Segunda, 12 de março de 2018
- José Guilherme de Almeida escreveu em seu Facebook ‘odiar pretos e pardos falando muito alto’; alunos relatam outros casos de racismo e perseguições em sala de aula
Da Ponte
Direitos Humano, Justiça, Segurança Pública
Alunos do IFSP (Instituto Federal de São Paulo) pedem afastamento e exoneração de José Guilherme de Almeida, professor e pesquisador na Diretoria de Humanidades do Instituto, por uma publicação racista nas redes sociais. No ultimo sábado (10/3), Almeida publicou em seu Facebook texto dizendo odiar quando “pretos e pardos falavam alto e comiam por muito tempo em bandos, nos hotéis três estrelas de orla de praia”.
A mensagem foi apagada pelo professor no mesmo dia e, então, ele ensaiou uma explicação. Em um novo texto, Almeida apontava a falta de “compreensão dos leitores” como fonte da polêmica. Alguns minutos mais tarde, sua conta foi desativada da rede.
Após alunos e usuários da rede social manifestarem incômodo com a publicação, Luis Cláudio de Matos Lima Júnior, diretor do campus São Paulo, onde Almeida leciona, prometeu abrir processo administrativo para analisar a possibilidade de exoneração do servidor. Durante reunião com coletivos negros da instituição, Lima Júnior garantiu que iria encaminhar para a reitoria o pedido de afastamento do professor.
O encontro aconteceu nesta segunda-feira (12/3), minutos antes do ato “Manifestação Antirracista”, organizado pelos estudantes para protestar contra a publicação do professor e usada como gancho para criticar o “racismo na academia, o silêncio da direção” e cobrar o afastamento de Almeida.
Christopher de Lima Machado, 34 anos, é aluno do 5˚ semestre de Geografia do IFSP e contou à Ponte que José Guilherme de Almeida já havia manifestado comentários racistas diversas vezes em sala de aula. O estudante, que é negro, afirma ter sido perseguido pelo servidor e reprovado em duas matérias após uma discussão com o docente em sala de aula, mesmo tendo notas suficientes para sua aprovação.
Outro aluno do 5˚ semestre que aponta ser perseguido pelo servidor é Fabio Santos Souza, 21. “Tive aulas com ele e é torturante. Ele não aceita confronto de alunos contra as coisas que falava em aula. Sempre que havia confronto em sala de aula, os alunos negros sofriam represálias, mesmo que entre os envolvidos também tivessem brancos. Eu e o Christopher fomos os reprovados”, explica.
Uma ex-aluna, que preferiu não se identificar, diz ter se afastado de Almeida devido ao seus constantes comportamentos racista e machista. “Tem algo de errado com ele, mas nada que justifique o que fez. Para ele está tudo bem dizer coisas desse tipo porque ‘não é algo que pode ofender alguém’”, comentou.
Íris Moreira, que também cursa Geografia, diz ter sido tão humilhada pelo professor que chegou a chorar em sala. “Eu pensei em trancar minha matricula na faculdade. Ele chegou ao ponto de me expor de forma irônica durante as aula”, conta.
Christopher é categórico quanto às opiniões de Almeida em sala de aula. Para o estudante, o docente tem aversão a pretos e aos cidadãos que vivem nas periferias da cidade. “Ele sempre demonstrou antipatia por pretos, pobres e especialmente a periferia. Sempre odiou a questão social que coloca negros em condições violentas, como assaltos, por exemplo”, concluiu.
Em nota, o IFSP, através da diretoria do Campus São Paulo, afirmou “repudiar quaisquer formas de preconceito e discriminação dentro ou fora de seus muros, seja por parte de um servidor ou de outro cidadão”. O Instituto disse reconhecer a gravidade dos fatos e prometeu, em nota e em reunião com os coletivos Cabeça de Nego e Três Maras, apurar o caso.
De acordo com o estudante do último ano de Geografia, Henrique Marques, 23, durante o ato de repúdio, o diretor da unidade, Luiz Cláudio, disse ser possível afastar José Guilherme de Almeida do cargo imediatamente para o andamento do processo administrativo aberto contra o servidor.
Segundo a página do professor no site do IFSP, Almeida é doutor voltado para Turismo e Lazer pela ECA (Escola de Comunicações e Artes) da USP (Universidade de São Paulo) e atua como pesquisador na Diretoria de Humanidades do IFSP. Um dos destaques no currículo do professor é o fato de ter sido convidado pelo Ministério da Educação do Japão para se formar em curso de Ciências Sociais na Universidade de Kobe.
A Ponte entrou em contato com José Guilherme de Almeida por telefone e e-mail, mas até o momento não conseguiu retorno do professor.