogando esse dinheiro roubado ao povo nas
comunidades que tiveram seu solo regado com o sangue dos inocentes ou
não durante o falso período de segurança das UPPs. Políticos
inescrupulosos ficaram ricos da noite para o dia de forma
desavergonhada. Foram muitos atos injustos perpetrados por homens
públicos nos quais o povo depositara sua confiança. Por isso devem ser
punidos na mesma medida em que faltaram com essa confiança. Chegou a
hora de serem todos julgados pelo mal que fizeram ao povo iludido.
Todos que se
enriqueceram graças a apropriação dos bens públicos devem ser julgados
com os rigores da lei, mas nunca ao arrepio da lei. Toda essa luxúria,
joias, viagens caras e bens comprados com dinheiro sujo devem ser
devolvidos ao erário público. E a cidade que se transformou em cérebro
das grandes decisões nacionais precisa ser reconstruída para que não
mais paire sob esse planalto tantas hordas de aventureiros
fundamentalistas que não têm o compromisso com o interesse público e sim
com interesses mesquinhos e particulares. Os que estão dispostos a
mudar, os que têm a força para mudar, sempre serão vistos como traidores
pelos que não são capazes de qualquer mudança, que têm medo mortal de
mudanças, não entendem o que é mudança e abominam toda mudança.
Precisamos
antes aplacar o ódio que se enraizou na divisão de nossa sociedade como
parte de nossa condição humana. Essa contradição que existe numa
sociedade dita de maioria cristã, que alimenta um ódio mútuo e que nos
divide entre “coxinhas” e “petralhas”, “ricos e pobres”, “brancos e
negros” não é compatível com uma doutrina que prega o amor e a
tolerância. Numa sociedade onde o capital é mais importante que a força
humana e onde predomina o lema “greed is good”; a cobiça é boa. É fácil
disseminar a inveja e o ódio ao invés da fraternidade e a misericórdia.
Portanto antes que nos destruamos mutuamente, precisamos nos harmonizar
no respeito ás nossas diferenças e buscar lugares comum para que
possamos construir uma Nova Cidade no lugar da Grande Babilónia que
destruímos.