Domingo, 15 de setembro de 2024
Maioria das agressões aconteceu no transporte público ou no deslocamento a pé - Agência Brasília/Divulgação
42% vivenciaram olhares insistentes e cantadas, 36% foram assaltadas e 23% sofreram assédio sexual
Redação
Brasil de Fato | Brasília (DF)
A maioria (74%) das mulheres já sofreu algum tipo de violência durante o deslocamento pelas ruas de Brasília. A capital ficou atrás apenas de São Paulo, com 76%, na pesquisa realizada pelos Institutos Patrícia Galvão e Locomotiva, com apoio da Uber.
O relatório mostra que a maioria das agressões aconteceu durante os deslocamentos no transporte público ou a pé. As principais violências sofridas foram: olhares insistentes e cantadas (42%), assalto/furto ou sequestro relâmpago (36%), importunação/assédio sexual (23%), preconceito ou discriminação por alguma característica sua, exceto raça (19%), agressão física (8%), e estupro (7%). 13% das mulheres negras entrevistadas relataram já ter sofrido racismo.
Mais da metade (53%) das mulheres que participaram da pesquisa em Brasília utilizam o ônibus como principal meio de transporte. 45% se deslocam com carro de aplicativo, 43% com carro particular e 41% a pé.
Apenas 11% consideraram as ruas de Brasília muito seguras. 63% consideram um pouco seguras e 26% avaliam que não são seguras.
A pesquisa mostra que as mulheres percebem que a sensação de insegurança está ligada à ausência de políticas públicas que poderiam promover um deslocamento mais seguro.
Em Brasília, elas avaliam que os três principais fatores que contribuem para o medo de transitar pelas ruas da capital são: ausência de policiamento (32%), falhas no transporte público (13%) e falta de respeito/ agressividade das pessoas (11%).
Panorama geral
Em todo Brasil, apenas 31% das mulheres sentem-se muito seguras perto de casa. A perceção de insegurança é maior entre moradoras da periferia, aponta a pesquisa.
Segundo os dados do relatório, 97% das mulheres deslocam-se com medo de que algo aconteça, sendo que 80% declaram sentir muito medo. Assalto (66%), sequestro (66%), estupro (66%) e assédio (58%) são os principais temores da maioria das mulheres durante seus deslocamentos pelas ruas do país. 34% das mulheres negras têm muito medo de sofrer racismo.
O documento também mostra que mulheres negras e pobres usam mais ônibus e andam a pé, enquanto mulheres ricas usam mais carro particular.
30% das mulheres que andam de ônibus são negras e 66% são das classes C, D e E. Das que utilizam carro particular como meio de transporte, 36% são brancas, 19% são negras, 42% fazem parte da classe AB, 24% da C e 3% da DE.
7 em cada 10 mulheres relataram à pesquisa que já viveram uma situação de violência nos deslocamentos. A sensação de segurança no transporte por aplicativo é maior que no transporte público. Metade considera carro por aplicativo muito seguro.
A maioria das mulheres (74%) não reagiu quando passou por alguma situação de violência enquanto se deslocava. 72% não registraram queixa por meio do canal de denúncia do meio de transporte e 66% não registraram queixa na polícia.
Metade das entrevistadas relataram que tiveram um abalo psicológico após a situação de agressão e 72% mudaram hábitos e comportamentos, como evitar sair à noite ou com certos tipos de roupa, após passar pela violência durante o deslocamento.
Trocar o trajeto por um mais longo, porém mais seguro, e fazer parte do deslocamento que faria de ônibus ou a pé por carro de transporte de aplicativo também foram estratégias utilizadas por mulheres que sofreram agressões.
Para realizar a pesquisa, os institutos ouviram, em questionário online, 4.001 mulheres de 18 anos ou mais de todo o país que saem de casa pelo menos uma vez por semana. O levantamento foi feito entre 21 de junho e 11 de julho. A margem de erro é de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos.
Edição: Flávia Quirino