Segunda, 1º de maio de 2017
Ilustração reproduzida da Revista Forum
A ausência de Temer na
programação das TVs, nesta noite, nem será sentida. O presidente é uma
ausência que preenche uma lacuna. Deveria aproveitar para pedir
desculpas aos trabalhadores brasileiros pelos três graves erros
cometidos
Da Tribuna da Internet
Carlos Newton
É um Primeiro de Maio diferente, que repete a situação de um ano
atrás, quando a então presidente Dilma Rousseff, pela primeira vez
deixou de fazer um pronunciamento à nação no Dia do Trabalho, para não
ser alvo de mais um panelaço/buzinaço. Um ano depois, Michel Temer imita
sua antecessora e faz um discurso às escondidas, a ser veiculado apenas
nas redes sociais da internet, dois dias depois de ter divulgado uma
mensagem do apresentador Ratinho, do SBT, em favor das reformas da
Previdência e das leis trabalhistas, comparando-as às reformas de
cozinha e banheiro que as famílias às vezes precisam fazer, vejam a que
ponto chega a desfaçatez dessa gente.
DESCULPAS AO POVO – A ausência de Temer na
programação das TVs, nesta noite, nem será sentida. O presidente é uma
ausência que preenche uma lacuna. Deveria aproveitar para pedir
desculpas aos trabalhadores brasileiros pelos três graves erros
cometidos:
1) por ter sancionado a tenebrosa terceirização das
atividades-fim das empresas, que significa o sepultamento da
meritocracia nas empresas privadas;
2) por estar flexibilizando as leis trabalhistas, que causará inevitável redução dos salários;
3) por apresentar uma proposta impiedosa e desumana de reforma da Previdência Social.
UM ANO DEPOIS – O fato concreto é que, um ano depois
de ter assumido o poder, o presidente Temer nada tem a exibir aos
trabalhadores, pois o número de desempregados, ao invés de diminuir,
já chegou a 14,2 milhões de pessoas nesta estatística à brasileira,
altamente manipulada, que não leva em conta quem está desempregado há
muito tempo e desistiu de procurar trabalho. Aliás, neste particular o
Brasil confirma a definição de que “estatística é a arte de torturar os
números até que eles confessem o resultado que se pretende obter”.
Sem força, sem prestígio e sem carisma, Temer perdeu o bonde da
História e se tornou uma versão masculinizada de rainha da Inglaterra,
que reina, mas não governa. No Brasil de hoje, quem estabelece as
prioridades político-administrativas chama-se Henrique Meirelles, que
comanda com mão de ferro o governo brasileiro, como se fosse um Rasputin
imberbe e calvo.
NA PREVIDÊNCIA – Para grande parte do povo, o maior
culpado pelos problemas nacionais já não é a dupla Lula/Dilma. Agora, o
responsável é Temer, apesar da desculpa de que, para todos os efeitos,
foram as administrações petistas que levaram a economia a essa situação
de pré-falência.
A crise é tão grave que no último dia 7 o governo admitiu que o rombo
nas contas públicas em 2018 será maior que os R$ 79 bilhões previstos
anteriormente e deve chegar a R$ 129 bilhões, quase o dobro. Isso
significa que as despesas do governo federal no próximo ano vão superar
em R$ 129 bilhões as receitas com impostos e contribuições. Detalhe
fundamental: essa conta não inclui os gastos com o pagamento de juros da
dívida pública.
Em fevereiro, a dívida avançou 2,66%, atingindo espantosos R$ 3,13
trilhões, com crescimento real de 2,33% em apenas 28 dias, descontada a
inflação. Em março, pior ainda: subiu 3,17%. Ou seja, cresceu 2,92% em
31 dias, descontada a inflação. É uma bola de neve.
OMISSÃO TOTAL – Como se fosse uma avestruz diante do
perigo, o governo enfia a cabeça nesse gigantesco buraco e tenta fingir
que não está acontecendo nada e diz que o país vem saindo da crise. Mas
não é verdade. Então, pergunta-se: Como resolver a dívida pública? E a
resposta é que a situação está sob controle e será “equacionada” dentro
de 20 anos, pelo programa do corte de gastos.
Infelizmente, isso é mentira, conversa fiada, papo furado. O Brasil
precisa de um estadista como Winston Churchill, que diga a verdade sobre
a crise e exija “sangue, suor e lágrimas” a todos os brasileiros, sem
deixar de lado os banqueiros, os rentistas e as elites da nossa
nomenklatura, espalhadas nos três Poderes da República.
Mas o estadista não existe. E o Brasil, embora seja o país de maior
potencial de crescimento em todo o mundo, está condenado ao atraso e à
desigualdade social, devido à incompetência de suas classes dirigentes.
Por isso, neste Primeiro de Maio, os trabalhadores não têm motivo para
festejar. Muito pelo contrário.