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(Millôr Fernandes)

segunda-feira, 20 de junho de 2022

Realidade Brasileira —"Ciclo da Pobreza", a nova música de Mano Red aborda o universo problemático do trabalho infantil no Brasil

Segunda, 20 de junho de 2022

Na obra, Mano Red ressalta o impacto negativo que a desigualdade social causa na vida das crianças, as privações e esperanças que vão aos poucos sendo destruídas pela realidade. Foto: Divulgação

Fonte: Portal Contexto Exato
Redação Com Agência — 20/06/2022

Mano Red, rapper campineiro, lançou no dia 10 de junho, o single Ciclo da Pobreza, durante as atividades da Semana de Conscientização contra o Trabalho Infantil, promovida pelo Juizado Especial da Infância e do Adolescente, em São José dos Campos. A obra foi produzida por Eliezer Oliveira, produtor musical, no Atman Audio Studio, em Campinas.

Durante a apresentação, que contou com participação dos artistas TorOgum, Punka e Ciça Baradelo, os músicos foram aplaudidos de pé por juízes, desembargadores, assistentes sociais e representantes poder público que estavam presentes no Auditório do CEFE - Centro de Formação do Educador, em São José dos Campos.

Na obra, Mano Red ressalta o impacto negativo que a desigualdade social causa na vida das crianças, as privações e esperanças que vão aos poucos sendo destruídas pela realidade.


“Eu, sendo um menino de periferia, sei muito bem como a falta de comida e condições financeiras acaba empurrando as crianças para o trabalho, mas eu também sei que isto dificulta muito nossa capacidade de estudar, brincar e se desenvolver como toda criança merece. Por isso, acho importante a gente trazer esta discussão para todos os lugares e fico muito feliz em levar minha mensagem neste evento tão importante e ser ouvido por pessoas que fazem parte da força de transformação desta realidade”, considera Mano Red.

MANO RED

Mano Red, que tem como nome de batismo Bruno Lopes, nasceu e cresceu na periferia de São Paulo, mudando-se para Campinas aos 18 anos. Órfão do pai, e abandonado pela mãe, Mano Red foi criado, com muito amor pelos avós, o que defende que lhe garantiu conhecer bons valores e ter contato com as virtudes dos avós paternos, que passou a ter como seus pais.

Começou a cantar em 2010 e, no mesmo ano fez sua primeira apresentação profissional.

Em 2021, lançou seu primeiro single na plataforma Spotify, com críticas à condução do governo quanto à Pandemia do novo Coronavírus. Em seguida, lançou, no mesmo ano, seu segundo single, desta vez, prestando uma homenagem ao pai, ao lembrar da história de sua infância.

Depois de estrear em uma das mais importantes plataformas de música do mundo, Mano Red continua muito focado em seus projetos e ainda para o ano de 2022 pretende gravar um vídeo clipe, continuar sua agenda de shows, investindo nos lançamentos em plataformas de streaming e lançar sua marca de roupas, com inspiração Street Wear.


Atman | Eliezer Oliveira

Atuando como produtor do novo single de Mano Red, Eliezer Oliveira já tem 25 anos de carreira, e integrou bandas independentes dos mais diversos estilos, como hard rock, rock progressivo, MPB e black music. Eliezer também trabalhou por sete anos com produção de áudio, tanto musical como para cinema.

Com formação em algumas das melhores escolas técnicas de áudio do Brasil, como a Escola de Música & Tecnologia, Academia Internacional de Cinema, Colégio de Aprendizagem Moderna (CAM), Instituto de Áudio e Vídeo (IAV), em 2021 inaugurou o Atman Audio Stúdio, local onde atua na produção de obras com artistas de diversas vertentes musicais.

Perfis Streaming: linktr.ee/manored

LETRA

O Ciclo da pobreza
Parte I

Mais um pequeno inocente com bolhas na mão
Seus melhores amigos a enxada e o facão
Sem sorriso no rosto, nem esperança
A cana ceifada, como sua infância
Pique-esconde, amarelinha não existiam
Num sol escaldante, seu futuro derretia
A arte de um rei negro, levou esperança
Celebrou o gol 1000, lembrando as crianças
A lei do ventre livre só existiu ali

Para abrir as portas pro trabalhador mirim
Se um futuro melhor era a intenção
Por que só vejo crianças com foice na mão?
Dilacerando a infância na plantação
E o filho do patrão com livro na mão!
Trabalhou a infância inteira, sem poder estudar
Gerou um pai analfabeto, Joãozinho pra criar
Sem medo, sem bagagem se mudou pra cidade

Atrás do sonho de uma oportunidade
Mas sem estudo, não conseguiu emprego
Ali começou seu maior pesadelo
Sem ter o que comer teve que apelar
Pôs Joãozinho no semáforo pra trabalhar
Os carros passavam e ninguém percebia

O ciclo da pobreza ali se iniciaria
Direito de aprender
Evoluir e de crescer
Pra quebrar o ciclo da pobreza
A solução só vem com educação

Parte II

O carro reflete um rosto infantil no sinal
Uma mão pequena e trêmula implora um real
De dia, o martírio é o sol quente e a poluição
A Noite vem e traz fome e solidão
Olhando carro, limpando vidro no sinal
O dia inteiro sem comer, já tá passando mal
Sem Netflix, game ou Youtube na TV
Só a família triste, sem ter o que comer
A Elite inventou um mito pra não ajudar
"Que trabalho infantil é melhor que roubar"
Apoiando, isentando quem os oprime
Como se exploração de criança não fosse um crime
80% da massa carcerária do Brasil,
Foram vítimas do trabalho infantil
Na rua não tem convite pra estudar
Mas todo dia chamam ele pra traficar
A sociedade finge não entender

Excluir ou esconder, não vai resolver
Força bruta e maquiagem não é a solução
exploração só acaba com acesso à educação
É só mais um pivete de Chico Buarque
Que não conheceu a infância de verdade
Já adulto, de mãos vazias chega em casa outra vez
E, sua mulher anuncia a gravidez.
Direito de aprender

Evoluir e de crescer
Pra quebrar o ciclo da pobreza
A solução só vem com educação

Parte III

O ciclo da pobreza destrói minha família
Isso acontece todo dia aqui na periferia
Igual meu pai e meu avô eu sou explorada
Pra elite sou lucro, mão de obra barata
Se a criança trabalhando fosse um privilégio
O filho do rico estaria no sinal, não no colégio
Saudades do pai João, dói o meu coração
Comendo restos dormindo aqui neste porão
Depois de cuidar do seu filho e arrumar a casa
De madrugada, pelo patrão, serei abusada
Tortura, espancamento, humilhação
Dois dias sem comer quando eu não limpei o chão
Um dia a infância floresceu dentro de mim
Deixei a louça de lado, fui brincar no jardim
Por um momento senti o que é liberdade
Pude explorar a minha criatividade
Fingi que era inocente e tinha minha virgindade
Sonhei que era Alice no país das maravilhas
E não precisava trabalhar em troca de comida
Um sonho onde eu podia brincar
Onde nenhuma criança era obrigada a trabalhar
Onde o meu corpo não seria objeto para alguém usar
Mas é apenas imaginação da minha cabeça
Porque na vida real eu vivo o ciclo da pobreza

Direito de aprender

Evoluir e de crescer
Pra quebrar o ciclo da pobreza
A solução…
Educação