Sexta, 6 de abril de 2012
Da Agência Brasil
Carolina Gonçalves, repórter
Apesar do volume de empréstimos desembolsados para práticas
sustentáveis no campo ter dobrado na safra agrícola 2011/2012, os níveis
de acesso às chamadas linhas verdes ainda são irrisórios. A conclusão é
do estudo Financiamento Agroambiental, lançado pelo Instituto
Socioambiental (ISA), que aponta gargalos na operacionalização desse
incentivo econômico, a partir de entrevistas com 87 produtores e três
agentes financeiros, desde 2010.
De acordo com a engenheira agrônoma Léa Vaz Cardoso, assessora do ISA, o
financiamento impõe desafios tecnológicos ao produtor brasileiro. O
carro-chefe dessas linhas de crédito é o Programa para a Redução de
Emissão de Gases de Efeito Estufa na Agricultura (ABC), lançado em 2010,
que propõe modelos mistos de produção.
“As linhas financiam tecnologias um pouco mais complexas que as
tradicionais, são sistemas diversificados. Quando você compara uma
lavoura de soja em monocultivo, o pacote tecnológico é completamente
conhecido. Quando coloca um sistema integrado como
lavoura-pecuária-floresta, você passa a ter três produtos numa mesma
área, com diferentes prazos e ciclos”, disse.
Um outro ponto, segundo a agrônoma, é que os agricultores não conhecem
essas linhas diferenciadas. “O produtor até pode ter intenção de, por
exemplo, recuperar Áreas de Proteção Permanente (APP), mas ainda não faz
por questões financeiras. E ainda tem a indefinição de decisões sobre o
novo Código Florestal e a burocracia ambiental, que assustam esse
produtor”, disse a assessora.
A solução, na opinião de Léa Vaz Cardoso, está em investimentos em
capacitação e na divulgação e promoção de tecnologias. A agrônoma ainda
defende que os benefícios “verdes” sejam ampliados dentro de linhas de
crédito tradicionais, incluindo uma espécie de “reconhecimento e
premiação” aos agricultores que conservam ou recuperam APPs, por
exemplo.
“O agricultor incorre em um custo ao preservar essas áreas. A gente
está com uma legislação que está preste a mudar, mas o comando-controle
sozinho não é suficiente. O instrumento econômico é complementar à
legislação. E não há mal algum, na nossa visão, ajudar o agente
econômico a cumprir a lei”, disse Léa Cardoso.
Ainda faltam três meses para o fim do ano agrícola (2011/2012), mas o
Banco do Brasil já contabiliza R$ 430 milhões desembolsados. Em toda a
safra anterior, o banco desembolsou pouco mais de R$ 230 milhões. A
agrônoma do ISA considera que o incremento é resultado de uma ação maior
do agente financeiro e do governo, mas alerta que o valor “ainda é
marginal em relação aos outros créditos. Estamos falando em quase R$ 500
milhões para linhas sustentáveis, sendo que já foram emprestados mais
de R$ 70 bilhões para outras práticas, ou seja, menos de 1% na conta”.
O diretor de Agronegócios do Banco do Brasil, Clênio Severio Teribele,
não acredita na insegurança dos produtores brasileiros. “Basta verificar
o crescimento da produtividade no Brasil, que a gente atribui a
competência dos nossos agropecuaristas”, disse. Mas o executivo do banco
admite o desconhecimento do crédito e a falta de capacitação para a
tomada do financiamento.
“O que a gente percebe é que o mercado ainda não conhece essas linhas.
Temos dificuldade na obtenção de bons projetos. A assistência técnica
não chega a todos os locais e precisamos que chegue”, disse Teribele,
acresentando que o banco está investindo em uma rede de parcerias com
cooperativas, agrônomos e técnicos, para o treinamento para elaboração
de projetos. “Temos todos os motivos para acreditar no bom desempenho
dessas linhas”, disse.