Dep. Aluísio Guimarães
Logo acima, um dos Gamela feridos que tiveram o primeiro
atendimento na cidade de Vitória do Mearim. Foto: Ana Mendes/Cimi
Por Equipe de Comunicação - Cimi
Depois de uma madrugada de tensão pelo receio de novos atos de
violência contra as aldeias Gamela, além da angústia sobre o estado de saúde
dos feridos no ataque deste domingo, 30, contra a retomada dos indígenas no
Povoado das Bahias, município de Viana (MA), informações consolidadas dão conta
do massacre envolvendo a amputação de membros do corpo de dois indígenas: cinco
baleados, sendo que dois tiveram também as mãos decepadas, e chega a 13 o
número de feridos a golpes de facão e pauladas. Não há, até o momento, a
confirmação de mortes.
Os dados seguem sendo parciais, os números de baleados e feridos
podem aumentar, e isso se deve ao fato de que os Gamela se espalharam após a
investida dos fazendeiros e seus capangas, entre 16h30 e 17 horas. Os
criminosos estavam reunidos para atacar os indígenas ao menos desde o início da
tarde, nas proximidades do Povoado da Bahias, numa área chamada de Santero, conforme convocação realizada pelas redes sociais e emprogramas de rádio locais - inclusive com falas de apoio do deputado federal Aluisio Guimarães Mendes Filho (PTN/MA).
Cinco indígenas
foram transferidos durante a noite de ontem e madrugada de hoje para o Hospital
Socorrão 2, Cidade Operária, na capital São Luís. Todos baleados em várias
partes do corpo e dois chegaram à unidade com membros decepados: um teve as
mãos retiradas a golpes de facão, na altura do punho (foto ao lado); outro,
além das mãos, teve os joelhos cortados nas articulações.
Na manhã desta segunda-feira, 1o de maio, Dia dos Trabalhadores,
dois Gamela receberam alta: um levou um tiro de raspão na cabeça e teve apenas
uma das mãos machucadas e o segundo levou um tiro no rosto e outro no ombro,
mas sem prejuízos para os órgãos vitais. Os demais seguem internados: dois
em estado grave, correndo risco de morte, e sem alternativa passaram por
intervenções cirúrgicas.
"Um deles levou dois tiros, uma bala está alojada na coluna e
a outra na costela, teve as mãos decepadas e joelho cortados. O irmão dele
levou um tiro no peito. Outro teve as mãos decepadas", relata integrante
do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) que esteve com os Gamela
hospitalizados em São Luís. Carros de apoiadores dos Gamela, inclusive, tiveram
que cuidar de algumas locomoções de feridos pela falta de ambulâncias.
Em Viana e nos municípios do entorno, os feridos receberam
atendimento médico com cortes de facão pelo corpo e lesões diversas. Relatos de
áudio, ao menos de três moradores e moradoras da cidade, circulam trazendo
informações de que boatos correram ainda à noite, horas após a ofensiva contra
os Gamela, sobre ataques a serem realizados contra os indígenas na unidade de
pronto-atendimento, fazendo com que muitos saíssem do local após os primeiros
socorros.
"Tememos novos ataques a qualquer momento. A concentração de
jagunços segue estimulada e organizada no Santero, o mesmo lugar de onde saíram
ontem pra fazer essa desgraça com o povo da gente. A polícia tá dizendo que não
foi ataque, mas confronto. Não é verdade, fomos pegos de tocaia enquanto a
gente saía da retomada. Mal podemos nos defender, olha aí o que
aconteceu", diz um Gamela que não identificamos por razões de segurança.
O Governo do Estado do Maranhão, por intermédio das secretarias de
Segurança Pública e Direitos Humanos, está informado dos fatos. A Fundação
Nacional do Índio (Funai) também foi notificada e a intenção é envolver o
governo federal na garantia dos direitos humanos e de proteção aos Gamela -
sobretudo porque a avaliação dos indígenas é de que as polícias Militar e Civil
são próximas dos principais opositores da pauta do povo, que na região sobre
com racismo e preconceito sendo constantemente taxados de falsos índios.
O Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH) e a 6a Câmara de
Coordenação e Revisão, que cuida dos assuntos ligados aos povos indígenas e
quilombolas na Procuradoria-Geral da República (PGR), estão analisando formas
de intervenção na situação. A Relatora da ONU sobre os Direitos dos Povos
Indígenas, Victoria Tauli-Corpuz, será comunicada nas próximas horas sobre o
ataque contra os Gamela. Em Nova York (EUA), o Fórum
Permanente de Assuntos Indígenas das Nações Unidas está reunido desde a semana
passada e conta com uma delegação do Brasil de indígenas Munduruku, Yanomami,
Baré e Kanamary, além da Repam, Cimi e Fian.
Não é o primeiro ataque sofrido pelo povo Gamela, que luta para
que a Funai instale um Grupo de Trabalho para a identificação e demarcação do
território tradicional. Devido a morosidade quanto a quaisquer encaminhamentos
pelo órgão indigenista, os Gamela decidiram recuperar áreas tradicionais
reivindicadas. Em 2015, um ataque a tiros foi realizado contra uma destas áreas. Em 26 de agosto de 2016, três homens armados e trajando coletes à prova de balainvadiram outra área e foram expulsos
pelos Gamela, que mesmo sob a mira de armas de fogo os afastaram da comunidade.