Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

domingo, 18 de março de 2018

Saúde e bem-estar. 11 A indústria da pesca

Domingo, 18 de março de 2018
Por Aldemario Araujo*


SAÚDE E BEM-ESTAR
50 textos (um a cada final de semana). Registros de uma caminhada em busca de saúde e bem-estar consistentes e duradouros. Veja todos os escritos em: http://www.aldemario.adv.br/saude.htm

11 A INDÚSTRIA DA PESCA

A pesca deixou de ser uma atividade artesanal, quase romântica. “As velas do Mucuripe/Vão sair para pescar”, da música de Fagner e Belchior, não representam o quadro econômico dominante dessa atividade na atualidade.
A sobrepesca (ou pesca predatória), segundo várias análises consistentes, reduz as populações de peixes para além de sua capacidade de reprodução. O problema possui escala global. Calcula-se que aproximadamente 70% das espécies de peixes dos mares estão submetidos a uma exploração não sustentável. “Segundo um relatório da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) divulgado no início de 2011, dos 23 estoques mundiais de atum, a maior parte (mais de 60%) já foi totalmente explorada, alguns estão superexplorados ou esgotados (35%), e só um pouco (cerca de 5%) parece estar subaproveitado” (https://super.abril.com.br/ciencia/pesca-predatoria).

A chamada pesca predatória envolve vários procedimentos condenáveis, tais como: a) uso de explosivos; b) uso de redes de grande extensão; c) realização em épocas proibidas e de reprodução e d) captura de animais considerados em risco de extinção. A utilização de redes de arrasto, em especial, implica na captura de filhotes, espécies indesejadas e mesmo vegetação marinha. O potencial de desorganização dos ecossistemas é enorme.

Paralelamente à pesca marinha, aumenta significativamente a produção de peixe em cativeiro. A qualidade desse tipo de peixe tem sido posta em xeque. Crescem as constatações de altas concentrações de substâncias químicas tóxicas em decorrência das rações utilizadas, inclusive com a adição de antibióticos (é a velha lógica de produzir de forma mais rápida possível com o menor custo).

Em 2012, a FAO registrou que metade dos peixes consumidos no planeta não eram pescados nos mares e oceanos. Em breve, mantida a tendência, os peixes derivados da aquicultura serão majoritários nos pratos dos consumidores.

O caso da tilápia, peixe nativo da África, é sintomático. Sua produção global passou de 1,5 milhões de toneladas em 2003 para 3,2 milhões de toneladas em 2010. No Brasil, responde por mais de 60% do cultivo de pescados em viveiro. Mantidas, em boa parte, em ambiente natural dentro de tanques-rede no meio de lagos e rios concorrem para a deterioração da qualidade das águas e à disseminação de parasitas. Observa-se um uso crescente de hormônios de reversão sexual durante os primeiros 20 dias de vida. Essa prática transforma a maior parte da população de peixes em machos com crescimento quase três vezes maior do que as fêmeas.

Existe uma crescente preocupação com a contaminação dos peixes por mercúrio. Esse elemento tende a se acumular no organismo e produz vários efeitos nocivos. Decorre daí uma recomendação, cada mais intensa, de redução do consumo de peixes (um alimento, a princípio, bastante saudável).


*Aldemario Araujo Castro

Professor
Advogado
Mestre em Direito
Procurador da Fazenda Nacional