Quarta, 19 de abril de 2023
Do Blog Brasília, por Chico Sant'Anna
Texto de Chico Sant’Anna. Ilustração de Fernando Lopes.
Estava a caminhar, quando zumbidos me chamaram a atenção. Pareciam enxames de abelhas por todos os lados. Olhei aos céus e me deparei com um trânsito maluco de veículos voadores, drones, transportando cargas e pessoas, a maioria com uma única pessoa. O trânsito terrestre já não mais andava e o aéreo era uma loucura.
Me chamou, ainda, a atenção o fato de que o céu não era mais azul, aquele mar de Brasília, como dizia Lucio Costa. Uma grossa camada marrom, composta de dióxido de carbono (CO²) metano (CH4) e óxido nitroso (N²O), emanados do intenso trânsito de veículos, pairava no ar e impedia até de se ver a luz do Sol.
No horizonte, um grande paredão de arranha-céus cercava a área tombada do Plano Piloto. Brasília estava sitiada por concreto e vidro, não havia mais verde. Nem mesmo a Serrinha do Paranoá resistiu. A centena de nascentes que lá brotavam deram lugar a uma nova região administrativa, cheia de concreto e asfalto e duas novas pontes já engarrafadas.
Mesmo na área tombada, áreas verdes haviam desaparecido.