Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

segunda-feira, 5 de março de 2018

Uma história banal: o secretário apertou o governador — “ou ela ou eu” — e a subsecretária foi demitida

Segunda, 5 de março de 2018

Perguntam-me por que a subsecretária de Publicidade, Thiara Zavaglia, foi demitida pelo governador Rodrigo Rollemberg e o que isso significa para o governo. Acho natural que perguntem: Thiara já trabalhava com Rollemberg no Senado, foi peça importante do núcleo de comunicação na campanha eleitoral que coordenei e comandava a publicidade do governo desde o início do mandato, quando eu era o responsável pela comunicação. Sua queda, é claro, surpreendeu.

Ninguém espera que os veículos de imprensa contem a história além do mero registro, pois quase todos dependem da verba publicitária do governo e temem a caneta de quem armou a queda de Thiara — o secretário de Comunicação, Paulo Fona. Que, ignorando uma das características do líder, detesta a ideia de ter a seu lado alguém mais competente que ele. Outra característica de um líder, aliás, é não gritar histericamente com subordinados, ofendê-los e constrangê-los com frases como “não perguntei sua opinião”.
Os motivos para a demissão da subsecretária de Publicidade são claros: o secretário tem agora o campo totalmente livre para fazer o que quiser na área, pode ajudar os amigos e executar, sem críticas que ferem sua extrema vaidade e afloram sua forte insegurança, as práticas e métodos da velha e superada comunicação governamental da qual é adepto.
Thiara, por diversas vezes, impediu que o secretário fizesse o que a lei e as normas não permitem e mostrou os erros de comunicação e de técnica publicitária que seriam cometidos (e muitos foram) caso prevalecessem as ideias dele. Um dos últimos choques entre eles foi porque os executores do contrato de publicidade, corretamente, notificaram uma das agências contratadas por não estar pagando em dia seus fornecedores. Como se sabe, o secretário, antes de assumir o cargo, trabalhava nessa agência — o que deveria impedi-lo de exercer a função na secretaria contratante.
Embora tivesse de se submeter às ordens do chefe, Thiara era a derradeira resistência no governo à velha comunicação, irmã da velha política. Era a última integrante da equipe que montei, em 2015, com a disposição e talento para superar os antigos e ultrapassados manuais da comunicação governamental e executar políticas e ações sintonizadas com os novos tempos que vivemos e com a — hoje se sabe enganosa — promessa do governador de ter atitude para mudar. Essa equipe foi mantida pelos  antecessores do secretário, mesmo tendo diferenças de opiniões com o último deles, mas desmontada desde que ele assumiu o posto. Apenas Thiara havia ficado, talvez pela ligação antiga com Rollemberg, pela confiança que ele tinha nela ou porque o secretário pouco entende de publicidade. Mas desde os primeiros momentos no cargo já se armava a queda dela.
O governador Rodrigo Rollemberg durante muitos meses viu a movimentação do secretário para derrubar a subsecretária e nada fez para impedir o desgaste: nem mediava a situação nem ousava, no limite, demitir um dos dois. Parecia acreditar piamente nas mentiras, fofocas e versões que o secretário lhe levava para queimar a subsecretária, mas mesmo assim a mantinha no cargo. Foi preciso muita insistência de alguns amigos que conhecem bem o modo de agir do secretário para que Rollemberg finalmente ouvisse o que Thiara tinha a dizer. Ouviu há duas semanas e até pareceu entender a situação artificial criada pelo secretário, mas acabou cedendo ao ultimato “ela ou eu”.